|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CINEMA ESTRÉIAS
"Loucos do Alabama" põe Banderas na direção
CLAUDIO CASTILHO
especial para a Folha
em Los Angeles
Enquanto a maioria das crianças tem medo de fantasma, Antonio Banderas temia sua timidez.
Com o passar do tempo, no entanto, o jovem de Málaga (sudeste da Espanha) aprendeu a confrontar esse incômodo sentimento. Acabou se tornando ator depois de assistir o musical "Hair"
no teatro e se fascinar por ele.
"Acho que meu medo veio das
histórias, contadas por minha
mãe, sobre as atrocidades do regime do general Franco em meu
país", lembra. "Cresci com o pavor de fazer qualquer coisa que
pudesse causar controvérsia."
Hoje, aos 39 anos de idade, ele
parece não mais temer possíveis
controvérsias. Depois de se tornar uma das maiores celebridades latinas de Hollywood, resolveu tentar a direção, num filme
estrelado por sua mulher, Melanie Griffith, 42, com quem comanda a produtora Green Moon.
O fato de "Loucos do Alabama", que estréia hoje no Brasil,
não ter convencido crítica e público nos EUA -o filme não chegou a arrecadar US$ 2 milhões
em bilheteria, enquanto "Central
do Brasil", de Walter Salles, faturou quase US$ 6 milhões em solo
americano- nunca preocupou o
protagonista de sucessos como
"A Máscara de Zorro".
A produção de US$ 15 milhões,
financiada pela Columbia Pictures, conta duas histórias paralelas, as quais, segundo Banderas,
se complementam no final.
Uma delas narra episódios da
vida do garoto Peejoe (Lucas
Black), no interior do Alabama
de 1965, em meio ao movimento
pelos direitos civis nos EUA. A
outra conta a odisséia da tia do
menino, Lucille (Melanie), que,
depois de ser muito maltratada
pelo marido, resolve acabar com
a vida dele e rumar para Hollywood, com a cabeça do defunto
guardada em um tupperware.
Durante entrevista à Folha, em
um hotel nova-iorquino, antes de
"Loucos do Alabama" entrar em
cartaz nos EUA, Banderas explicou por que retratar episódios tão
específicos da história norte-americana em sua estréia como
cineasta e falou, entre outros assuntos, do filme sobre a vida de
Ayrton Senna, que ele pretende
protagonizar. Leia a seguir os
principais trechos da entrevista.
Folha - Por que contar duas
histórias num só filme?
Antonio Banderas - Acho que
essas duas histórias se complementam. Em meu país, por exemplo, historicamente sempre existiu a dicotomia de duas Espanhas,
a conservadora e a liberal. Cresci
entre esses dois mundos. Nesses
quase 20 anos morando nos Estados Unidos, descobri que a sociedade americana também está
cheia dessas bipolarizações.
Quando li o script de Mark Childress, eu as identifiquei rapidamente. "Loucos do Alabama"
conta a busca pelo sonho americano e também a experiência de
viver o pesadelo que está por trás
desse sonho.
Folha - Por que escolher para
sua estréia como cineasta um
tema tão particular aos americanos e distante de suas raízes?
Banderas - Simplesmente porque a produtora que tenho com
Melanie recebe, em sua maioria,
projetos escritos por americanos.
Nunca pensei em fazer um filme
bem americano. Foi um acidente.
Folha - Melanie me disse que
esse projeto somente foi aprovado pela Columbia Pictures
por causa de seu nome.
Banderas - Vários produtores
independentes recusaram o projeto. Um dia recebi um telefonema marcando uma reunião com
um executivo da Columbia.
Provavelmente pensaram que,
por ter nossos nomes nele, o filme
não traria risco. Não me importo
se ele vai ou não se transformar
num blockbuster. Eu queria contar essa história e estou satisfeito
com o resultado do filme. Não o
fiz por dinheiro -já tinha a grana
de "Zorro", e de outros filmes em
que atuei, garantida (risos).
Folha - O que o levou a ocupar
a cadeira do diretor?
Banderas - Durante toda minha
carreira como ator, contei histórias imaginadas por outras pessoas. Quando saí da Espanha eu já
pensava em, no futuro, fazer meu
próprio filme. Contar a minha
história. Sabendo desse meu desejo, Melanie me mostrou o projeto de "Loucos do Alabama" cujos direitos ela havia comprado.
Folha - Qual foi a maior surpresa da nova função?
Banderas - A sala de edição. De
repente, me vi cortando cenas que
adorei gravar mas que, realmente,
não fazia sentido deixar no filme.
Além do mais, o processo de edição desse filme foi dificílimo, pelo
fato de ele não seguir uma ordem
de um ponto A para B e pronto.
Folha - E dirigir Melanie?
Banderas - A princípio, temi
que acabasse afetando nossa vida
particular. Mas as longas discussões em casa serviram para que
soubéssemos exatamente o que
queríamos no filme. Quando começamos a filmar, Melanie sabia
tudo sobre sua personagem -e
isso facilitou muito meu trabalho.
Folha - Como anda o projeto
do filme sobre Ayrton Senna?
Banderas - O projeto continua
firme. Michael Mann estava envolvido com o lançamento de
"The Insider", que ele fez com Al
Pacino. Acredito que agora o projeto sai do papel. A idéia é ter
Mann como diretor e nós dois
produzindo. Quero, logicamente,
interpretar o papel de Senna. Vamos torcer para que dê certo.
Texto Anterior: Personagens contestam histórias do livro Próximo Texto: Primeira vez resulta em road movie irregular Índice
|