São Paulo, terça-feira, 27 de janeiro de 2004

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"ARTECONHECIMENTO"

MAC atenta para desafios atuais ao homenagear USP

FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA

"Arteconhecimento" é mostra complexa. Enfrenta a diversidade de missões de um museu universitário e público de arte contemporânea. Para tal, explora o amplo acervo do MAC (Museu de Arte Contemporânea) da Universidade de São Paulo.
O visitante entra na exposição diante das três salas que abrigam a produção mais recente. Mas, ao dobrar à esquerda, vai retrocedendo no tempo até chegar ao Gabinete de Papel.
A cronologia começa celebrando as vanguardas antiacadêmicas do início do século 20. A coleção do MAC possui um núcleo modernista pontuado por obras como o "Auto-Retrato" (1919), de Modigliani, e o "Enigma de um Dia" (1914), por De Chirico. Reencontramos ambos defrontados ao "Retrato de Joaquim do Rego Monteiro" (1920), de Vicente do Rego Monteiro, e ao "Beijo" (1923), por Di Cavalcanti.
Daí em diante, a curadoria adota montagem dialética. Em cada sala, as paredes opostas confrontam europeus e nacionais, estruturando uma visão da história como paralelo.

Evolucionismo
Mantém-se o evolucionismo da arte do século 20: passamos da vanguarda ao entre-guerras, depois à abstração, seja construtiva ou informal. As filiações expressionistas são favorecidas por obras de destaque, como a "Cabeça Trágica" (1957), de Appel, e os nove desenhos da série "Minha Mãe Morrendo" (1947), de Flávio de Carvalho.
A década de 60 abre a questão da história de si, pois é o período de fundação do MAC. Por um lado, a militância política é ressaltada no triedro "Os Revolucionários" (1968), de Canogar. Por outro, as correntes pop são admitidas com o "Arkadin de Saint-Aimer" (1962-64), de Wesley Duke Lee, e o "Você Faz Parte 2" (1964), de Nelson Leirner. A fotografia da performance "Seis Movimentos" (1974), de Barrio, testemunha a capacidade de o museu lidar com os problemas técnicos e éticos da preservação de obras efêmeras.

Presente
Contudo, a interpretação dos últimos 20 anos é menos clara. As partes são relacionadas por critérios como a semelhança volumétrica e cromática entre o "Paradoxo do Santo" (1994), de Regina Silveira, e "A Negra" (1997), de Carmela Gross, ambas professoras da ECA.
O presente é focado em Benedetta Bonichi. A fotógrafa utiliza o raio-X para criar registros do fantástico, qual "A Sereia" (2001). A música do vídeo exibido na sala difunde-se pelos demais ambientes do prédio, marcando a presença da arte globalizada.
Ao celebrar o aniversário de 70 anos da USP com esta "Arteconhecimento", o MAC mostra-se atento aos desafios de manter e criar conceitos historiográficos para hoje.


Arteconhecimento - 70 anos da USP
   
Onde: MAC-USP (r. da Reitoria, 160, Cidade Universitária, região oeste, São Paulo, tel. 0/xx/11/3091-3039)
Com: obras pertencentes ao acervo do museu, de autoria de Marc Chagall, Amedeo Modigliani, Morandi, Henri Matisse, Pablo Picasso, Vassily Kandinsky, Joan Miró, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Ismael Nery, Regina Silveira e Nelson Leiner, entre outros
Quando: de terça a sexta, das 10h às 19h; sábados e domingos, das 10h às 16h
Quanto: entrada franca



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