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Wilfredo Lam traduz a selvageria em gravuras
Artista cubano tem mostra com 200 obras em SP
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
Num olhar rápido, parece
fingido o caráter ancestral, primevo, das figuras de Wilfredo
Lam. Desenhadas no vazio ou
emolduradas pela cor vibrátil,
lembram o cubismo de Picasso
e suas máscaras africanas.
Só lembram, já que traduzem
a vanguarda europeia para os
trópicos. Cubano radicado em
Paris, filho de pai chinês e mãe
mulata da ilha, Lam foi o ser híbrido que se transmuta em suas
gravuras, 200 delas agora em
mostra na Estação Pinacoteca.
São mulheres desconjuntadas, cavalos, anêmonas, massacres, pássaros arrepiados ou retilíneos, touros, espingardas,
colunas espinhosas, insetos
geométricos, faces e olhos vazados, um parto às avessas.
Não é o exótico aclimatado
que orienta seu mundo pendular, entre hostil e feérico. Lam
extrai a selvageria da própria
carne. Plasma em seus traços,
como que fraturas expostas, a
realidade tropical que europeus retrataram sempre mistificada, com pegada maneirista.
Em suma, seus pássaros-máquina, pássaros-dragão, aves-geringonça, o zunido infernal
de porcas, parafusos e arestas,
mostram uma "intuição primitiva", o "orgulho da ferocidade", nas palavras do curador da
mostra, Paulo Venancio Filho.
Emprestou suas linhas para
ilustrar os versos dos surrealistas e depois a realidade fantástica de Gabriel García Márquez.
Na série "El Último Viaje del
Buque Fantasma", enxuga detalhes, engrossa os contornos e
afoga texturas na cor que se
torna mais violenta. Tudo flutua num vazio envoltório, ou
espaço de diluição luminosa.
Foi a síntese que veio depois
de obras mais complexas, em
que Lam expõe vísceras de criaturas alternando camadas de
transparência. Deixa ver através da pele uma dor latente, a
digestão renhida que turbina
um espocar de manchas do lado
de fora. No rosto das criaturas,
grandes olhos vazios engolem
tudo que está fora do quadro.
WILFREDO LAM
Quando: abertura hoje, às 11h; de
ter. a dom., das 10h às 18h; até 2/5
Onde: Estação Pinacoteca (lgo. General Osório, 66, tel. 0/xx/11/
3335-4990)
Quanto: R$ 6
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