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LITERATURA
Ben Sherwood fala sobre a relação entre amor e o "Livro dos Recordes", presente em "O Homem que Comeu o 747"
Produtor de TV estréia romance badalado
MARCELO RUBENS PAIVA
ARTICULISTA DA FOLHA
J.J. Smith é um dos guardiões do
"Guinness Book - O Livro dos Recordes", alcunhado por ele como
"O Livro". Em baixa na empresa,
vai apurar um recorde que o daria
prestígio e fama: um homem come um Boeing 747 em Nebraska
por amor.
Com esta idéia engenhosa à
mão, Ben Sherwood, 38, jornalista
e produtor da NBC, rede de TV
americana, ganhador de um
"Emmy" pela cobertura da guerra
em Kosovo, publicou "O Homem
que Comeu o 747", seu primeiro
romance. Nascido em Los Angeles, o produtor do prestigiado
"Nightly News" -programa de
notícias-, que atualmente mora
em Nova York, já havia escrito
textos de não-ficção para jornais.
Sua estréia na literatura foi badalada: seu livro frequentou listas
de best-sellers, já foi traduzido para quase todos os países da Europa e, óbvio, vai virar filme. Há
quatro meses, a cidade Superior,
em que se passa a narrativa, deu-lhe o título de cidadão honorário.
Atualmente, Sherwood prepara
um segundo romance, "uma história sobre vida, morte e amor,
que acontece num lugar incomum", segundo declarou em entrevista por e-mail à Folha.
Folha - O personagem J.J. Smith,
sempre em busca de recordes e
pessoas bizarras, é uma tradução
da sua profissão?
Ben Sherwood - Como muitos de
nós, o personagem principal do
meu romance é um homem em
busca do extraordinário. Ele é o
guardião do "Guinness" e tem
viajado o mundo e testemunhado
os mais estranhos feitos, como o
mais longo vôo de uma rolha de
champanhe. Mas são apenas
aventuras, ele nunca encontrou
um grande amor. Como muitos
jornalistas e muitas pessoas, ele é
um homem que se esconde atrás
do trabalho, reprime as emoções.
Folha - Todos os críticos ficam encantados pela idéia de sua narrativa. Como você a teve?
Sherwood - Sempre fui fascinado pela loucura, pelas coisas impossíveis que as pessoas fazem
por amor. Quem nunca fez nada
ridículo? Talvez eu seja um romântico que quis escrever um livro sobre a busca por um grande
amor e as infinitas formas de lutar
por ele. Quando eu era criança, fui
fascinado pelo "Guinness". Eu
mesmo, com minha irmã, tentei
quebrar o recorde de pula-pula.
Nós fracassamos, claro. Quando
me sentei para escrever sobre as
loucuras que as pessoas fazem por
amor, imediatamente o "Livro
dos Recordes" me veio à cabeça.
Folha - Você foi inspirado pelo
realismo mágico de escritores latinos?
Sherwood - Fui muito inspirado
por eles. Eu os conheci quando estudava em Harvard. Me apaixonei imediatamente pelos seus livros e sempre recorro a García
Marquez e Vargas Llosa para me
lembrar do que se trata a verdadeira imaginação.
Folha - Para alguém que nasceu
em Los Angeles e vive em Nova
York, o interior do país é sempre
mágico e exótico?
Sherwood - Sou um cara da cidade grande, que sempre viajou por
cidades ao redor dos Estados Unidos e do mundo. Algumas pessoas acham que as coisas mais importantes do mundo acontecem
em grandes cidades. Mas eu acho
que os eventos mais significativos
e as histórias mais bonitas acontecem em lugares que os programas
de TV não conhecem, lugares
com pessoas reais.
Folha - Você foi autorizado pelas
pessoas do "Guinness" a escrever e
citar seus recordes?
Sherwood - Eles generosamente
me deram permissão para citá-los. Tudo, em meu livro, é verdadeiro e fatual, com exceção do cara comendo um 747.
Folha - Por que os recordes do
"Guinness" fascinam?
Sherwood - O "Livro dos Recordes" permite à maioria experimentar um pouco do extraordinário, ter um pequeno momento
de grandeza, ver seus nomes escritos para sempre. Há algo de democrático ter o nome de um homem comum ao lado do de Michael Jordan. A humanidade é
fascinante. Os extremos da humanidade são mais fascinantes ainda.
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