São Paulo, sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Ilustrador elevou o patamar das HQs

O francês Jean Giraud, conhecido pelo pseudônimo Moebius, transformou gibis em entretenimento adulto

Mostra sobre o artista, em Paris, reúne 400 obras, como pinturas, quadrinhos inéditos e projetos de filmes

Fotos Moebius Production/Divulgação
Imagem da HQ "Blueberry", série de faroeste realista que Jean Giraud criou em 1963

FERNANDA EZABELLA
DE LOS ANGELES

Foi uma viagem solitária ao deserto entre México e EUA, aos 16 anos, que ficou para sempre no imaginário do ilustrador francês Jean Giraud, ecoando por décadas em seus famosos quadrinhos, principalmente nos faroestes realistas de "Blueberry", uma de suas obras-primas, criada em 1963 e publicada até 2005.
"O ônibus parou no meio do deserto. Vi uma casinha do nada, como nos filmes mexicanos, e fui até lá. A porta se abriu e eu vi todo o deserto. Foi uma visão incrível", descreveu o artista de 72 anos, num evento de HQ em Los Angeles, no dia 20.
"Desde então tenho essa sensação de estar em outro planeta, num lugar mágico. Carrego aquela imagem."
E tudo isto antes dos cogumelos que experimentou num ritual com índios, ao voltar ao México poucos anos depois.
"Foi doloroso, vomitei, chorei. Mas tive muitas visões, foram úteis para o meu trabalho", continuou o francês, que com o pseudônimo Moebius criou espetaculares universos futurísticos para quadrinhos, como nas aventuras do solitário guerreiro de "Arzach" ou na complexa ficção científica de "A Garagem Hermética".
Esse mundo fantástico de Giraud, considerado um dos papas das HQs, pode ser visto numa retrospectiva que acontece até março em Paris, na Fondation Cartier.
São 400 obras, entre quadrinhos inéditos, pinturas, anotações pessoais e projetos de filmes, coletados entre os 50 anos de sua carreira.
A mostra também exibe o documentário "Metamoebius", de Damian Pettigrew.

CINEMA NO PAPEL
Giraud começou a desenhar aos 12 anos e costumava ler os gibis que chegavam à França, como "Mandrake". Na adolescência, era fã de Federico Fellini (1920-1993) e de cinema americano, como faroestes e musicais.
"Quando desenho no papel, estou dirigindo meu próprio filme. E fazendo a trilha sonora na minha cabeça", contou no evento em Los Angeles, fazendo soar um trompete com a própria boca.
Depois de passagens por algumas publicações, como a "Pilote", e das experiências no deserto, Giraud criou com amigos a revista pioneira "Métal Hurlant", em 1975, que levou a arte dos quadrinhos para um novo patamar, entretenimento adulto.
"A "Pilote" era uma revista de quadrinhos tradicionais. Depois de um tempo percebi que não seria possível continuar aquele casamento", disse o ilustrador. "Queríamos fazer uma separação de verdade entre velho e novo. E queríamos ser radicais."
Foi assim que ele criou "Arzach", até hoje publicada, sobre um herói misterioso, andrógino e que viaja numa espécie de pterossauro. Nas primeiras páginas da HQ silenciosa, o herói apenas voa por terras desoladas.
"Procurava algo novo, queria me surpreender. Queria uma imagem e ela foi me levando, não conseguia parar", contou.
E de onde tirou a inspiração para o chapéu pontudo, tão característico do herói? "Isto eu realmente não sei, mas acho que não tem a ver com aqueles cogumelos."


Texto Anterior: Mônica Bergamo
Próximo Texto: Artista criou roupas para "Alien" e "Tron"
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.