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MÚSICA
Roqueiro reforma o DeFalla e grava CD "com" a guitarrista, que já saiu da banda e foi para a "Casa dos Artistas"
Edu K lança disco "armado" com Syang
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Num cenário em que a cada dia
fica mais difícil distinguir realidade e armação, há quem tome para
si a tarefa de assumir as armações
todas. Este é o caso, parece, do
músico e produtor gaúcho Edu K,
33, eterno líder da inconstante
banda de rock sujo, feio e malvado DeFalla. O grupo volta à ativa,
em nova formação/armação, com
a qual lançou, em janeiro, o CD
ultra-independente "Superstar".
A guitarrista do disco é a brasiliense Syang, 31. Ela já tocou no
grupo punk P.U.S., já tentou carreira solo de roqueira suave e está
lá, em primeiríssimo plano, na capa de "Superstar". E hoje é uma
das "neocelebridades" que ocupam a "Casa dos Artistas" de Silvio Santos, no SBT.
Dois meses antes de o "reality
show" estrear, Syang anunciou ao
parceiro que estava fora do grupo,
porque "tinha projetos individuais, para lançar livros eróticos e
um programa de TV", segundo
diz palavras de Edu K.
"A produção da "Casa" queria
um novo Supla, e eu próprio estava cogitado para participar. Cheguei a ir lá, fiz o teste básico inicial.
Mas acho que eles se deram conta
de que não ia dar certo, porque eu
sou muito podreira", diverte-se.
Diante da deserção de Syang, ele
decidiu brecar "Superstar" e já está gravando novo CD para substituí-lo, sem a moça. Mas, ainda de
olho no rocambole televisivo, já
compôs um rock em homenagem
à loura Ellen Roche, que também
está morando na casa de Silvio.
Seus tentáculos vão além. É
também produtor do segundo
disco de Tiazinha (outra habitante do zoológico humano do SBT),
para a qual imaginava uma carreira de roqueira, inspirada em Joan
Jett, Kiss e bandas indie.
Antes, havia pensado em colar a
imagem de Tiazinha a sua composição "Popozuda Rock'n'Roll".
Sim, é aquele pancadão que diz
"vai, popozuda, vem" e antecipou
em meia temporada a febre de
funk carioca do verão de 2001.
É que em 2000 o DeFalla havia
virado banda de funk (ou "Miami
rock", como ele prefere), veiculada pela mesma Sony Music que
"descobrira" a "cantora" Tiazinha. Mas a moda do funk pancadão só foi estourar com o Bonde
do Tigrão, pela mesma Sony, que
então já havia jogado a escanteio
tanto o DeFalla como Tiazinha.
Aqui Edu K revela em primeira
mão, se se puder acreditar, que
Tiazinha suspendeu definitivamente o novo CD e a carreira de
cantora. "É minha maldição como produtor. Sempre produzo
discos que acabam não saindo,
como aconteceu com a Comunidade Nin-Jitsu, os Hip Monsters,
a Justa Causa, a Tiazinha."
Ainda tem de justificar a fase
"popozuda": "Era um golpe meu,
mas não um golpe sujo. Era eu,
adorando fazer aquilo. Tenho
complexo de Malcolm McLaren à
enésima potência". A referência é
ao dito inventor dos Sex Pistols,
banda punk que revolucionou o
pop inglês e mundial em 1977.
Segue: "Fazer música pop é um
desafio, e não é um desafio bunda-mole. Quem achou oportunista a "Popozuda Rock'n" Roll" pegou o bonde do DeFalla andando.
Já fui gótico, heavy metal, trash,
punk, funk, hardcore. Sou tudo
isso. Não sou um mentiroso, sou
uma pessoa que não se decide, a
esquizofrenia em carne e osso".
Do "complexo de McLaren" podem-se extrair outras -e surpreendentes- revelações. Syang,
possível candidata a armação da
hora, não participa do CD do DeFalla em que ocupa o centro da
capa. Mas não é armação, ele jura.
"O DeFalla é minha casa de bonecas, meu brinquedo. Não invento nada, mas dou minha leitura. Syang não está no CD porque
gravei ele todo sozinho. Escrevo,
invento o visual da banda, crio o
ambiente. Syang é uma mina, como eu ia competir com uma mina
na capa do CD? Por mais que tente, não vou conseguir ser uma mina. Sou um picareta", confessa.
Picareta ou não, esclarece que
Syang (como o resto da banda) só
não tocou no CD. Nos shows que
fez Brasil afora no ano passado
-uns 30, segundo diz-, ela
sempre esteve presente, e tocando. "Syang é talentosa, uma estrela. É parecida comigo, até musicalmente, com menos tato e tática", define-a (ou a ele mesmo).
De posse das informações sobre
a "Casa 2", viu mais uma vez o sucesso tipo armação bater à porta.
"Falei com Syang antes de ela ir
para lá, avisei que ia explorá-la.
Combinamos e acertamos tudo.
Ela foi gentil, até falou para o Silvio ao vivo que era do DeFalla."
Edu K tenta resumir a confusão,
de uma posição que chega a parecer a de um anti-Malcolm McLaren. "Sou um merda das ruas, o
último dos retardados. Fiz "Popozuda Rock'n'Roll", que foi um hit,
e hoje não posso gravar, porque
os direitos são da Sony. Tudo bem
que sou um artista de merda, mas
isso é ridículo. Acontece que eu
sou ridículo, porque assinei aquele contrato -e nem posso dizer
que era inexperiência", começa.
"Não sou nem quero ser o paladino desse underground medíocre que diz que nunca vai cantar
na Xuxa e de repente está lá no sofá dela. Eu quero estar no sofá da
Xuxa. Quero é provocar, encher o
saco", continua, relativizando.
"A grana sempre foi e continua
sendo muito difícil. Hoje, por
exemplo, não tenho dinheiro para
ir da Barra, onde moro, até Copacabana. Um lado meu quer a catástrofe, quer demolir para reconstruir, quer Narcisa Tamborindeguy na Presidência do Brasil
(como ele defende no rock "Ai,
que Loucura')." Ai, que loucura.
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