São Paulo, quinta-feira, 26 de novembro de 2009

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ANÁLISE

São Paulo produz novo estilo de funk carioca

O tamborzão pegou a via Dutra e já está criando um subgênero paulistano, que consegue ter ligações com o poder público

HERMANO VIANNA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quando as pessoas falam em globalização geralmente pensam num mundo todo igual.
Sempre encarei a história do hip hop no Brasil como bom exemplo para contestar, ou pelo menos complexificar, a tese da inevitável homogeneização planetária.
O som de Afrika Bambaataa e Grandmaster Flash chegou por aqui nos anos 80 e desenvolveu, em cidades separadas por apenas uma hora de voo, dois estilos musicais supreendentemente diversos: o funk carioca e o rap paulistano.
Suas histórias são ricas, plurais e já modificaram tanto a autoconsciência quanto a imagem externa da cultura brasileira. É sempre necessário enfatizar também a extrema geolocalização urbana da cultura dita global. Em música isso é mais que evidente.
Todo novo estilo é profundamente conectado com uma cidade. House com Chicago, techno com Detroit, trip hop com Bristol, kuduro com Luanda. O hip hop teve origem no Bronx, em Nova York, e se espalhou por outras cidades criando estilos locais. Em Miami, virou miami bass, que, por sua vez, chegou no Rio e deu no funk carioca.

Via Dutra
Agora é a hora de o funk carioca plantar raízes em outros centros urbanos. O tamborzão pegou a via Dutra e já está criando um funk carioca paulistano, conectado com a história recente do rap na cidade. Uma diferença importante na história do hip hop em São Paulo e no Rio foi o diálogo com o poder público.
José Marcelo Zacchi, fundador do Sou da Paz, e Alexandre Youssef, hoje no Studio SP, me chamaram a atenção para um dado crucial: a difusão do rap paulistano aconteceu na prefeitura de Luiza Erundina, com Marilena Chaui na Secretaria de Cultura, colocando rappers para fazer oficinas nas escolas.
No Rio, o poder público ignorou a nova música, tratando-a como inimiga da cidade e da educação.
Dá para sentir algo parecido acontecendo com o nascimento do funk carioca-paulistano. A aproximação da Subprefeitura da Cidade Tiradentes com o pancadão já gerou frutos como o sucesso (83 mil acessos no YouTube) do MC Dedê, dizendo para a meninada "respeitar a mãe, jogar bola e estudar!".
É possível ouvir também -por exemplo, na base de "Está na Mira Safado", do MC Jé Bolado- uma variação (concretista?) do tamborzão, batida que provou que o funk não veio para acabar com o samba, mas, sim, é seu herdeiro eletrônico.
São Paulo é terra de samba, de um samba vitoriosamente moderno, popular e criativo: como a cidade poderia não produzir seu próprio e autêntico estilo de funk carioca?


HERMANO VIANNA é antropólogo, roteirista de TV e coordenador do site OverMundo


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