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CINEMA MOSTRA DE SÃO PAULO
Documentário vê homofobia dos EUA
MARIANE MORISAWA
da Redação
Um rapaz bonito acaba de se mudar para a pequena Falls City, Nebraska, atraindo a atenção das meninas. Algumas semanas mais tarde, Tom Nissen e John Lotter, dois
dos meninos da cidade, descobrem
a verdade sobre o novo morador.
Na festa de Natal na casa de Nissen, eles tiram a roupa do rapaz,
revelando que ele, na verdade, é
uma mulher. Eles levam Brandon
-seu nome real é Teena- para o
banheiro e o espancam, depois o
sequestram e o estupram.
Brandon presta queixa na polícia, mas o delegado, além de tratá-lo com desprezo, apenas chama
Lotter e Nissen para algumas perguntas e os dispensa.
Brandon vai para outra cidadezinha, onde, uma semana depois do
estupro, ele, sua colega Lisa e um
outro amigo, Philip, são assassinados. Somente o bebê de Lisa, de
nove meses de idade, é poupado.
Se fosse ficção, "A História de
Brandon Teena" já chocaria. Mas
tudo aconteceu no Estado de Nebraska, em 1993. Os assassinos,
Tom Nissen e John Lotter, foram
presos e julgados. Nissen atualmente tenta apelar de sua condenação à prisão perpétua, enquanto
Lotter está no corredor da morte.
Susan Muska e Gréta Ólafsdóttir,
diretoras do documentário que é
exibido hoje e amanhã na Mostra,
falaram à Folha, por telefone, de
Nova York.
Folha - Como vocês chegaram à
história de Brandon?
Susan Muska - Lemos uma matéria sobre o assassinato de Brandon
chamada "Vestido para Matar".
Achamos um título muito estranho, porque, em vez de enfatizar
que aquilo que aconteceu era errado, falava sobre a roupa da vítima.
Folha - Apesar de as pessoas se
interessarem pela história devido
ao fato de Brandon ser uma pessoa
sexualmente confusa, o filme é
mais sobre a violência em pequenas comunidades, não é?
Gréta Oláfsdóttir - Certo. Tentamos nos concentrar no crime e no
que realmente aconteceu.
Muska - Como o crime não era
uma coisa isolada, mas algo que
aconteceu devido ao ambiente.
Folha - Vocês conseguiram descobrir quem Brandon era?
Muska - Não acho que ele mesmo
sabia quem ele era. Ele tinha muitas dúvidas, eu acredito que ele
ainda tinha um bom caminho a
percorrer antes de saber aonde a
vida dele levaria. O que tentamos
fazer no filme foi mostrar os questionamentos que Brandon fazia, e
não rotular Brandon. É fácil dizer
Brandon era isso ou aquilo, mas
não sabemos e nunca saberemos.
Folha - Por que os homens ficaram tão bravos com o fato de Brandon ser mulher se as garotas não
se importaram?
Muska - Uma coisa que realmente os fez ficar zangados foi o fato de
as meninas, mesmo depois de descobrirem que Brandon era mulher,
ainda o apoiarem. E Brandon os
substituiu, ele ganhava todas as garotas. Eles acharam uma razão para bater nele quando descobriram
que ele estava mentindo, enganando as mulheres. Eles usaram isso
como desculpa porque acreditaram que a sociedade iria apoiá-los.
Folha - Por que as pessoas ainda
tratam a sexualidade como tabu?
Muska - Nós vivemos em uma
cultura puritana. Mas a TV e os filmes mostram pessoas tomando tiros. Você pode ter uma arma, mas
não pode fazer sexo.
Folha - São esses tabus sexuais e
a aceitação da violência que permitem que esses crimes aconteçam?
Muska - Sim, é uma combinação
mortal.
²
Quando: hoje, às 20h50, no MIS, e amanhã,
às 19h, no MIS (leia a programação completa
da Mostra no Acontece)
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