São Paulo, quinta-feira, 26 de novembro de 2009

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Mineiros exibem face experimental do documentário

Com direção de Marília Rocha, do grupo Teia, filme "A Falta que me Faz" mostra sentimentos amorosos de jovens

Último filme exibido na mostra competitiva do Festival de Brasília, produção é de coletivo que já ganhou mais de 60 prêmios

ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

Ao apresentar "Quebradeiras" no Festival de Brasília, Evaldo Mocarzel, que levou o prêmio de melhor direção, prestou homenagem aos documentaristas mineiros. Muita gente, na plateia, não tinha ideia do significado da citação.
Parte do enigma foi desvendado nesse filme experimental, sem falas, que mostra o dia a dia de mulheres que quebram coco de babaçu. A explicação completou-se com "A Falta que me Faz", último filme exibido na mostra competitiva.
O documentário de Marília Rocha tem o selo de um grupo que, mineiramente, vem deixando sua marca na produção atual. Trata-se do coletivo Teia, que, criado em 2003, ganhou mais de 60 prêmios em festivais brasileiros e passou por prestigiadas vitrines internacionais, como Sundance, Locarno, Roterdã e Karlovy Vary.
A seleção para Brasília foi, no entanto, novidade para o grupo. "Acho que éramos um pouco estigmatizados. A comparação com a videoarte, por exemplo, sempre me irritou. O que fazemos é cinema, nossas imagens são naturalistas", diz Helvécio Marins Jr., um de seus integrantes. "Passar pelo festival foi importante para mudar um pouco essa percepção."
É que, ao redor da Teia, tecem seus fios outros artistas mineiros, como Cao Guimarães, bem mais próximo da arte contemporânea que do cinema. Um de seus trabalhos mais conhecidos, "Acidente", foi feito em parceria com Pablo Lobato, outro dos fundadores da Teia.
"A gente se ajuda o tempo todo, mas foge de qualquer padronização", diz Clarissa Campolina. "Se não tivermos liberdade de fazer o filme que queremos, não tem sentido. Não foi pra isso que nos juntamos."
Tudo começou com a necessidade de rachar o aluguel. Os amigos Helvécio Martins Jr., Pablo Lobato, Clarissa Campolina, Marília Rocha, Leonardo Barcelos e Sérgio Borges tinham concluído a faculdade e estavam certos de que fariam do cinema sua profissão. Sabiam também que, para fazer filmes de forma livre, tinham de comprar equipamentos.
"Eu e o Pablo compramos uma ilha de edição e uma câmera. Somos a primeira geração de cineastas que, ao sair da faculdade, teve a possibilidade de comprar a própria ilha de edição. Surgimos com o vídeo digital", diz Marins. Equipados, precisavam de um lugar para botar aquilo tudo.
"A ideia foi, simplesmente, dividir o aluguel", recorda Campolina. E assim, em 2002, foram parar na casa onde estão até hoje. No dia a dia, acharam afinidades estéticas e passaram a colaborar uns com os outros.

Liberdade
A seleção de "A Falta que me Faz" -o mais caro filme da Teia, orçado em cerca de R$ 400 mil- para Brasília ajudou não apenas a desfazer mitos em torno do radicalismo do grupo como revelou, para o público em geral, a faceta experimental do documentário brasileiro.
"Como a ficção tem mercado, os diretores têm uma preocupação maior de dar certo, de fazer o filme ser visto. No documentário, somos mais livres", diz Marília Rocha. Seu filme, uma visita aos sentimentos amorosos de jovens da Serra do Espinhaço (Minas Gerais), é um exercício estético e humano que tateia as possibilidades do cinema.
"Achamos que temas banais podem dar belíssimos filmes", diz Rocha. "Procuramos fazer filmes de um jeito mais caseiro, acreditamos muito na pesquisa, nos processos longos", emenda Campolina.


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