São Paulo, segunda, 26 de outubro de 1998

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CINEMA MOSTRA DE SÃO PAULO
Documentário vê homofobia dos EUA

MARIANE MORISAWA
da Redação

Um rapaz bonito acaba de se mudar para a pequena Falls City, Nebraska, atraindo a atenção das meninas. Algumas semanas mais tarde, Tom Nissen e John Lotter, dois dos meninos da cidade, descobrem a verdade sobre o novo morador.
Na festa de Natal na casa de Nissen, eles tiram a roupa do rapaz, revelando que ele, na verdade, é uma mulher. Eles levam Brandon -seu nome real é Teena- para o banheiro e o espancam, depois o sequestram e o estupram.
Brandon presta queixa na polícia, mas o delegado, além de tratá-lo com desprezo, apenas chama Lotter e Nissen para algumas perguntas e os dispensa.
Brandon vai para outra cidadezinha, onde, uma semana depois do estupro, ele, sua colega Lisa e um outro amigo, Philip, são assassinados. Somente o bebê de Lisa, de nove meses de idade, é poupado.
Se fosse ficção, "A História de Brandon Teena" já chocaria. Mas tudo aconteceu no Estado de Nebraska, em 1993. Os assassinos, Tom Nissen e John Lotter, foram presos e julgados. Nissen atualmente tenta apelar de sua condenação à prisão perpétua, enquanto Lotter está no corredor da morte.
Susan Muska e Gréta Ólafsdóttir, diretoras do documentário que é exibido hoje e amanhã na Mostra, falaram à Folha, por telefone, de Nova York.

Folha - Como vocês chegaram à história de Brandon?
Susan Muska -
Lemos uma matéria sobre o assassinato de Brandon chamada "Vestido para Matar". Achamos um título muito estranho, porque, em vez de enfatizar que aquilo que aconteceu era errado, falava sobre a roupa da vítima.
Folha - Apesar de as pessoas se interessarem pela história devido ao fato de Brandon ser uma pessoa sexualmente confusa, o filme é mais sobre a violência em pequenas comunidades, não é?
Gréta Oláfsdóttir -
Certo. Tentamos nos concentrar no crime e no que realmente aconteceu.
Muska - Como o crime não era uma coisa isolada, mas algo que aconteceu devido ao ambiente.
Folha - Vocês conseguiram descobrir quem Brandon era?
Muska -
Não acho que ele mesmo sabia quem ele era. Ele tinha muitas dúvidas, eu acredito que ele ainda tinha um bom caminho a percorrer antes de saber aonde a vida dele levaria. O que tentamos fazer no filme foi mostrar os questionamentos que Brandon fazia, e não rotular Brandon. É fácil dizer Brandon era isso ou aquilo, mas não sabemos e nunca saberemos.
Folha - Por que os homens ficaram tão bravos com o fato de Brandon ser mulher se as garotas não se importaram?
Muska -
Uma coisa que realmente os fez ficar zangados foi o fato de as meninas, mesmo depois de descobrirem que Brandon era mulher, ainda o apoiarem. E Brandon os substituiu, ele ganhava todas as garotas. Eles acharam uma razão para bater nele quando descobriram que ele estava mentindo, enganando as mulheres. Eles usaram isso como desculpa porque acreditaram que a sociedade iria apoiá-los.
Folha - Por que as pessoas ainda tratam a sexualidade como tabu?
Muska -
Nós vivemos em uma cultura puritana. Mas a TV e os filmes mostram pessoas tomando tiros. Você pode ter uma arma, mas não pode fazer sexo.
Folha - São esses tabus sexuais e a aceitação da violência que permitem que esses crimes aconteçam?
Muska -
Sim, é uma combinação mortal.
²
Quando: hoje, às 20h50, no MIS, e amanhã, às 19h, no MIS (leia a programação completa da Mostra no Acontece)


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