UOL


São Paulo, sexta-feira, 26 de dezembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CINEMA

ESTATUETAS

"Cold Mountain" é o investimento mais dispendioso do estúdio

Miramax aposta em receita épica para ir à festa do Oscar

DO "NEW YORK TIMES"

Já se tornou um ritual a cada dezembro: Harvey Weinstein, vice-presidente da Miramax, começa sua caminhada pela corda bamba da temporada de filmes, enquanto Hollywood assiste, imaginando se dessa vez ele vai cair.
No ano passado, Weinstein tropeçou com "Gangues de Nova York", que, a despeito de um orçamento de US$ 100 milhões (cerca de R$ 295 milhões) e de seus atritos com o diretor Martin Scorsese, obteve dez indicações ao Oscar e retorno respeitável nas bilheterias. No ano anterior, Weinstein decidiu não promover "Chegadas e Partidas", a aposta principal do estúdio, devido às críticas desfavoráveis, mas ainda assim encontrou espaço no Oscar com o drama "Entre Quatro Paredes", indicado para cinco estatuetas.
Neste ano, o equilibrismo de Weinstein será muito mais precário. Com "Cold Mountain", um filme de época estrelado por Jude Law e Nicole Kidman que estreou ontem nos cinemas norte-americanos, a Miramax empreendeu o mais dispendioso investimento de seus 24 anos de história.
O filme, que transcorre durante os dias finais da Guerra Civil dos EUA, se baseia em um romance de sucesso, de Charles Frazier, e sua produção custou pelo menos US$ 80 milhões (R$ 240 milhões), além dos US$ 25 milhões (R$ 75 milhões) gastos em publicidade.
Além disso, dizem os produtores, Weinstein levou o filme adiante apesar das objeções de seu patrão, Michael D. Eisner, presidente da Walt Disney Company, que o pressionara a encontrar um novo sócio para ajudar a bancar o filme depois que a MGM, que participaria do projeto inicialmente, perdeu a confiança e decidiu cair fora.
Os demais estúdios se recusaram a participar da produção, e Weinstein decidiu seguir em frente por conta própria. Ele enviou Anthony Minghella, roteirista e diretor do filme, para filmar durante cinco meses na Romênia e em Charleston, na Carolina do Sul, e bancou quase um ano de trabalho na edição.
Quando perguntado sobre o risco que corre com "Cold Mountain", a resposta de Weinstein é filosófica: "Se perdermos, perdemos", disse. "E tudo o que teremos será a satisfação de apostar num filme que as pessoas consideravam difícil de produzir. Provaremos que todos eles estavam certos. Mas, caso ganhemos, não vamos nos vangloriar. Só diremos que decidimos acreditar em algo que consideramos importante."
A hesitação, pouco característica de Weinstein, pode indicar certo nervosismo quanto à recepção do público e dos membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, responsável pelo Oscar, a "Cold Mountain". Mas é evidente que ele aprecia o risco de suas opções quase tanto quanto o sucesso de suas produções.
As primeiras críticas vêm sendo positivas, ainda que não delirantes, e os comentários dos exibidores que viram o filme tendem a expressar admiração, se bem que não um grande entusiasmo. A recepção que o filme terá, disse Minghella, "dependerá da disposição das pessoas para revisitá-lo antes de decidir sobre ele". Assistir a um filme pela segunda vez "é algo que tende a acontecer no caso dos críticos mais meticulosos e dos eleitores do Oscar", disse.
"Minha esperança, claro, é que o filme resista a esse tipo de escrutínio." Embora assistir a um filme mais de uma vez possa ser comum entre os críticos dedicados, seria esperar demais dos espectadores comuns que o fizessem, já que "Cold Mountain" tem mais de duas horas e meia de duração e poucas cenas mostram Nicole Kidman e Jude Law juntos, enquanto há longas sequências de recriação sangrenta da guerra.
Minghella tem longa experiência com a Miramax, para quem escreveu e dirigiu "O Paciente Inglês", premiado com o Oscar, e "O Talentoso Ripley".
"Cold Mountain" gira em torno de Inman, um jovem soldado sulista interpretado por Law, que experimenta uma série de encontros picarescos quando tenta voltar à sua cidade, Cold Mountain, na Carolina do Norte, e à sua amada, Ada (Kidman). Renée Zellweger interpreta Ruby, uma fazendeira grosseira que ensina a Ada como salvar suas terras, quando os homens vão à guerra.
Se tivéssemos de identificar os ingredientes ideais de um filme para o Oscar, "Cold Mountain" teria todos: um romance de sucesso, um roteirista e diretor já premiados, três astros glamourosos e um estúdio que sabe como vender filmes de época e épicos. Mas produzir cinema é uma arte complexa, e pode ser que nem mesmo esses ingredientes garantam dinheiro, sucesso nem prêmios.
Weinstein, apesar de toda a sua pose, está assumindo um risco. "O problema com os negócios nos EUA é que não nos permitimos assumir riscos que deveríamos, nas artes", disse. "Se você estivesse dizendo que gastei US$ 80 milhões numa revista em quadrinhos, eu aceitaria ser chamado de maluco. O único ímpeto teria sido ganhar dinheiro. Mas esse filme não foi feito por dinheiro."


Tradução Paulo Migliacci


Texto Anterior: Popload: Cansei de ser sexy
Próximo Texto: Copião: Jeferson De contorna a biografia de Netinho
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.