São Paulo, quarta-feira, 27 de fevereiro de 2002

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LITERATURA

Ben Sherwood fala sobre a relação entre amor e o "Livro dos Recordes", presente em "O Homem que Comeu o 747"

Produtor de TV estréia romance badalado

MARCELO RUBENS PAIVA
ARTICULISTA DA FOLHA

J.J. Smith é um dos guardiões do "Guinness Book - O Livro dos Recordes", alcunhado por ele como "O Livro". Em baixa na empresa, vai apurar um recorde que o daria prestígio e fama: um homem come um Boeing 747 em Nebraska por amor.
Com esta idéia engenhosa à mão, Ben Sherwood, 38, jornalista e produtor da NBC, rede de TV americana, ganhador de um "Emmy" pela cobertura da guerra em Kosovo, publicou "O Homem que Comeu o 747", seu primeiro romance. Nascido em Los Angeles, o produtor do prestigiado "Nightly News" -programa de notícias-, que atualmente mora em Nova York, já havia escrito textos de não-ficção para jornais.
Sua estréia na literatura foi badalada: seu livro frequentou listas de best-sellers, já foi traduzido para quase todos os países da Europa e, óbvio, vai virar filme. Há quatro meses, a cidade Superior, em que se passa a narrativa, deu-lhe o título de cidadão honorário.
Atualmente, Sherwood prepara um segundo romance, "uma história sobre vida, morte e amor, que acontece num lugar incomum", segundo declarou em entrevista por e-mail à Folha.

Folha - O personagem J.J. Smith, sempre em busca de recordes e pessoas bizarras, é uma tradução da sua profissão?
Ben Sherwood -
Como muitos de nós, o personagem principal do meu romance é um homem em busca do extraordinário. Ele é o guardião do "Guinness" e tem viajado o mundo e testemunhado os mais estranhos feitos, como o mais longo vôo de uma rolha de champanhe. Mas são apenas aventuras, ele nunca encontrou um grande amor. Como muitos jornalistas e muitas pessoas, ele é um homem que se esconde atrás do trabalho, reprime as emoções.

Folha - Todos os críticos ficam encantados pela idéia de sua narrativa. Como você a teve?
Sherwood -
Sempre fui fascinado pela loucura, pelas coisas impossíveis que as pessoas fazem por amor. Quem nunca fez nada ridículo? Talvez eu seja um romântico que quis escrever um livro sobre a busca por um grande amor e as infinitas formas de lutar por ele. Quando eu era criança, fui fascinado pelo "Guinness". Eu mesmo, com minha irmã, tentei quebrar o recorde de pula-pula. Nós fracassamos, claro. Quando me sentei para escrever sobre as loucuras que as pessoas fazem por amor, imediatamente o "Livro dos Recordes" me veio à cabeça.

Folha - Você foi inspirado pelo realismo mágico de escritores latinos?
Sherwood -
Fui muito inspirado por eles. Eu os conheci quando estudava em Harvard. Me apaixonei imediatamente pelos seus livros e sempre recorro a García Marquez e Vargas Llosa para me lembrar do que se trata a verdadeira imaginação.

Folha - Para alguém que nasceu em Los Angeles e vive em Nova York, o interior do país é sempre mágico e exótico?
Sherwood -
Sou um cara da cidade grande, que sempre viajou por cidades ao redor dos Estados Unidos e do mundo. Algumas pessoas acham que as coisas mais importantes do mundo acontecem em grandes cidades. Mas eu acho que os eventos mais significativos e as histórias mais bonitas acontecem em lugares que os programas de TV não conhecem, lugares com pessoas reais.

Folha - Você foi autorizado pelas pessoas do "Guinness" a escrever e citar seus recordes?
Sherwood -
Eles generosamente me deram permissão para citá-los. Tudo, em meu livro, é verdadeiro e fatual, com exceção do cara comendo um 747.

Folha - Por que os recordes do "Guinness" fascinam?
Sherwood -
O "Livro dos Recordes" permite à maioria experimentar um pouco do extraordinário, ter um pequeno momento de grandeza, ver seus nomes escritos para sempre. Há algo de democrático ter o nome de um homem comum ao lado do de Michael Jordan. A humanidade é fascinante. Os extremos da humanidade são mais fascinantes ainda.



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