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De objetos políticos a pinturas, trajetória de Zilio é tema de livro
Artista carioca foi preso em 1970 por ter se envolvido no combate à ditadura
GABRIELA LONGMAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Objetos de forte carga política, telas e desenhos de Carlos
Zilio, 62, finalmente são reunidos em uma publicação, que
também apresenta entrevistas
e ensaios de nomes como Ronaldo Brito e Paulo Sérgio
Duarte, entre outros.
Organizado pelo crítico de
arte Paulo Venancio Filho,
"Carlos Zilio", livro da Cosacnaify, revê quatro décadas da
produção do artista carioca: de
seus objetos engajados nos
anos 60 -entre eles a emblemática marmita com a inscrição "Lute" e "Visão Total", com
oito rostos vendados em meio à
inscrição "Ver"- às suas pinturas recentes.
Participante das mostras
"Opinião 66" e "Nova Objetividade Brasileira", ambas no
MAM-RJ, Zilio deixou a arte
para se dedicar à luta armada,
até ser preso, em 1970, e passar
dois anos e meio em quartéis.
"Do fazer artístico como luta,
Zilio passa à luta armada como
fazer artístico", sugere Venancio. Depois da prisão, o artista
retornaria às atividades artísticas, contudo de outro modo.
Mas a política não desapareceria nos anos 70, como mostra
a série fotográfica "Para um Jovem de Brilhante Futuro"
(1974). Do fundo de uma maleta de executivo, saem pregos
pontiagudos apontados para o
alto. Em 1974, não se sabia o
quanto a mentalidade corporativa se acentuaria e como a obra
de Zilio se tornaria ainda mais
contundente do que era na época em que foi produzida.
"Sinto que "Para Um Jovem"
mantém a inquietação crítica.
Fico curioso sobre uma análise
de sua recepção pública atualmente", diz o artista à Folha.
Já a guinada para as telas é
interpretada pelo crítico francês Yve-Alain Bois no livro como novo e diverso modo de engajamento. "Existe prazer em
aprender um ofício que parece
estar desaparecendo, e este
prazer singular é um meio de
resistência contra todas as forças que levam o mundo em direção à sua maior homogeneidade possível", escreve Bois.
"Evidentemente, a "desilusão
política" leva a um intenso processo de reflexão", afirma Zilio.
"No meu caso, suscitou uma
tentativa de compreender melhor a dinâmica da história e
mais particularmente a da história da arte. A pintura se situa
não como uma "aposta política
vencida", mas sim como uma
prática que, tendo profunda
base histórica, só se tornará
culturalmente conseqüente se
conseguir responder aos desafios contemporâneos da arte."
CARLOS ZILIO
Organização: Paulo Venancio Filho
Editora: Cosacnaify
Quanto: R$ 70 (216 págs.)
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