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NOVA YORK, 23/2/1999
Debbie ainda é objeto de desejo
RICARDO CALIL
especial para a Folha, de Nova York
A expectativa em torno do
primeiro show do Blondie em
Nova York depois de 17 anos,
realizado na última terça-feira
no Town Hall, era enorme. Em
primeiro lugar, porque a banda
nasceu aqui e, com o tempo,
tornou-se uma espécie de patrimônio cultural do underground nova-iorquino.
Segundo, porque, como em
todos os retornos de velhas
bandas, existe sempre uma dúvida sobre as reais motivações
por trás da empreitada. Mais
um projeto caça-níquel ou o último suspiro criativo?
O público pode ter saído sem
uma resposta, mas comemorou o retorno do Blondie como
a volta do filho pródigo.
A banda entrou no palco um
pouco fria e, naturalmente, ansiosa. Ainda assim, eles mostraram versões competentes
para os clássicos "Dreaming" e
"Hanging on the Telephone".
Depois da nova "Screaming
Skin", a banda começou a se
soltar aos poucos.
Tudo no show cheirava a
anos 80: os solos narcisistas do
baterista Clem Burke, os acordes básicos do tecladista Jimmy
Destri, a atitude cool do guitarrista Chris Stein.
Mas, por incrível que pareça,
a química entre eles continua
perfeita -e o som, primoroso.
A voz de Debbie Harry está tão
sensual quanto antes, mas,
aparentemente, mais técnica.
"Maria", o primeiro single,
tem um refrão grudento e chatinho. "Boom Boom in the
Zoom Zoom Room" abusou no
clima jazzy. Os pontos altos foram "Heart of Glass", "Call
Me" e "Sunday Girl".
Elas reafirmaram, se é que isso era necessário, a importância do Blondie na história do
rock e tornaram o retorno uma
decisão não só justificável como também desejável.
A atuação de Debbie Harry
no show foi um capítulo à parte. Objeto do desejo de todos os
adolescentes que juntavam
duas idéias nos anos 80, Debbie
voltou ao palco com muitos
anos e quilos a mais.
Enquanto Jane Fonda (outro
símbolo sexual do período),
por exemplo, passou os últimos anos malhando em uma
academia de ginástica e ficando
careta, Debbie sabiamente parece ter gasto o tempo tomando
cerveja com os amigos no bar.
Hoje, talvez ela já não possa
mais ser definida como "a Marilyn Monroe do rock". Está
mais para uma musa de Renoir
-ou ainda a mãe da namorada
que se deseja secretamente.
E Debbie Harry provou no
show (como "A Primeira Noite
de um Homem" havia provado
30 anos atrás no cinema) que
essa também pode ser uma
possibilidade sexualmente interessante.
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