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TELEVISÃO
Frio e objetivo, Henning olha para o casal gay
TELMO MARTINO
Colunista da Folha
²
A Mulher Traço, quem diria,
nem ao menos é simpatizante.
Deixou com Hermano Henning e
sua fria objetividade a oportunidade de elevar o Ibope do "SBT
Repórter". Afinal de contas, as minorias, além numerosas, sempre
prestigiam com sua curiosidade
programas de televisão que fazem
delas o seu assunto.
Com frieza histórica, Hermano
Henning lembrou que o primeiro
casamento gay no Brasil aconteceu em 1992. O divertido é que foi
com uma timidez já anacrônica.
Os noivos usavam fraque e uma
menina transportava as alianças
numa almofada. No bolo, dois
noivinhos muito formais enfeitavam a cúpula. No Rio de Janeiro, é
claro. Uma cidade sempre surpreendida como imperial em todos os seus hábitos.
Pobre Hermano Henning. O casamento gay que lhe pediram para
observar não tinha nada dessa
dignidade sisuda. Ademir, a noiva, só não foi operada ainda. Em
tudo mais, inclusive no narizinho
que um bisturi diminuiu e no busto que aumentou, é mulher.
Por questão de técnica, o repórter Henning abandona o Ademir
que já é Suely e vai visitar Sidnéia
que cortou os peitos e virou homem apaixonado. Vai casar com
Lila que, só por ser discreta, não
ostenta feminilidade tão alardeante como a do Ademir. Até que
poderia. Sidnéia, o noivo, só usa
cuecas. Mostra um samba- canção
até cobiçável.
É claro que uma quase mulher
exuberante como Ademir viveu
um pouco de folhetim. Nasceu em
Campinas, fugiu para encontrar
uma segunda mãe. Bem-feito. Está próspera em seu salão de beleza
e no chá de cozinha ganhou tudo o
que queria. Inclusive um pênis de
chocolate, que logo mordiscou.
Uma pena que a família do noivo Rogério ache tudo muito estranho. Mas ele tem esperanças de
que a mãe vá ao casamento. Ele é
um rapaz tão discreto que vestiu o
colete pelo avesso. Achava que todo aquele brilho do tecido fosse
forro. Na realidade muito banal,
Suely disse que aquele era o dia
mais feliz da vida dela. O padre
pertencia à Igreja do Manto Sagrado. Será que já tem rede de televisão? Quando tudo acabou,
noivo e noiva partiram na mais
longa das limusines brancas. Isso é
que é gala gay.
O noivo Sidnéia é muito esforçado. Além de tomar hormônios
masculinos, faz a barba todo dia
para que, no futuro, venha a ter
barba. Quer fazer prótese e ter um
pênis que não seja de chocolate.
Sidnéia, aliás, Fernando, casou
com Lila. Quem oficializou foi
uma mãe-de-santo.
Duvida-se que Henning tenha
sido um Homem Traço. Os telefones do Brasil, inclusive os celulares, quase explodiram com os gritinhos de "mudem pro SBT!".
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