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CINEMA
ESTATUETAS
"Cold Mountain" é o investimento mais dispendioso do estúdio
Miramax aposta em receita épica para ir à festa do Oscar
DO "NEW YORK TIMES"
Já se tornou um ritual a cada dezembro: Harvey Weinstein, vice-presidente da Miramax, começa
sua caminhada pela corda bamba
da temporada de filmes, enquanto Hollywood assiste, imaginando
se dessa vez ele vai cair.
No ano passado, Weinstein tropeçou com "Gangues de Nova
York", que, a despeito de um orçamento de US$ 100 milhões (cerca de R$ 295 milhões) e de seus
atritos com o diretor Martin Scorsese, obteve dez indicações ao Oscar e retorno respeitável nas bilheterias. No ano anterior, Weinstein decidiu não promover "Chegadas e Partidas", a aposta principal do estúdio, devido às críticas
desfavoráveis, mas ainda assim
encontrou espaço no Oscar com o
drama "Entre Quatro Paredes",
indicado para cinco estatuetas.
Neste ano, o equilibrismo de
Weinstein será muito mais precário. Com "Cold Mountain", um
filme de época estrelado por Jude
Law e Nicole Kidman que estreou
ontem nos cinemas norte-americanos, a Miramax empreendeu o
mais dispendioso investimento
de seus 24 anos de história.
O filme, que transcorre durante
os dias finais da Guerra Civil dos
EUA, se baseia em um romance
de sucesso, de Charles Frazier, e
sua produção custou pelo menos
US$ 80 milhões (R$ 240 milhões),
além dos US$ 25 milhões (R$ 75
milhões) gastos em publicidade.
Além disso, dizem os produtores, Weinstein levou o filme
adiante apesar das objeções de
seu patrão, Michael D. Eisner,
presidente da Walt Disney Company, que o pressionara a encontrar um novo sócio para ajudar a
bancar o filme depois que a
MGM, que participaria do projeto
inicialmente, perdeu a confiança e
decidiu cair fora.
Os demais estúdios se recusaram a participar da produção, e
Weinstein decidiu seguir em frente por conta própria. Ele enviou
Anthony Minghella, roteirista e
diretor do filme, para filmar durante cinco meses na Romênia e
em Charleston, na Carolina do
Sul, e bancou quase um ano de
trabalho na edição.
Quando perguntado sobre o risco que corre com "Cold Mountain", a resposta de Weinstein é filosófica: "Se perdermos, perdemos", disse. "E tudo o que teremos será a satisfação de apostar
num filme que as pessoas consideravam difícil de produzir. Provaremos que todos eles estavam
certos. Mas, caso ganhemos, não
vamos nos vangloriar. Só diremos
que decidimos acreditar em algo
que consideramos importante."
A hesitação, pouco característica de Weinstein, pode indicar certo nervosismo quanto à recepção
do público e dos membros da
Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, responsável pelo
Oscar, a "Cold Mountain". Mas é
evidente que ele aprecia o risco de
suas opções quase tanto quanto o
sucesso de suas produções.
As primeiras críticas vêm sendo
positivas, ainda que não delirantes, e os comentários dos exibidores que viram o filme tendem a
expressar admiração, se bem que
não um grande entusiasmo. A recepção que o filme terá, disse
Minghella, "dependerá da disposição das pessoas para revisitá-lo
antes de decidir sobre ele". Assistir a um filme pela segunda vez "é
algo que tende a acontecer no caso dos críticos mais meticulosos e
dos eleitores do Oscar", disse.
"Minha esperança, claro, é que
o filme resista a esse tipo de escrutínio." Embora assistir a um filme
mais de uma vez possa ser comum entre os críticos dedicados,
seria esperar demais dos espectadores comuns que o fizessem, já
que "Cold Mountain" tem mais
de duas horas e meia de duração e
poucas cenas mostram Nicole
Kidman e Jude Law juntos, enquanto há longas sequências de
recriação sangrenta da guerra.
Minghella tem longa experiência com a Miramax, para quem
escreveu e dirigiu "O Paciente Inglês", premiado com o Oscar, e "O
Talentoso Ripley".
"Cold Mountain" gira em torno
de Inman, um jovem soldado sulista interpretado por Law, que
experimenta uma série de encontros picarescos quando tenta voltar à sua cidade, Cold Mountain,
na Carolina do Norte, e à sua
amada, Ada (Kidman). Renée
Zellweger interpreta Ruby, uma
fazendeira grosseira que ensina a
Ada como salvar suas terras,
quando os homens vão à guerra.
Se tivéssemos de identificar os
ingredientes ideais de um filme
para o Oscar, "Cold Mountain"
teria todos: um romance de sucesso, um roteirista e diretor já premiados, três astros glamourosos e
um estúdio que sabe como vender
filmes de época e épicos. Mas produzir cinema é uma arte complexa, e pode ser que nem mesmo esses ingredientes garantam dinheiro, sucesso nem prêmios.
Weinstein, apesar de toda a sua
pose, está assumindo um risco.
"O problema com os negócios
nos EUA é que não nos permitimos assumir riscos que deveríamos, nas artes", disse. "Se você estivesse dizendo que gastei US$ 80
milhões numa revista em quadrinhos, eu aceitaria ser chamado de
maluco. O único ímpeto teria sido
ganhar dinheiro. Mas esse filme
não foi feito por dinheiro."
Tradução Paulo Migliacci
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