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ILUSTRADA
"Senhora do Destino" (Globo) mostra lésbicas acordando juntas na cama, seminuas; militantes falam em "avanço"
Gays ficam felizes e frustrados com novela
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
As cenas envolvendo duas lésbicas veiculadas ontem pela novela
"Senhora do Destino" (Globo)
deixou militantes gays felizes com
o "avanço" na abordagem do tema e frustrados com o fato de as
imagens não terem exibido nem
um beijo e de a TV evitar mostrar
casais homossexuais masculinos.
No capítulo de ontem, a médica
Eleonora (Mylla Christie) e a estudante Jenifer (Bárbara Borges) foram mostradas seminuas na cama, numa insinuação de que tiveram a primeira relação sexual.
Antes, haviam dito que sentem
"muita falta" uma da outra e que
vão "descobrir juntas" o que estão
sentindo. Com partes do corpo
cobertas por lençol, Eleonora disse a Jenifer que ela "é ainda mais
bonita quando acorda". "Você está arrependida de ter passado a
noite aqui?" A estudante respondeu estar "assustada".
A novela é de autoria de Aguinaldo Silva, homossexual assumido e um dos fundadores, na década de 70, de "O Lampião", primeiro tablóide militante gay do país.
A trama mostrou a aproximação das duas, que já deram beijo
"selinho" para se cumprimentar,
e o sofrimento com o distanciamento imposto por Jenifer, que
não assumira a opção sexual.
Ontem, ela admitiu seus sentimentos pela amiga, incentivada
pelo próprio pai, o ex-bicheiro
Giovani (José Wilker). "Houve
muita sensibilidade, principalmente no fato de o pai de uma e a
mãe da outra terem incentivado o
encontro. Isso mostra a quem está
em fase de descoberta da homossexualidade que nem sempre a
reação da família é um bicho de
sete cabeças", diz Vange Leonel,
cantora, compositora, escritora e
militante homossexual.
Ela se reuniu com um grupo de
dez amigos e amigas para acompanhar a novela ontem. "Nossa
reação foi ambígua. Ficamos muito contentes com o avanço na
abordagem do tema, mas ainda
frustrados pelo fato de ter de ser
tão sutil, de não poder haver beijo
para que não haja rejeição. Mas é
natural, já que a novela é um programa que reúne a família."
Laura Finocchiaro, cantora,
compositora e militante homossexual, comemora o fato de a Globo, em horário nobre, ter aberto
espaço à questão. "Isso tem mais
impacto do que qualquer parada
[gay]", diz. "É claro que há o machismo de exibir "lesbian chic",
que duas mulheres juntas sustentam uma fantasia masculina. Mas
foi uma iniciativa bacana."
Aguinaldo Silva afirma que não
sabe se a cena foi um "avanço".
Mas diz que o próximo passo na
abordagem do homossexualismo
pela teledramaturgia será também em "Senhora do Destino".
"Acontecerá no final de dezembro, quando Eleonora decidir
adotar uma criança que encontra
abandonada na lixeira do estacionamento do hospital. O tema polêmico que eu queria discutir era
esse: é melhor para uma criança
ficar na rua ou ser criada por duas
mães? Por que os pais biológicos
que simplesmente abandonam
seus filhos na rua continuam com
todos os direitos e não sofrem
qualquer punição?", questiona.
O autor diz acreditar que não
haverá rejeição à cena de ontem
ou aos próximos capítulos da relação das meninas. "Isso nunca
acontece quando existe emoção e
verdade. É isso que as atrizes estão
passando, emoção e verdade. O
público fica sempre tocado."
Em "Mulheres Apaixonadas"
(2003), escrita por Manoel Carlos,
um casal de lésbicas já havia sido
aceito pelos telespectadores e terminou num final feliz, em contraste às homossexuais que tiveram de ser mortas numa explosão, em "Torre de Babel" (98/99).
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