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ANÁLISE
São Paulo produz novo estilo de funk carioca
O tamborzão pegou a via Dutra e já está criando um subgênero paulistano, que consegue ter ligações com o poder público
HERMANO VIANNA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Quando as pessoas falam em
globalização geralmente pensam num mundo todo igual.
Sempre encarei a história do
hip hop no Brasil como bom
exemplo para contestar, ou pelo menos complexificar, a tese
da inevitável homogeneização planetária.
O som de Afrika Bambaataa e
Grandmaster Flash chegou por
aqui nos anos 80 e desenvolveu,
em cidades separadas por apenas uma hora de voo, dois estilos musicais supreendentemente diversos: o funk carioca e o rap paulistano.
Suas histórias são ricas, plurais e já modificaram tanto a
autoconsciência quanto a imagem externa da cultura brasileira. É sempre necessário enfatizar também a extrema geolocalização urbana da cultura
dita global. Em música isso é mais que evidente.
Todo novo estilo é profundamente conectado com uma cidade. House com Chicago,
techno com Detroit, trip hop
com Bristol, kuduro com Luanda. O hip hop teve origem no
Bronx, em Nova York, e se espalhou por outras cidades
criando estilos locais. Em Miami, virou miami bass, que, por
sua vez, chegou no Rio e deu no
funk carioca.
Via Dutra
Agora é a hora de o funk carioca plantar raízes em outros
centros urbanos. O tamborzão
pegou a via Dutra e já está
criando um funk carioca paulistano, conectado com a história recente do rap na cidade.
Uma diferença importante
na história do hip hop em São
Paulo e no Rio foi o diálogo com o poder público.
José Marcelo Zacchi, fundador do Sou da Paz, e Alexandre
Youssef, hoje no Studio SP, me chamaram a atenção para um dado crucial: a difusão do rap
paulistano aconteceu na prefeitura de Luiza Erundina, com
Marilena Chaui na Secretaria de Cultura, colocando rappers para fazer oficinas nas escolas.
No Rio, o poder público ignorou a nova música, tratando-a
como inimiga da cidade e da educação.
Dá para sentir algo parecido
acontecendo com o nascimento do funk carioca-paulistano.
A aproximação da Subprefeitura da Cidade Tiradentes com o
pancadão já gerou frutos como
o sucesso (83 mil acessos no
YouTube) do MC Dedê, dizendo para a meninada "respeitar a
mãe, jogar bola e estudar!".
É possível ouvir também
-por exemplo, na base de "Está
na Mira Safado", do MC Jé Bolado- uma variação (concretista?) do tamborzão, batida que
provou que o funk não veio para acabar com o samba, mas,
sim, é seu herdeiro eletrônico.
São Paulo é terra de samba,
de um samba vitoriosamente
moderno, popular e criativo:
como a cidade poderia não produzir seu próprio e autêntico
estilo de funk carioca?
HERMANO VIANNA é antropólogo, roteirista
de TV e coordenador do site OverMundo
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