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TV
Em entrevista à Folha, o presidente do Grupo Bloch afirma que Lucas de Oliveira não cumpriu compromissos
Manchete não está à venda, diz Kapeller
da Sucursal do Rio
O presidente do Grupo Bloch,
Pedro Jack Kapeller, afirma que o
empresário Hamilton Lucas de
Oliveira, do grupo IBF -que disputa na Justiça o controle da Rede
Manchete-, não cumpriu os
compromissos assumidos no Protocolo de Intenção, pelo qual receberia parte das ações da emissora.
Em entrevista à Folha, concedida
por fax, Kapeller diz que a emissora não está à venda e que Oliveira
deixou de pagar os funcionários da
rede por mais de seis meses. Segundo Kapeller, impostos e taxas
também não teriam sido pagos.
Folha - Hamilton Lucas de Oliveira sustenta que não tem apenas
49% da Manchete. Qual é, segundo o Grupo Bloch, a real participação dele na companhia?
Pedro Jack Kapeller - A questão
está sub judice. Não nos cabe decidir se ele tem ou não direito. A Justiça será soberana para fazê-lo. Ele
não honrou nenhum dos compromissos assumidos no Protocolo de
Intenção, pelo qual a Rede Manchete venderia parte de suas ações
ao IBF. Daí que a mesma Justiça tomou-lhe a gestão, devolvendo-a ao
Grupo Bloch.
O sr. Hamilton não apenas deixou de pagar as cotas estabelecidas
no Protocolo como não pagou funcionários, fornecedores, impostos
e taxas. O equipamento foi sucateado, a programação reduzida a
zero. Foi um descalabro.
Ao reassumirmos, em três meses
regularizamos o pagamento da folha e voltamos a operar dentro de
nossa tradicional qualidade. Os especialistas em mercado, então, associaram o sr. Hamilton ao esquema de PC Farias.
Coincidência ou não, o fato é que
o Protocolo de Intenção foi firmado quando estava em processamento a compra de uma rede de
TV pelo esquema montado para
garantir o domínio de determinado grupo político na vida nacional.
E o desmoronamento desse processo deu-se exatamente quando
explodiram as primeiras denúncias, mais tarde comprovadas, de
que PC Farias estaria montando
um esquema de poder na vida nacional. Basta comparar as datas.
Folha - Lucas de Oliveira diz que,
quando comprou a Manchete em
93, a dívida declarada era de US$
120 milhões e, quando começou a
administrar a TV, teria descoberto
que a dívida era superior, US$ 240
milhões. Ele atribui a essa diferença a causa de sua ruína e a perda
do comando da rede. Como o grupo vê a afirmação?
Kapeller - Não é verdade. Durante as negociações, ele teve acesso à
nossa contabilidade e por conta
própria promoveu auditorias com
equipes de sua confiança. O que ele
chama de "sua ruína" nada mais
foi do que o desmoronamento do
esquema de PC Farias.
Faltou-lhe capital de giro para
empreendimentos do IBF no setor
da comunicação, no patrocínio de
clubes esportivos e em outras atividades por ele assumidas e que
experimentaram iguais fracassos.
Folha - Lucas de Oliveira afirma
que não tem recebido sua participação nos lucros da Manchete. Diz
não receber direitos de novelas
vendidas no exterior, por exemplo,
e que a Manchete sonega impostos nessa área para não pagá-lo,
nem a atores e autores. É verdade?
Kapeller - Não procede. A questão levantada por ele (participação
nos lucros e prejuízos) está sub judice. Quanto à segunda parte da
pergunta, a Manchete começou a
sofrer os efeitos da crise mundial a
partir do final de agosto último,
quando a situação internacional
tornou-se mais aguda, com economias nacionais desabando e com a
ameaça de o problema atingir fundamente a economia brasileira.
A retração dos bancos, a elevação
dos juros, a falta de estímulos no
comércio e na indústria provocaram uma retração que alguns admitem ser uma recessão. Trata-se
de uma crise que não é exclusiva
do Grupo Bloch. Devido ao caos
que herdamos da gestão do sr. Hamilton, ficamos inicialmente mais
vulneráveis do que outras empresas do setor.
Folha - O sr. afirma que a emissora não está à venda, mas procura
parceiros. Como e quais são os esforços para superar a crise?
Kapeller - A Manchete não está à
venda -não poderia estar, já que
permanece sub judice. Estamos
procurando parcerias, o que não
significa uma venda. São dois institutos jurídicos diferentes.
Ressalte-se que parceria não é
uma invenção do Grupo Bloch,
mas uma solução saudável e tecnicamente viável, cuja iniciativa partiu dos bancos nacionais que adotaram esse procedimento tanto na
captação de recursos externos como na fusão entre eles.
Para superar a crise, estamos
cortando despesas, fazendo o que
todas as empresas fazem em idêntica situação. Procuramos alongar
o perfil de nossas dívidas e obter financiamentos para regularizar o
pagamento da folha, que é a nossa
principal preocupação.
Em anos de atividades, o Grupo
Bloch nunca atrasou o pagamento
de seus funcionários. Adolpho
Bloch, nos primeiros tempos da
gráfica, vendia seu carro às sextas-feiras para pagar os operários no
sábado. Esse exemplo, ampliado
em valores bem mais altos, foi repetido diversas vezes ao longo do
tempo. Atualmente, o pagamento
dos salários dos funcionários do
Grupo Bloch e da Rede Manchete
está em dia.
No que se refere ao mês de setembro passado, está havendo um
atraso, que ainda não atingiu a segunda quinzena, que será regularizado em curto espaço de tempo.
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