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análise
Oscar muda e se rende ao diretor
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
Fala-se muito nos
"critérios de premiação da Academia" como se eles fossem
fossilizados, fruto de universo reduzido de eleitores. Na verdade, cerca de
6.000 profissionais, com
diferentes formações e
predileções, integram a
instituição, que está em
constante processo de renovação.
A cada ano, por exemplo, ingressam no sistema
todos os indicados ao Oscar e saem os mortos.
Além disso, muita gente
com direito a voto prefere
se manter à margem da
eleição (por não se sentir
motivado a participar) ou
"pular" algumas categorias. Só os auditores têm
idéia concreta dos números. E nunca os revelam
publicamente.
Logo, a Academia que
preteriu Martin Scorsese
nos anos 70 (quando nem
mesmo foi indicado por
"Caminhos Perigosos" e
"Taxi Driver"), 80 (na risível derrota de "Touro Indomável" para "Gente Como a Gente") e 90 (quando
"Os Bons Companheiros"
perdeu para "Dança com
Lobos") já não existe.
Aquela era composta
por pessoas majoritariamente mais velhas do que
o próprio Scorsese, vindas
de uma Hollywood muito
diferente e ainda sonhando com ela. A atual reúne
diversas gerações posteriores à de Scorsese, para
as quais ele, Francis Coppola, Steven Spielberg e
George Lucas são, por motivos distintos, ídolos. Velhinhos adoráveis, porque
um dia representaram a
rebeldia.
Examine-se "Os Infiltrados" à luz da Academia
dos anos 70 e 80, e ele seria
ignorado por razões objetivas e pueris: corre muito
sangue, morrem quase todos os personagens principais (uma das traduções
para "The Departed" é "os
finados"), não há boa
"mensagem", apenas a
constatação de que o mundo é selvagem, injusto e
cheio de ratos.
Décadas depois, com a
indicação de "Pulp Fiction" (1994) ao Oscar de
melhor filme no meio do
caminho, as mesmas razões -que ajudaram a
transformar "Os Infiltrados" em sucesso internacional de bilheteria- estão no pólo oposto.
Violência não é problema em si, morte de protagonistas gera deleite especial e ceticismo diante da
sociedade de consumo e é
o mínimo a esperar de um
filme com neurônios. Refilmagem de um policial
sangrento oriental? Tanto
melhor. É procedimento
"cult".
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