São Paulo, sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

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"O assunto em nossa casa era cinema"

Diretor de "Um Homem Bom", Vicente Amorim lembra o quanto seu pai, o diplomata Celso Amorim, influenciou (e rejeitou) sua carreira

Cineasta deixou curso de economia para se dedicar ao cinema; para ministro, o primeiro longa do filho foi "de uma poesia pungente"


Divulgação
Os atores Jason Isaacs e Viggo Mortensen em cena de "Um Homem Bom', segundo longa-metragem do diretor Vicente Amorim

ANA RIBEIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Filho mais velho do ministro Celso Amorim, Vicente, 42, é mestre em relações exteriores.
Seu segundo longa de ficção, "Um Homem Bom" (leia crítica ao lado), é uma produção anglo-germânica, filmada em Budapeste (disfarçada de Berlim dos anos 30), com um ator de pai dinamarquês e mãe americana, Viggo Mortensen, 50, e outro inglês, Jason Isaacs, 45.
A língua falada no set era o inglês, um dos cinco idiomas que Vicente domina, além de português, francês, espanhol e um pouco de holandês. "Nasci na Áustria, morei na Inglaterra, nos EUA e na Holanda, até voltar definitivamente para o Brasil, em 1984, onde queria reencontrar minhas raízes", diz ele, com sotaque carioca.
Vicente estava na faculdade, cursando o terceiro ano de economia na Universidade Federal do Rio de Janeiro, quando anunciou: "Vou parar de estudar. Quero trabalhar com cinema". O pai virou fera. "Vá se quiser, mas esquece a mesada. Se vira." Vicente argumentou: "Mas a culpa é toda sua!".
Por "culpa", entenda-se: nos anos 60, antes da opção pelo Instituto Rio Branco, o futuro diplomata Celso Amorim viveu sua própria experiência cinematográfica. Foi assistente de direção de Ruy Guerra em "Os Cafajestes", e de Leon Hirszman, no segmento que dirigiu de "Cinco Vezes Favela". Em casa, divertia os filhos com projeções de clássicos, de Charlie Chaplin a "O Encouraçado Potemkin". De 1979 a 1982, Amorim foi presidente da Embrafilme. "O grande assunto em casa era cinema", diz Vicente. "Dito isso, o que meu pai queria mesmo é que eu fosse diplomata."

Poesia pungente
O fato é que Vicente encarou a desproteção paterna e foi à luta. Celso Amorim só pode se orgulhar do que rendeu a rebeldia do filho. Seu primeiro filme, "O Caminho das Nuvens", sobre uma família nordestina que viaja de bicicleta da Paraíba ao Rio de Janeiro, emocionou o presidente Lula, que no lançamento, em 2003, promoveu exibição no Palácio do Planalto para seleta audiência. "De uma poesia pungente", disse, à época, o ministro e pai coruja.
A experiência de Vicente atrás das câmeras é longa e variada. Desde que largou a faculdade, foi assistente de direção de 23 filmes, fez cinco curtas e dirigiu 500 comerciais na produtora Mixer, da qual é sócio. "Minha primeira experiência profissional em cinema foi como estagiário de finalização em "Imagens do Inconsciente", do Leon Hirszman. Na assistência de direção, trabalhei com Cacá Diegues, Bruno Barreto, Hector Babenco e fiz filmes estrangeiros, como "Luar Sobre Parador", e outros dos quais me orgulho bem menos."
"Um Homem Bom" conta a história de um tímido professor universitário (Mortensen), cuja obra de ficção cai nas graças de Himmler, Goebbels e do próprio Hitler, e é escalado para dar um verniz intelectual às reformas do Reich. Aos poucos, é seduzido por favorecimentos pessoais e se ilude a respeito dos verdadeiros planos de seus compatriotas, ignorando os alertas de seu melhor amigo, um psicanalista judeu (Isaacs).
No momento, o filme está percorrendo o circuito de festivais. Estreou ontem em circuito nacional, já foi exibido em Roma, Chicago e Washington, e ganhou os prêmios de melhor diretor nos festivais do Rio e de Brasília. Em 31/12, será lançado nos EUA, em busca de uma possível indicação a, "quem sabe, um louro maior". Se a palavra Oscar tocar algum sininho, fique atento: "Nós, diretores latinos, estamos, e espero que dure muito, na crista da onda. Somos considerados o que há de mais sexy no cinema mundial", diz.
Foi por isso que a produtora inglesa Miriam Segal veio buscar no Brasil o diretor de "Um Homem Bom".
"Ela estava atrás de alguém que não trouxesse muitas idéias pré-concebidas e nenhuma bagagem emocional", diz Vicente. Ela o conhecia de "O Caminho das Nuvens", enviou o roteiro e pediu uma resposta em 24 horas. "Fiquei completamente embasbacado."


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