|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TEATRO
Beto Bellini é suspeito de falsificar documentos e receber verbas de patrocínio de cerca de R$ 478 mil
Produtor carioca é acusado de fraude
da Sucursal do Rio
A RioArte -órgão que incentiva a produção, pesquisa e difusão
de cultura no município- encaminhou na última sexta à controladoria da Prefeitura do Rio documentos referentes a três projetos
teatrais suspeitos de utilização
fraudulenta. O caso envolve verbas públicas da ordem de 450 Ufir
(R$ 478 mil, em valores atuais).
A atriz Patrícia Gordo e a diretora Christina Streva, sócias na produtora Streva Gordo, acusam o
produtor Carlos Alberto Belline,
conhecido como Beto Bellini, dono da Brumália Produções, de falsificar documentos e, por meio de
intermediários, receber verbas de
patrocínio. Bellini produziu a peça "Um Passeio no Bosque", em
cartaz em São Paulo.
Patrícia e Christina pediram no
dia 21 de março a instauração de
inquérito policial contra Beto Bellini para apurar crime fiscal, falsificação de documentos, falsidade
ideológica e estelionato.
A história começou em setembro de 1998, quando Bellini conheceu Patrícia Gordo durante as
gravações da novela "Torre de Babel", da Rede Globo. "Nos conhecemos durante os cinco dias de
gravação, e ele falava de sua experiência de produtor e de como poderíamos montar um espetáculo
juntos", diz Patrícia.
Bellini teria convidado Patrícia,
que já abrira a Streva Gordo com
Christina, para montar uma peça
com verbas de patrocínio que ele
afirmara receber dos hospitais Samaritano e Procardíaco.
Christina conta que Bellini propôs que a Streva Gordo assumisse
o projeto porque a Brumália já tinha outros dois projetos apresentados à RioArte e tinha pendências burocráticas.
As duas produtoras decidiram
que usariam a verba prometida
para produzir "Loucos de Amor",
do dramaturgo americano Sam
Shepard.
Bellini as convenceu a pedirem
à RioArte a transferência de responsabilidade do projeto "Os
Príncipes" para a Streva Gordo.
Segundo ele, seria simples depois
trocar a estrutura dessa peça para
transformá-la em "Loucos de
Amor", mas advertiu-as de que
isso demoraria mais de um ano.
Segundo Christina, a relação
dela e de Patrícia com Bellini terminou quando ele propôs o uso
da verba de um projeto em outras
peças. "Eu disse a ele que não estávamos no mercado para servirmos de "laranja" para ninguém.
Não nos falamos mais, e a empresa nunca foi usada por nós para
produzir peças."
Ela diz que ficou surpresa quando descobriu, no início de março,
que havia projetos no nome da
produtora tocados sem o conhecimento dela e de Patrícia.
Bellini, ainda segundo Christina, falsificou a assinatura de Patrícia Gordo em mais de 300 documentos e chegou a abrir uma conta fantasma para receber e gerenciar o dinheiro arrecadado em cada projeto.
Para não ser diretamente vinculado à fraude, Bellini teria usado a
ex-bilheteira Lindiomar Pereira
Ferreira como "laranja". Ela abriu
a produtora 2B e fazia as transações com cheques que eram depositados em uma conta da Streva Gordo. Segundo Patrícia e
Christina, essa conta foi aberta
sem que elas tivessem conhecimento, com o uso de assinaturas
falsificadas.
Lindiomar diz que serviu de
mensageira de luxo, levando cheques e outros documentos da prefeitura para Bellini, que, segundo
ela, dizia que Patrícia Gordo era
uma amiga de escola que cedera a
empresa para aqueles projetos.
A confusão foi descoberta em
fevereiro deste ano pela RioArte.
Sônia Dantas, secretária-executiva da RioArte, conta que sua antecessora no cargo, Loana Maia, estranhou um documento que pedia a mudança do nome do projeto "Os Príncipes" para "Perpétua". "Achamos que as alterações
eram grandes demais. "Os Príncipes" é uma peça para quatro atores, "Perpétua", para dois. E, como
eu sabia que "Perpétua" já tinha sido montada em São Paulo, não
precisaria de novos cenários. Onde iam gastar o dinheiro captado
por meio da lei de incentivo à cultura?", diz Sônia.
A lei municipal citada é a 1.940,
de 1992, e prevê o uso em projetos
culturais de até 20% do ISS (Imposto sobre Serviços) devido por
empresas. Por meio desse incentivo, a produtora foi autorizada a
captar R$ 176 mil, o máximo permitido pela lei. "Os Príncipes"
captou R$ 135.761.
Outro detalhe que deixou Sônia
Dantas intrigada foi o fato de que
em nenhum cartaz ou mesmo no
programa da peça havia o nome
da produtora Streva Gordo.
"Achei estranho, porque o que
uma produtora mais quer é ver
seu nome no cartaz. É bom marketing."
Patrícia Gordo foi chamada a
prestar esclarecimentos e demonstrou surpresa. "Ela ficou assustada. Afirmou que sua assinatura tinha sido falsificada. Nós
dissemos para ela que, se isso
aconteceu, seria caso de polícia,
porque todos os documentos vinham com assinaturas dela autenticadas em cartório. Para a
RioArte, o que é necessário esclarecer são as alterações detectadas
no projeto de "Os Príncipes", que
virou "Perpétua"."
Mas não é só Patrícia que acusa
Bellini de praticar golpes. Dionísio Neto, autor de "Perpétua", a
peça que inadvertidamente foi a
responsável pela descoberta da
fraude, diz que montou o espetáculo com seu próprio dinheiro,
sem nenhum real de patrocínio, e
que foi enganado por Bellini.
"Procuramos por um produtor
para nos auxiliar no Rio. Fomos
sem nenhum patrocínio e ficamos hospedados na casa de amigos. Bellini disse que faria propaganda do espetáculo em troca de
5% da bilheteria, mas só apareceu
no dia da estréia. Ficamos sem dinheiro e tivemos que cancelar a
temporada."
Irritado quando soube que seu
nome estava envolvido no caso,
Dionísio enviou uma carta formal
à RioArte tentando esclarecer o
que aconteceu. "Samantha Monteiro, que atuou e produziu a peça
comigo, ligou para Bellini para
perguntar o que aconteceu, e ele
disse que não arrecadou todos os
R$ 176 mil e que acabou usando o
dinheiro na peça "Um Passeio no
Bosque"."
"Passeio" já foi montada no Rio.
É outro projeto que está em nome
da Streva Gordo tocado por Bellini e que também recebeu autorização da RioArte para captar R$
176 mil. Sofreu também uma mudança de nome -antes se chamava "Na Bagunça do Teu Coração".
O terceiro projeto feito sob o
nome da Streva Gordo é uma coleção de CDs da pianista Míriam
Ramos, que usou uma verba de
cerca de R$ 60 mil da RioArte. É o
único que não apresentou irregularidades aparentes, mas, como
os outros, não é reconhecido pelas produtoras.
Texto Anterior: Música: Vocalista do AC/DC reforça conservadorismo do rock Próximo Texto: Outro lado: "Tudo é mentira", diz Bellini Índice
|