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SUNDANCE FILM FESTIVAL
Documentário resume a geração beat
AMIR LABAKI
enviado especial a Park City (EUA)
"The Source" (A Fonte) não é
apenas mais um documentário sobre a geração beat, o grupo iconoclasta de escritores que enfrentou a
mesmice Sears dos EUA do pós-Segunda Guerra.
Chuck Workman lança no Sundance, dentro da competição não-ficcional, talvez a melhor introdução em filme ao legado de Jack Kerouac, William Burroughs, Allen
Ginsberg e turma.
Workman é do ramo. Em 1990
conseguiu a proeza de decifrar a
esfinge Andy Warhol e contextualizá-la dentro da cultura americana
contemporânea em "Superstar".
O projeto aqui é similar. "The
Source" apresenta as raízes da cultura beat, no início dos anos 50,
acompanha seu amadurecimento
e aponta seus frutos contemporâneos.
Workman é mais forte quando
reconstitui o passado do que quando pesquisa o presente.
A estrutura é cronológica. Workman aponta como marco inaugural da literatura beat o encontro na
Nova York de 1944 de Kerouac,
Burroughs e Ginsberg.
O filme traz valiosas entrevistas
históricas com os dois últimos e
um curioso material de arquivo,
sobretudo televisivo, com o primeiro.
"Nós jamais pensávamos em nos
impor. Escrevíamos num processo
de autoconhecimento", depõe um
doce e sábio Ginsberg. "Não queríamos representar ninguém, só
nós mesmos."
Burroughs, por sua vez, não pestaneja em reconhecer "todos os tipos de vícios".
Feita a introdução geral, "The
Source" divide a história beat a
partir de três marcos: o romance
autobiográfico "Pé na Estrada", de
Kerouac, o poema "Uivo", de
Ginsberg, e a lisérgica novela "Almoço Nu", de Burroughs.
Cada livro cria o contexto para o
resumo biográfico de cada autor.
O arquivo de imagens de Burroughs é de longe o mais rico. Kerouac surge sobretudo em fotos e
entrevistas de TV.
A documentação visual sobre
Ginsberg é curiosa, mas não especialmente impactante. Cumpre esperar o documentário em andamento de Marina Goldovskaya e
Gyulia Gaszdag, que filmaram
quase uma semana do cotidiano
do poeta às vésperas da morte, em
abril de 1997.
Johnny Depp confirma seu fascínio por Kerouac lendo trechos de
suas obras principais.
John Turturro interpreta trechos
de "Uivo". Cabe, por fim, a Dennis
Hopper compor um estupendo
Burroughs ao declamar extratos de
"Almoço Nu".
Mas "The Source" vai além do
trio. São breves, porém marcantes,
os perfis de Neal Cassidy (o grande
inspirador de "Pé na Estrada") e
Timothy Leary. Ferlinghetti, Corso
e Bowles, contudo, mereciam
maior atenção.
É especialmente divertida a sequência que demonstra a absorção
do movimento pela indústria de
massa, de uma apresentação da telessérie de Hitchcock a um solo de
Audrey Hepburn em "Funny Face".
Mas "The Source" vai perdendo
foco com a dispersão da gangue
nos anos 60.
Workman ainda marca alguns
pontos ao salientar os contatos entre beats e hippies.
De 68 para frente, contudo, boas
sacadas se sucedem sem formar
um retrato definido dos herdeiros
do movimento.
Ainda assim, parece difícil encontrar melhor resumo em hora e
meia do impacto da geração beat
neste meio século.
²
O crítico
Amir Labaki está em Park City como jurado da competição latino-americana.
²
O colunista
Marcelo Coelho está em férias
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