São Paulo, segunda, 26 de outubro de 1998

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TV
Em entrevista à Folha, o presidente do Grupo Bloch afirma que Lucas de Oliveira não cumpriu compromissos
Manchete não está à venda, diz Kapeller

da Sucursal do Rio

O presidente do Grupo Bloch, Pedro Jack Kapeller, afirma que o empresário Hamilton Lucas de Oliveira, do grupo IBF -que disputa na Justiça o controle da Rede Manchete-, não cumpriu os compromissos assumidos no Protocolo de Intenção, pelo qual receberia parte das ações da emissora.
Em entrevista à Folha, concedida por fax, Kapeller diz que a emissora não está à venda e que Oliveira deixou de pagar os funcionários da rede por mais de seis meses. Segundo Kapeller, impostos e taxas também não teriam sido pagos.

Folha - Hamilton Lucas de Oliveira sustenta que não tem apenas 49% da Manchete. Qual é, segundo o Grupo Bloch, a real participação dele na companhia?
Pedro Jack Kapeller -
A questão está sub judice. Não nos cabe decidir se ele tem ou não direito. A Justiça será soberana para fazê-lo. Ele não honrou nenhum dos compromissos assumidos no Protocolo de Intenção, pelo qual a Rede Manchete venderia parte de suas ações ao IBF. Daí que a mesma Justiça tomou-lhe a gestão, devolvendo-a ao Grupo Bloch.
O sr. Hamilton não apenas deixou de pagar as cotas estabelecidas no Protocolo como não pagou funcionários, fornecedores, impostos e taxas. O equipamento foi sucateado, a programação reduzida a zero. Foi um descalabro.
Ao reassumirmos, em três meses regularizamos o pagamento da folha e voltamos a operar dentro de nossa tradicional qualidade. Os especialistas em mercado, então, associaram o sr. Hamilton ao esquema de PC Farias.
Coincidência ou não, o fato é que o Protocolo de Intenção foi firmado quando estava em processamento a compra de uma rede de TV pelo esquema montado para garantir o domínio de determinado grupo político na vida nacional.
E o desmoronamento desse processo deu-se exatamente quando explodiram as primeiras denúncias, mais tarde comprovadas, de que PC Farias estaria montando um esquema de poder na vida nacional. Basta comparar as datas.
Folha - Lucas de Oliveira diz que, quando comprou a Manchete em 93, a dívida declarada era de US$ 120 milhões e, quando começou a administrar a TV, teria descoberto que a dívida era superior, US$ 240 milhões. Ele atribui a essa diferença a causa de sua ruína e a perda do comando da rede. Como o grupo vê a afirmação?
Kapeller -
Não é verdade. Durante as negociações, ele teve acesso à nossa contabilidade e por conta própria promoveu auditorias com equipes de sua confiança. O que ele chama de "sua ruína" nada mais foi do que o desmoronamento do esquema de PC Farias.
Faltou-lhe capital de giro para empreendimentos do IBF no setor da comunicação, no patrocínio de clubes esportivos e em outras atividades por ele assumidas e que experimentaram iguais fracassos.
Folha - Lucas de Oliveira afirma que não tem recebido sua participação nos lucros da Manchete. Diz não receber direitos de novelas vendidas no exterior, por exemplo, e que a Manchete sonega impostos nessa área para não pagá-lo, nem a atores e autores. É verdade?
Kapeller -
Não procede. A questão levantada por ele (participação nos lucros e prejuízos) está sub judice. Quanto à segunda parte da pergunta, a Manchete começou a sofrer os efeitos da crise mundial a partir do final de agosto último, quando a situação internacional tornou-se mais aguda, com economias nacionais desabando e com a ameaça de o problema atingir fundamente a economia brasileira.
A retração dos bancos, a elevação dos juros, a falta de estímulos no comércio e na indústria provocaram uma retração que alguns admitem ser uma recessão. Trata-se de uma crise que não é exclusiva do Grupo Bloch. Devido ao caos que herdamos da gestão do sr. Hamilton, ficamos inicialmente mais vulneráveis do que outras empresas do setor.
Folha - O sr. afirma que a emissora não está à venda, mas procura parceiros. Como e quais são os esforços para superar a crise?
Kapeller -
A Manchete não está à venda -não poderia estar, já que permanece sub judice. Estamos procurando parcerias, o que não significa uma venda. São dois institutos jurídicos diferentes.
Ressalte-se que parceria não é uma invenção do Grupo Bloch, mas uma solução saudável e tecnicamente viável, cuja iniciativa partiu dos bancos nacionais que adotaram esse procedimento tanto na captação de recursos externos como na fusão entre eles.
Para superar a crise, estamos cortando despesas, fazendo o que todas as empresas fazem em idêntica situação. Procuramos alongar o perfil de nossas dívidas e obter financiamentos para regularizar o pagamento da folha, que é a nossa principal preocupação.
Em anos de atividades, o Grupo Bloch nunca atrasou o pagamento de seus funcionários. Adolpho Bloch, nos primeiros tempos da gráfica, vendia seu carro às sextas-feiras para pagar os operários no sábado. Esse exemplo, ampliado em valores bem mais altos, foi repetido diversas vezes ao longo do tempo. Atualmente, o pagamento dos salários dos funcionários do Grupo Bloch e da Rede Manchete está em dia.
No que se refere ao mês de setembro passado, está havendo um atraso, que ainda não atingiu a segunda quinzena, que será regularizado em curto espaço de tempo.



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