São Paulo, segunda, 26 de outubro de 1998

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TELEVISÃO
Frio e objetivo, Henning olha para o casal gay

TELMO MARTINO

Colunista da Folha
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A Mulher Traço, quem diria, nem ao menos é simpatizante. Deixou com Hermano Henning e sua fria objetividade a oportunidade de elevar o Ibope do "SBT Repórter". Afinal de contas, as minorias, além numerosas, sempre prestigiam com sua curiosidade programas de televisão que fazem delas o seu assunto.
Com frieza histórica, Hermano Henning lembrou que o primeiro casamento gay no Brasil aconteceu em 1992. O divertido é que foi com uma timidez já anacrônica. Os noivos usavam fraque e uma menina transportava as alianças numa almofada. No bolo, dois noivinhos muito formais enfeitavam a cúpula. No Rio de Janeiro, é claro. Uma cidade sempre surpreendida como imperial em todos os seus hábitos.
Pobre Hermano Henning. O casamento gay que lhe pediram para observar não tinha nada dessa dignidade sisuda. Ademir, a noiva, só não foi operada ainda. Em tudo mais, inclusive no narizinho que um bisturi diminuiu e no busto que aumentou, é mulher.
Por questão de técnica, o repórter Henning abandona o Ademir que já é Suely e vai visitar Sidnéia que cortou os peitos e virou homem apaixonado. Vai casar com Lila que, só por ser discreta, não ostenta feminilidade tão alardeante como a do Ademir. Até que poderia. Sidnéia, o noivo, só usa cuecas. Mostra um samba- canção até cobiçável.
É claro que uma quase mulher exuberante como Ademir viveu um pouco de folhetim. Nasceu em Campinas, fugiu para encontrar uma segunda mãe. Bem-feito. Está próspera em seu salão de beleza e no chá de cozinha ganhou tudo o que queria. Inclusive um pênis de chocolate, que logo mordiscou.
Uma pena que a família do noivo Rogério ache tudo muito estranho. Mas ele tem esperanças de que a mãe vá ao casamento. Ele é um rapaz tão discreto que vestiu o colete pelo avesso. Achava que todo aquele brilho do tecido fosse forro. Na realidade muito banal, Suely disse que aquele era o dia mais feliz da vida dela. O padre pertencia à Igreja do Manto Sagrado. Será que já tem rede de televisão? Quando tudo acabou, noivo e noiva partiram na mais longa das limusines brancas. Isso é que é gala gay.
O noivo Sidnéia é muito esforçado. Além de tomar hormônios masculinos, faz a barba todo dia para que, no futuro, venha a ter barba. Quer fazer prótese e ter um pênis que não seja de chocolate. Sidnéia, aliás, Fernando, casou com Lila. Quem oficializou foi uma mãe-de-santo.
Duvida-se que Henning tenha sido um Homem Traço. Os telefones do Brasil, inclusive os celulares, quase explodiram com os gritinhos de "mudem pro SBT!".



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