São Paulo, sábado, 27 de janeiro de 2007

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De objetos políticos a pinturas, trajetória de Zilio é tema de livro

Artista carioca foi preso em 1970 por ter se envolvido no combate à ditadura

GABRIELA LONGMAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Objetos de forte carga política, telas e desenhos de Carlos Zilio, 62, finalmente são reunidos em uma publicação, que também apresenta entrevistas e ensaios de nomes como Ronaldo Brito e Paulo Sérgio Duarte, entre outros.
Organizado pelo crítico de arte Paulo Venancio Filho, "Carlos Zilio", livro da Cosacnaify, revê quatro décadas da produção do artista carioca: de seus objetos engajados nos anos 60 -entre eles a emblemática marmita com a inscrição "Lute" e "Visão Total", com oito rostos vendados em meio à inscrição "Ver"- às suas pinturas recentes.
Participante das mostras "Opinião 66" e "Nova Objetividade Brasileira", ambas no MAM-RJ, Zilio deixou a arte para se dedicar à luta armada, até ser preso, em 1970, e passar dois anos e meio em quartéis.
"Do fazer artístico como luta, Zilio passa à luta armada como fazer artístico", sugere Venancio. Depois da prisão, o artista retornaria às atividades artísticas, contudo de outro modo.
Mas a política não desapareceria nos anos 70, como mostra a série fotográfica "Para um Jovem de Brilhante Futuro" (1974). Do fundo de uma maleta de executivo, saem pregos pontiagudos apontados para o alto. Em 1974, não se sabia o quanto a mentalidade corporativa se acentuaria e como a obra de Zilio se tornaria ainda mais contundente do que era na época em que foi produzida.
"Sinto que "Para Um Jovem" mantém a inquietação crítica. Fico curioso sobre uma análise de sua recepção pública atualmente", diz o artista à Folha.
Já a guinada para as telas é interpretada pelo crítico francês Yve-Alain Bois no livro como novo e diverso modo de engajamento. "Existe prazer em aprender um ofício que parece estar desaparecendo, e este prazer singular é um meio de resistência contra todas as forças que levam o mundo em direção à sua maior homogeneidade possível", escreve Bois.
"Evidentemente, a "desilusão política" leva a um intenso processo de reflexão", afirma Zilio.
"No meu caso, suscitou uma tentativa de compreender melhor a dinâmica da história e mais particularmente a da história da arte. A pintura se situa não como uma "aposta política vencida", mas sim como uma prática que, tendo profunda base histórica, só se tornará culturalmente conseqüente se conseguir responder aos desafios contemporâneos da arte."


CARLOS ZILIO
Organização:
Paulo Venancio Filho
Editora: Cosacnaify
Quanto: R$ 70 (216 págs.)


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