São Paulo, Sexta-feira, 26 de Novembro de 1999


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Primeira vez resulta em road movie irregular

da Equipe de Articulistas

"Loucos do Alabama" não atrairia tanta atenção se não fosse dirigido por Antonio Banderas e estrelado por sua mulher, Melanie Griffith.
Afastadas as expectativas, positivas ou negativas, que o nome dos dois astros pode suscitar, sobra um filme simpático, que investe ao mesmo tempo em dois gêneros -o "road movie" cômico e o melodrama social-, com resultados desiguais.
A história, baseada num romance de Mark Childress, é ambientada no início de 1965.
No Alabama, sul dos EUA, Lucille (Melanie Griffith), desmiolada mãe de sete filhos, acaba de matar o marido com veneno de rato e cortar-lhe a cabeça.
Ela deixa as crianças com a avó, faz um pacto de cumplicidade com o sobrinho favorito, Peejoe (Lucas Black), e parte (com a cabeça do marido na bagagem) para a Califórnia, onde pretende ser estrela de cinema e TV.
Como a história é narrada em "off" por Peejoe, de 12 anos, esse início tem o saboroso humor negro de uma fábula infantil.
A narrativa então se divide em duas linhas paralelas. Numa delas, na estrada, Lucille perpetra uma sucessão de barbaridades, movida por uma inocência quase infantil. Esse pólo da ação é o do princípio do prazer.
A ele se contrapõe o do princípio da realidade, dominante no drama de Peejoe, que testemunha a brutalidade racista do xerife local, mas se vê impotente para combatê-la. É um esboço de "romance de formação".
Não deixa de haver aqui uma inversão interessante de expectativas: o personagem adulto (Lucille) move-se por uma lógica infantil, e o pré-adolescente (Peejoe), por uma lógica adulta.
O problema é que Banderas parece não ter encontrado um ponto de equilíbrio entre as duas vertentes. Parecem dois filmes distintos, que só se comunicam entre si quando Lucille telefona para o sobrinho, cada vez de um ponto do país: Nova Orleans, Las Vegas, Los Angeles.
Enquanto mostra a trajetória descabelada de Lucille, o filme tem um frescor, uma malícia e um descaramento que o tornam uma mistura da latinidade subversiva de Pedro Almodóvar com o charme da "new wave" nova-iorquina de 15 anos atrás.
Porém, quando se lembra de ser "sério", Banderas deixa-se esmagar pelo peso de seus graves temas: o racismo e a opressão da mulher. Esses assuntos são tratados com o sentimentalismo demagógico dos mais convencionais melodramas americanos, com direito a cenas de tribunal, catarse e final feliz.
Ainda assim, tapando um pouco os ouvidos para a música melosa e os olhos para os clichês dramáticos, é possível resistir até a emblemática imagem final.
É óbvio que o filme foi concebido, em grande parte, como uma homenagem de Banderas a sua mulher Melanie Griffith, e é com essa chave que podem ser lidas determinadas piadas internas.
Quando chega a Hollywood, Lucille quase recebe um convite para trabalhar num filme de Hitchcock. Ora, a estrela dos dois filmes que Hitchcock havia acabado de lançar -"Os Pássaros" e "Marnie"- tinha sido Tippi Hedren, mãe de Melanie Griffith.
E quando Lucille desfila seu rosário de queixas contra o marido no tribunal, muita gente pensa no ex da atriz, o ator Don Johnson.
(JOSÉ GERALDO COUTO)


Avaliação:    

Filme: Loucos do Alabama Título original: Crazy in Alabama Diretor: Antonio Banderas Produção: EUA, 1999 Com: Melanie Griffith, Lucas Black, David Morse, Rod Steiger Quando: a partir de hoje, nos cines Belas Artes Cândido Portinari, Iguatemi 1, Internacional Guarulhos 13, Market Place 3, Paulista 4, Tamboré 5, UCI Jardim Sul 3 e circuito


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