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MÚSICA ERUDITA
Maestro Kurt Masur, 70, exclui compositores brasileiros do repertório da orquestra em turnê nacional
Filarmônica de Nova York volta ao Brasil
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
enviado especial a Nova York
A Orquestra Filarmônica de Nova York, sob o comando do maestro Kurt Masur, vai se apresentar
nos dias 16, 17 e 18 de junho no
Teatro Municipal de São Paulo e
no dia 19 no Municipal do Rio. Será a quinta visita da mais antiga orquestra sinfônica do hemisfério ao
Brasil.
Masur, que está completando 70
anos, já esteve no país dez vezes.
Em 74, quando era regente convidado da OSB (Orquestra Sinfônica
Brasileira), ele conheceu sua atual
mulher, a japonesa Tomoko Sakurai, que tocava viola na OSB.
"Os músicos trabalhavam muito para atingir um alto nível artístico, apesar das enormes dificuldades que enfrentavam. Quando
amam o seu maestro, os músicos
brasileiros são capazes de tocar como anjos", disse ele à Folha, recordando seu período na OSB.
Apesar de sua simpatia pelo Brasil, Masur não selecionou nenhuma composição de autores brasileiros para o repertório da Filarmônica na excursão de junho. O
que de mais próximo do Brasil as
platéias brasileiras ouvirão serão
as "Impressioni Brasiliane", do
italiano Ottorino Respighi
(1879-1936).
Respighi escreveu esse trabalho
em 1927, após uma longa visita ao
Brasil, e o estreou no Rio no ano
seguinte. A suíte se divide em três
movimentos: "Noite Tropical",
"Butantan" (inspirado por uma
visita do autor ao Instituto Butantan, em São Paulo) e "Canção e
Dança" (a partir de músicas do
Carnaval carioca).
Masur, que já regeu trabalhos de
Villa-Lobos e Guerra Peixe, se diz
um grande admirador da música
folclórica e popular do Brasil: "O
samba é a música com maior força
em todo o mundo. Acho que a música popular no Brasil já tem uma
expressão tamanha para a sociedade que não precisa tanto do clássico. Um samba pode valer tanto
quanto um Beethoven".
Além de Respighi, o programa
da Filarmônica no Brasil terá dois
trechos de Richard Wagner
(1813-1883), a abertura da ópera
"Tanhauser" e o prelúdio do primeiro ato de "Die Meistersinger"; dois trabalhos curtos de
Pyotr Tchaikovsky (1840-1893), a
fantasia-abertura "Romeu e Julieta" e as "Variações em Rococó"
para cello (com o solista Carter
Brey); uma adaptação sinfônica da
ópera "Porgy and Bess", de George Gershwin (1898-1937); o "Concerto para Cordas e Metais" de
Paul Hindemith (1895-1963); o
concerto "Renascença" para
flauta e orquestra (com a solista
Jeanne Baxtresser), de Lukas Foss
(1922-); a suíte sinfônica "Sheherazade", de Rimsky-Korsakov
(1844-1908) e a "Sinfonia Nş 3" de
Anton Bruckner (1824-1896).
Masur e os músicos da orquestra
dizem estar disponíveis para encontros com músicos e estudantes
brasileiros durante sua visita. O
maestro, que está em Nova York
desde 91, após 26 anos à frente da
Orquestra Gewandhaus de Leipzig, na Alemanha, afirma ter feito
sua escolha de repertório com o
objetivo de deixar satisfeitas as
platéias que visitar.
Para isso, escolheu algumas peças com elementos contemporâneos ("Porgy and Bess", que ele
diz que o faz lembrar de "Orfeu
Negro", e os concertos de Hindemith e Foss, de inspiração jazzística), outras tradicionais (como
Wagner, Tchaikovsky e
Rimsky-Korsakov) e uma um
pouco difícil (Bruckner).
A excursão de junho, que inclui
Porto Rico, México, Chile e Argentina, além de Brasil, é patrocinada
pelo Citibank, como foram as mais
recentes idas da Filarmônica à
América Latina (em 82 e 87, com
Zubin Mehta, e em 1992, com Masur). A primeira visita da orquestra ao Brasil aconteceu em 58, sob
o comando de Leonard Bernstein.
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