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POPLOAD
A banda que chutou o sucesso para fora
LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA
A gravadora paulistana
Sum Records tem um jeito
peculiar de lançar discos. Nem
sempre novidades, nem sempre
seguindo uma estratégia que faça
um sentido aparente, a gravadora
de quando em quando desova um
pacote de uma dúzia de discos
que pode conter a mais cintilante
novidade do pop escocês ou um
disco fora de catálogo de um
gangsta rap que originalmente foi
lançado no começo dos anos 90. É
sempre uma surpresa.
O mais recente derrame de CDs
da Sum Records, num total de dez
discos, tem de música eletrônica
argentina a uma homenagem
póstuma ao rapper 2Pac Shakur.
E, no meio deles, um tesouro para
quem teve um ouvido sintonizado no rock britânico do final dos
anos 80 e começo dos 90.
Por alguma conspiração divina,
saiu aqui o álbum "George Best",
da banda inglesa Wedding Present, cultuado grupo de Leeds,
adorado pela crítica, freqüentador do Top 40 britânico, mas que
nunca chegou a sair do limbo underground.
Este "George Best" que chega é
na versão "Plus", lançado na Inglaterra em 2001 e aditivado por
singles e faixas bônus. O original é
de 1987.
Desencontros amorosos
Numa comparação torta, o
Wedding Present é uma espécie
de Smiths menos gay, mais tosco,
menos lírico, mas intensamente
romântico da mesma forma. A
música do Wedding Present refletia a personalidade do guitarrista
David Gedge, o sujeito mais boa
gente e mais confuso do rock inglês nos 80/90.
Uma mistura de letras prolixas
sobre desencontros amorosos e as
agruras da vida cotidiana vinha
musicada por uma estridente cortina de guitarras. Mas bem lá no
fundo dava para sentir o excelente
ritmo, a urgência e a forte emoção
que parecia sair da alma atormentada de Gedge.
Algo como se o guitarrista
Johnny Marr, ex-Smiths, tocasse
no Jesus & Mary Chain. E tendo o
Morrissey como vocalista, mas
não dando para entender o que
ele cantava.
O Wedding Present não decolou, mesmo sendo a banda predileta de gente como o Everett True
(jornalista do extinto semanário
britânico "Melody Maker") e pelo
lendário radialista John Peel (da
rede BBC). Do meio dos anos 90
em diante, a banda degringolou
em discos ruins e Gedge acabou
sozinho.
Esse "George Best Plus" traz em
CD nove músicas bônus dos singles "Nobody's Twisting You
Arm" e "Why Are You Being So
Reasonable Now", este último
com um cover dos Beatles, a música "Getting Better".
Futebol
A capa deste CD é curiosa para
quem aprecia futebol. George
Best, o jogador barbudo da foto, é
uma espécie de Garrincha do futebol britânico. Como era da Irlanda do Norte, nunca jogou uma
Copa do Mundo. Mas, em clubes,
foi grande ídolo da torcida do
Manchester United, a maior da
Inglaterra.
Como sempre gostou de farra e
bebida, decaiu antes mesmo dos
30 anos. Chegou a passar pelo
Cosmos, de Nova York, antes de
Pelé. Aposentado, passou a beber
desesperadamente. Nos últimos
anos, fez um transplante de fígado
para sobreviver. Mas revoltou a
opinião pública no final de 2003
quando foi visto bebendo outra
vez. Também bateu na mulher,
que insistiu por anos em sua recuperação e finalmente o abandonou. Este ano, foi detido por dirigir alcoolizado.
lucio@uol.com.br
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