|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Mineiros exibem face experimental do documentário
Com direção de Marília Rocha, do grupo Teia, filme "A Falta que me Faz" mostra sentimentos amorosos de jovens
Último filme exibido na mostra competitiva do Festival de Brasília, produção é de coletivo que já ganhou mais de 60 prêmios
ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
Ao apresentar "Quebradeiras" no Festival de Brasília,
Evaldo Mocarzel, que levou o
prêmio de melhor direção,
prestou homenagem aos documentaristas mineiros. Muita
gente, na plateia, não tinha
ideia do significado da citação.
Parte do enigma foi desvendado nesse filme experimental,
sem falas, que mostra o dia a dia
de mulheres que quebram coco
de babaçu. A explicação completou-se com "A Falta que me
Faz", último filme exibido na
mostra competitiva.
O documentário de Marília
Rocha tem o selo de um grupo
que, mineiramente, vem deixando sua marca na produção
atual. Trata-se do coletivo Teia,
que, criado em 2003, ganhou
mais de 60 prêmios em festivais brasileiros e passou por
prestigiadas vitrines internacionais, como Sundance, Locarno, Roterdã e Karlovy Vary.
A seleção para Brasília foi, no
entanto, novidade para o grupo. "Acho que éramos um pouco estigmatizados. A comparação com a videoarte, por exemplo, sempre me irritou. O que
fazemos é cinema, nossas imagens são naturalistas", diz Helvécio Marins Jr., um de seus integrantes. "Passar pelo festival
foi importante para mudar um
pouco essa percepção."
É que, ao redor da Teia, tecem seus fios outros artistas
mineiros, como Cao Guimarães, bem mais próximo da arte
contemporânea que do cinema.
Um de seus trabalhos mais conhecidos, "Acidente", foi feito
em parceria com Pablo Lobato,
outro dos fundadores da Teia.
"A gente se ajuda o tempo todo, mas foge de qualquer padronização", diz Clarissa Campolina. "Se não tivermos liberdade de fazer o filme que queremos, não tem sentido. Não foi
pra isso que nos juntamos."
Tudo começou com a necessidade de rachar o aluguel. Os
amigos Helvécio Martins Jr.,
Pablo Lobato, Clarissa Campolina, Marília Rocha, Leonardo
Barcelos e Sérgio Borges tinham concluído a faculdade e
estavam certos de que fariam
do cinema sua profissão. Sabiam também que, para fazer
filmes de forma livre, tinham
de comprar equipamentos.
"Eu e o Pablo compramos
uma ilha de edição e uma câmera. Somos a primeira geração de
cineastas que, ao sair da faculdade, teve a possibilidade de
comprar a própria ilha de edição. Surgimos com o vídeo digital", diz Marins. Equipados,
precisavam de um lugar para
botar aquilo tudo.
"A ideia foi, simplesmente,
dividir o aluguel", recorda
Campolina. E assim, em 2002,
foram parar na casa onde estão
até hoje. No dia a dia, acharam
afinidades estéticas e passaram
a colaborar uns com os outros.
Liberdade
A seleção de "A Falta que me
Faz" -o mais caro filme da
Teia, orçado em cerca de R$
400 mil- para Brasília ajudou
não apenas a desfazer mitos em
torno do radicalismo do grupo
como revelou, para o público
em geral, a faceta experimental
do documentário brasileiro.
"Como a ficção tem mercado,
os diretores têm uma preocupação maior de dar certo, de fazer o filme ser visto. No documentário, somos mais livres",
diz Marília Rocha. Seu filme,
uma visita aos sentimentos
amorosos de jovens da Serra do
Espinhaço (Minas Gerais), é
um exercício estético e humano que tateia as possibilidades
do cinema.
"Achamos que temas banais
podem dar belíssimos filmes",
diz Rocha. "Procuramos fazer
filmes de um jeito mais caseiro,
acreditamos muito na pesquisa, nos processos longos",
emenda Campolina.
Texto Anterior: Força da grana gera rimas sobre consumo em SP Próximo Texto: Análise: Festival de Cinema de Brasília ganha nova chance Índice
|