São Paulo, quarta-feira, 27 de fevereiro de 2002

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MÚSICA

Roqueiro reforma o DeFalla e grava CD "com" a guitarrista, que já saiu da banda e foi para a "Casa dos Artistas"

Edu K lança disco "armado" com Syang

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Num cenário em que a cada dia fica mais difícil distinguir realidade e armação, há quem tome para si a tarefa de assumir as armações todas. Este é o caso, parece, do músico e produtor gaúcho Edu K, 33, eterno líder da inconstante banda de rock sujo, feio e malvado DeFalla. O grupo volta à ativa, em nova formação/armação, com a qual lançou, em janeiro, o CD ultra-independente "Superstar".
A guitarrista do disco é a brasiliense Syang, 31. Ela já tocou no grupo punk P.U.S., já tentou carreira solo de roqueira suave e está lá, em primeiríssimo plano, na capa de "Superstar". E hoje é uma das "neocelebridades" que ocupam a "Casa dos Artistas" de Silvio Santos, no SBT.
Dois meses antes de o "reality show" estrear, Syang anunciou ao parceiro que estava fora do grupo, porque "tinha projetos individuais, para lançar livros eróticos e um programa de TV", segundo diz palavras de Edu K.
"A produção da "Casa" queria um novo Supla, e eu próprio estava cogitado para participar. Cheguei a ir lá, fiz o teste básico inicial. Mas acho que eles se deram conta de que não ia dar certo, porque eu sou muito podreira", diverte-se.
Diante da deserção de Syang, ele decidiu brecar "Superstar" e já está gravando novo CD para substituí-lo, sem a moça. Mas, ainda de olho no rocambole televisivo, já compôs um rock em homenagem à loura Ellen Roche, que também está morando na casa de Silvio.
Seus tentáculos vão além. É também produtor do segundo disco de Tiazinha (outra habitante do zoológico humano do SBT), para a qual imaginava uma carreira de roqueira, inspirada em Joan Jett, Kiss e bandas indie.
Antes, havia pensado em colar a imagem de Tiazinha a sua composição "Popozuda Rock'n'Roll". Sim, é aquele pancadão que diz "vai, popozuda, vem" e antecipou em meia temporada a febre de funk carioca do verão de 2001.
É que em 2000 o DeFalla havia virado banda de funk (ou "Miami rock", como ele prefere), veiculada pela mesma Sony Music que "descobrira" a "cantora" Tiazinha. Mas a moda do funk pancadão só foi estourar com o Bonde do Tigrão, pela mesma Sony, que então já havia jogado a escanteio tanto o DeFalla como Tiazinha.
Aqui Edu K revela em primeira mão, se se puder acreditar, que Tiazinha suspendeu definitivamente o novo CD e a carreira de cantora. "É minha maldição como produtor. Sempre produzo discos que acabam não saindo, como aconteceu com a Comunidade Nin-Jitsu, os Hip Monsters, a Justa Causa, a Tiazinha."
Ainda tem de justificar a fase "popozuda": "Era um golpe meu, mas não um golpe sujo. Era eu, adorando fazer aquilo. Tenho complexo de Malcolm McLaren à enésima potência". A referência é ao dito inventor dos Sex Pistols, banda punk que revolucionou o pop inglês e mundial em 1977.
Segue: "Fazer música pop é um desafio, e não é um desafio bunda-mole. Quem achou oportunista a "Popozuda Rock'n" Roll" pegou o bonde do DeFalla andando. Já fui gótico, heavy metal, trash, punk, funk, hardcore. Sou tudo isso. Não sou um mentiroso, sou uma pessoa que não se decide, a esquizofrenia em carne e osso".
Do "complexo de McLaren" podem-se extrair outras -e surpreendentes- revelações. Syang, possível candidata a armação da hora, não participa do CD do DeFalla em que ocupa o centro da capa. Mas não é armação, ele jura.
"O DeFalla é minha casa de bonecas, meu brinquedo. Não invento nada, mas dou minha leitura. Syang não está no CD porque gravei ele todo sozinho. Escrevo, invento o visual da banda, crio o ambiente. Syang é uma mina, como eu ia competir com uma mina na capa do CD? Por mais que tente, não vou conseguir ser uma mina. Sou um picareta", confessa.
Picareta ou não, esclarece que Syang (como o resto da banda) só não tocou no CD. Nos shows que fez Brasil afora no ano passado -uns 30, segundo diz-, ela sempre esteve presente, e tocando. "Syang é talentosa, uma estrela. É parecida comigo, até musicalmente, com menos tato e tática", define-a (ou a ele mesmo).
De posse das informações sobre a "Casa 2", viu mais uma vez o sucesso tipo armação bater à porta. "Falei com Syang antes de ela ir para lá, avisei que ia explorá-la. Combinamos e acertamos tudo. Ela foi gentil, até falou para o Silvio ao vivo que era do DeFalla."
Edu K tenta resumir a confusão, de uma posição que chega a parecer a de um anti-Malcolm McLaren. "Sou um merda das ruas, o último dos retardados. Fiz "Popozuda Rock'n'Roll", que foi um hit, e hoje não posso gravar, porque os direitos são da Sony. Tudo bem que sou um artista de merda, mas isso é ridículo. Acontece que eu sou ridículo, porque assinei aquele contrato -e nem posso dizer que era inexperiência", começa.
"Não sou nem quero ser o paladino desse underground medíocre que diz que nunca vai cantar na Xuxa e de repente está lá no sofá dela. Eu quero estar no sofá da Xuxa. Quero é provocar, encher o saco", continua, relativizando.
"A grana sempre foi e continua sendo muito difícil. Hoje, por exemplo, não tenho dinheiro para ir da Barra, onde moro, até Copacabana. Um lado meu quer a catástrofe, quer demolir para reconstruir, quer Narcisa Tamborindeguy na Presidência do Brasil (como ele defende no rock "Ai, que Loucura')." Ai, que loucura.



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