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MÚSICA
"Talkie Walkie" traz pela primeira vez a própria dupla nos vocais de suas composições, de "caráter autobiográfico"
Novo disco é "Air puro", segundo Godin
COLUNISTA DA FOLHA
Uma das metades da cultuada
dupla francesa Air, o músico Nicholas Godin fala sobre o novo
disco, "Talkie Walkie", e a relação
da banda com o cinema. "Fazemos o que dá para chamar de pop
cinematográfico. Somos o único
representante desse estilo", afirma Godin. Leia a entrevista.
(LÚCIO RIBEIRO)
Folha - "Talkie Walkie", o novo
disco, é o terceiro álbum de verdade do Air ou você conta todos os envolvimentos da banda em outras
paragens, com o cinema e também
com a literatura?
Nicolas Godin - "Talkie Walkie" é
nosso terceiro disco oficial, em
que a parceria se dá apenas entre
mim e o Jean-Benoît (JB Dunckel), pensando apenas em Air.
Sem elementos externos influenciando na composição. É um Air
puro ("fresh Air"), se você me
permite o trocadilho.
Folha - Por que o Air demorou
quase três anos para gravar um disco novo?
Godin - Pode não parecer, mas
foi um período de intenso trabalho para nós. Depois que lançamos o "10,000 Hz Legend", nós
saímos para uma turnê de mais de
cem shows no mundo todo, o que
demorou mais de um ano. Quando voltamos para Paris, fizemos
música para uma companhia de
balé. Na sequência, compusemos
uma peça musical para um escritor italiano, Alessandro Baricco.
"Talkie Walkie" já está pronto
desde abril, maio deste ano. Mas
só conseguimos terminar a produção há pouco tempo.
Folha - Como você descreveria este "Talkie Walkie"?
Godin - Não acho que eu seja a
melhor pessoa para descrevê-lo.
Não saberia falar sobre ele objetivamente, porque tem uma carga
muito autobiográfica neste disco.
E isso certamente vai passar desapercebido por quem o ouvir. O
que você achou do álbum?
Folha - Ele é mais "alegre" como o
"Moon Safari" (1998) e menos melancólico como o "10,000 Hz Legend". Você também pensa assim?
Godin - Talvez no estado de ânimo "Talkie Walkie" se aproxime
mais de "Moon Safari", mesmo.
Definitivamente ele está longe do
clima de "10,000 Hz Legend".
"Talkie Walkie" é nosso disco
mais pop, mais fácil.
Folha - Vocês pela primeira vez
não utilizaram cantores convidados e preferiram botar suas próprias vozes nas músicas. Por quê?
Godin - Para economizar algum
dinheiro (risos). Brincadeira. É
que de repente descobrimos que
não ia ficar tão ruim, como sempre imaginamos que pudesse ficar, se nós mesmos botássemos
falsetes e sussurros próprios.
Folha - Alguma razão especial para o disco se chamar "Talkie Walkie" (é como os franceses chamam
o aparelho walkie-talkie)?
Godin - Eu e Jean-Benoit passamos o tempo todo no estúdio nos
comunicando pelo "talkie walkie"
(walkie-talkie), durante o processo de gravação. Era um modo de
falarmos coisas nossas sem alardes, sem ter que gritar no meio de
tanta gente no estúdio. E, por causa do caráter autobiográfico que
tem o disco, é também uma metáfora do único modo pelo qual temos coragem de expressar a
quem ouve o disco o que achamos
do amor, da vida, essas coisas.
Uma comunicação individual, direta e sem estar frente a frente.
Folha - O que você considera importante na música que ouviu em
2003? Quais discos que você gostou
de ter comprado neste ano?
Godin - Outkast, Blur, Radiohead. Ouvi muito Queens of the
Stone Age neste ano. Adoro essa
banda. O White Stripes é muito
bom. Os Strokes também. Eles
têm um look excelente.
Folha - Como você vê o Air dentro
da música pop atual?
Godin - O Air é uma banda única
naquilo que faz. Nossas canções
têm uma relação bem estreita
com climas de outras áreas culturais fora a música. Em especial
com o cinema. Podemos dizer
que fazemos um pop cinematográfico. Somos o único representante desse estilo.
Folha - Como estão os planos para os shows do "Talkie Walkie"? Alguma chance de passar pelo Brasil?
Godin - Nenhuma. A América
do Sul é um lugar em que queremos tocar, mas está longe de isso
acontecer. Vamos começar a excursionar em janeiro, numa tour
mais curta que a última. Foi muito
exaustiva, e não queremos passar
muito tempo longe de casa.
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