São Paulo, Sexta-feira, 26 de Novembro de 1999


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CINEMA ESTRÉIAS
"Loucos do Alabama" põe Banderas na direção

CLAUDIO CASTILHO
especial para a Folha

em Los Angeles


Enquanto a maioria das crianças tem medo de fantasma, Antonio Banderas temia sua timidez. Com o passar do tempo, no entanto, o jovem de Málaga (sudeste da Espanha) aprendeu a confrontar esse incômodo sentimento. Acabou se tornando ator depois de assistir o musical "Hair" no teatro e se fascinar por ele.
"Acho que meu medo veio das histórias, contadas por minha mãe, sobre as atrocidades do regime do general Franco em meu país", lembra. "Cresci com o pavor de fazer qualquer coisa que pudesse causar controvérsia."
Hoje, aos 39 anos de idade, ele parece não mais temer possíveis controvérsias. Depois de se tornar uma das maiores celebridades latinas de Hollywood, resolveu tentar a direção, num filme estrelado por sua mulher, Melanie Griffith, 42, com quem comanda a produtora Green Moon.
O fato de "Loucos do Alabama", que estréia hoje no Brasil, não ter convencido crítica e público nos EUA -o filme não chegou a arrecadar US$ 2 milhões em bilheteria, enquanto "Central do Brasil", de Walter Salles, faturou quase US$ 6 milhões em solo americano- nunca preocupou o protagonista de sucessos como "A Máscara de Zorro".
A produção de US$ 15 milhões, financiada pela Columbia Pictures, conta duas histórias paralelas, as quais, segundo Banderas, se complementam no final.
Uma delas narra episódios da vida do garoto Peejoe (Lucas Black), no interior do Alabama de 1965, em meio ao movimento pelos direitos civis nos EUA. A outra conta a odisséia da tia do menino, Lucille (Melanie), que, depois de ser muito maltratada pelo marido, resolve acabar com a vida dele e rumar para Hollywood, com a cabeça do defunto guardada em um tupperware.
Durante entrevista à Folha, em um hotel nova-iorquino, antes de "Loucos do Alabama" entrar em cartaz nos EUA, Banderas explicou por que retratar episódios tão específicos da história norte-americana em sua estréia como cineasta e falou, entre outros assuntos, do filme sobre a vida de Ayrton Senna, que ele pretende protagonizar. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Folha - Por que contar duas histórias num só filme?
Antonio Banderas -
Acho que essas duas histórias se complementam. Em meu país, por exemplo, historicamente sempre existiu a dicotomia de duas Espanhas, a conservadora e a liberal. Cresci entre esses dois mundos. Nesses quase 20 anos morando nos Estados Unidos, descobri que a sociedade americana também está cheia dessas bipolarizações.
Quando li o script de Mark Childress, eu as identifiquei rapidamente. "Loucos do Alabama" conta a busca pelo sonho americano e também a experiência de viver o pesadelo que está por trás desse sonho.

Folha - Por que escolher para sua estréia como cineasta um tema tão particular aos americanos e distante de suas raízes?
Banderas -
Simplesmente porque a produtora que tenho com Melanie recebe, em sua maioria, projetos escritos por americanos. Nunca pensei em fazer um filme bem americano. Foi um acidente.

Folha - Melanie me disse que esse projeto somente foi aprovado pela Columbia Pictures por causa de seu nome.
Banderas -
Vários produtores independentes recusaram o projeto. Um dia recebi um telefonema marcando uma reunião com um executivo da Columbia.
Provavelmente pensaram que, por ter nossos nomes nele, o filme não traria risco. Não me importo se ele vai ou não se transformar num blockbuster. Eu queria contar essa história e estou satisfeito com o resultado do filme. Não o fiz por dinheiro -já tinha a grana de "Zorro", e de outros filmes em que atuei, garantida (risos).

Folha - O que o levou a ocupar a cadeira do diretor?
Banderas -
Durante toda minha carreira como ator, contei histórias imaginadas por outras pessoas. Quando saí da Espanha eu já pensava em, no futuro, fazer meu próprio filme. Contar a minha história. Sabendo desse meu desejo, Melanie me mostrou o projeto de "Loucos do Alabama" cujos direitos ela havia comprado.

Folha - Qual foi a maior surpresa da nova função?
Banderas -
A sala de edição. De repente, me vi cortando cenas que adorei gravar mas que, realmente, não fazia sentido deixar no filme. Além do mais, o processo de edição desse filme foi dificílimo, pelo fato de ele não seguir uma ordem de um ponto A para B e pronto.

Folha - E dirigir Melanie?
Banderas -
A princípio, temi que acabasse afetando nossa vida particular. Mas as longas discussões em casa serviram para que soubéssemos exatamente o que queríamos no filme. Quando começamos a filmar, Melanie sabia tudo sobre sua personagem -e isso facilitou muito meu trabalho.

Folha - Como anda o projeto do filme sobre Ayrton Senna?
Banderas -
O projeto continua firme. Michael Mann estava envolvido com o lançamento de "The Insider", que ele fez com Al Pacino. Acredito que agora o projeto sai do papel. A idéia é ter Mann como diretor e nós dois produzindo. Quero, logicamente, interpretar o papel de Senna. Vamos torcer para que dê certo.


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