São Paulo, Sábado, 27 de Fevereiro de 1999
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NOVA YORK, 23/2/1999
Debbie ainda é objeto de desejo

RICARDO CALIL
especial para a Folha, de Nova York

A expectativa em torno do primeiro show do Blondie em Nova York depois de 17 anos, realizado na última terça-feira no Town Hall, era enorme. Em primeiro lugar, porque a banda nasceu aqui e, com o tempo, tornou-se uma espécie de patrimônio cultural do underground nova-iorquino.
Segundo, porque, como em todos os retornos de velhas bandas, existe sempre uma dúvida sobre as reais motivações por trás da empreitada. Mais um projeto caça-níquel ou o último suspiro criativo?
O público pode ter saído sem uma resposta, mas comemorou o retorno do Blondie como a volta do filho pródigo.
A banda entrou no palco um pouco fria e, naturalmente, ansiosa. Ainda assim, eles mostraram versões competentes para os clássicos "Dreaming" e "Hanging on the Telephone". Depois da nova "Screaming Skin", a banda começou a se soltar aos poucos.
Tudo no show cheirava a anos 80: os solos narcisistas do baterista Clem Burke, os acordes básicos do tecladista Jimmy Destri, a atitude cool do guitarrista Chris Stein.
Mas, por incrível que pareça, a química entre eles continua perfeita -e o som, primoroso. A voz de Debbie Harry está tão sensual quanto antes, mas, aparentemente, mais técnica.
"Maria", o primeiro single, tem um refrão grudento e chatinho. "Boom Boom in the Zoom Zoom Room" abusou no clima jazzy. Os pontos altos foram "Heart of Glass", "Call Me" e "Sunday Girl".
Elas reafirmaram, se é que isso era necessário, a importância do Blondie na história do rock e tornaram o retorno uma decisão não só justificável como também desejável.
A atuação de Debbie Harry no show foi um capítulo à parte. Objeto do desejo de todos os adolescentes que juntavam duas idéias nos anos 80, Debbie voltou ao palco com muitos anos e quilos a mais.
Enquanto Jane Fonda (outro símbolo sexual do período), por exemplo, passou os últimos anos malhando em uma academia de ginástica e ficando careta, Debbie sabiamente parece ter gasto o tempo tomando cerveja com os amigos no bar.
Hoje, talvez ela já não possa mais ser definida como "a Marilyn Monroe do rock". Está mais para uma musa de Renoir -ou ainda a mãe da namorada que se deseja secretamente.
E Debbie Harry provou no show (como "A Primeira Noite de um Homem" havia provado 30 anos atrás no cinema) que essa também pode ser uma possibilidade sexualmente interessante.


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