São Paulo, sexta-feira, 27 de fevereiro de 2004

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POPLOAD

A banda que chutou o sucesso para fora

LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA

A gravadora paulistana Sum Records tem um jeito peculiar de lançar discos. Nem sempre novidades, nem sempre seguindo uma estratégia que faça um sentido aparente, a gravadora de quando em quando desova um pacote de uma dúzia de discos que pode conter a mais cintilante novidade do pop escocês ou um disco fora de catálogo de um gangsta rap que originalmente foi lançado no começo dos anos 90. É sempre uma surpresa.
O mais recente derrame de CDs da Sum Records, num total de dez discos, tem de música eletrônica argentina a uma homenagem póstuma ao rapper 2Pac Shakur. E, no meio deles, um tesouro para quem teve um ouvido sintonizado no rock britânico do final dos anos 80 e começo dos 90.
Por alguma conspiração divina, saiu aqui o álbum "George Best", da banda inglesa Wedding Present, cultuado grupo de Leeds, adorado pela crítica, freqüentador do Top 40 britânico, mas que nunca chegou a sair do limbo underground.
Este "George Best" que chega é na versão "Plus", lançado na Inglaterra em 2001 e aditivado por singles e faixas bônus. O original é de 1987.

Desencontros amorosos
Numa comparação torta, o Wedding Present é uma espécie de Smiths menos gay, mais tosco, menos lírico, mas intensamente romântico da mesma forma. A música do Wedding Present refletia a personalidade do guitarrista David Gedge, o sujeito mais boa gente e mais confuso do rock inglês nos 80/90.
Uma mistura de letras prolixas sobre desencontros amorosos e as agruras da vida cotidiana vinha musicada por uma estridente cortina de guitarras. Mas bem lá no fundo dava para sentir o excelente ritmo, a urgência e a forte emoção que parecia sair da alma atormentada de Gedge.
Algo como se o guitarrista Johnny Marr, ex-Smiths, tocasse no Jesus & Mary Chain. E tendo o Morrissey como vocalista, mas não dando para entender o que ele cantava.
O Wedding Present não decolou, mesmo sendo a banda predileta de gente como o Everett True (jornalista do extinto semanário britânico "Melody Maker") e pelo lendário radialista John Peel (da rede BBC). Do meio dos anos 90 em diante, a banda degringolou em discos ruins e Gedge acabou sozinho.
Esse "George Best Plus" traz em CD nove músicas bônus dos singles "Nobody's Twisting You Arm" e "Why Are You Being So Reasonable Now", este último com um cover dos Beatles, a música "Getting Better".

Futebol
A capa deste CD é curiosa para quem aprecia futebol. George Best, o jogador barbudo da foto, é uma espécie de Garrincha do futebol britânico. Como era da Irlanda do Norte, nunca jogou uma Copa do Mundo. Mas, em clubes, foi grande ídolo da torcida do Manchester United, a maior da Inglaterra.
Como sempre gostou de farra e bebida, decaiu antes mesmo dos 30 anos. Chegou a passar pelo Cosmos, de Nova York, antes de Pelé. Aposentado, passou a beber desesperadamente. Nos últimos anos, fez um transplante de fígado para sobreviver. Mas revoltou a opinião pública no final de 2003 quando foi visto bebendo outra vez. Também bateu na mulher, que insistiu por anos em sua recuperação e finalmente o abandonou. Este ano, foi detido por dirigir alcoolizado.

lucio@uol.com.br


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