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O PODER DA FANTASIA
Ilustrador de "O Senhor dos Anéis", Alan Lee analisa o "revival" de lendas nórdicas e arturianas
Feras e mitos criam "playground seguro"
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Reza a lenda que poucos artistas, nem mesmo o próprio autor,
que também arriscava as suas
pinceladas, retrataram com tamanha fidelidade o universo criado
por J.R.R. Tolkien (1892-1973) em
"O Senhor dos Anéis" como o
ilustrador inglês Alan Lee, 57.
Autor, entre outras, das aquarelas que acompanham as edições
de luxo da Martins Fontes, Lee foi
o escolhido por Peter Jackson para dar "a cara" da adaptação da
trilogia para o cinema.
"Eu não tinha idéia que o filme
estava sendo feito até receber pelo
correio um pacote, com dois vídeos, "Almas Gêmeas" [94] e "Forgotten Silver" [95]. Era o final de
1997. Peter ressaltou o que queria
e me convidou. Já tinha ouvido falar bem dele, mas fui assistir aos
vídeos e, em janeiro de 98, estava
pegando o avião para cá", contou
Lee em entrevista por e-mail à Folha, da Nova Zelândia.
Juntamente com os de John Howe, outro conhecido ilustrador de
Tolkien, seus desenhos inspiraram os cenários da superprodução -mais ainda, as encarnações
"reais" de Frodo, Sam, Galadriel e
Gollum parecem ter criado vida a
partir das pinturas de Lee.
Especializado em retratar os mitos do folclore nórdico, sua estréia
oficial foi no clássico "Faeries"
(1978), de David Larkin, em que
divide as ilustrações com o colega
Brian Froud. Além de versões da
"Ilíada" e da "Odisséia", Lee ilustrou muitas das chamadas lendas
arturianas, entre elas, a saga "O
Único e Eterno Rei", de T.H. White (1906-64), que a editora W11
começa a trazer agora ao Brasil,
com o lançamento da primeira
parte, "A Espada na Pedra".
"Tomei contato com "A Espada
na Pedra" antes de conhecer "Senhor dos Anéis". Há paralelos óbvios entre os dois: a passagem, por
meio de provas e perigos, de uma
vida rural e inocente para um papel predestinado de responsabilidade. A semelhança entre Gandalf e Merlin, como as forças motrizes da mudança, os xamãs. O
sentimento de perda e melancolia
que permeia as duas histórias..."
"A Pedra na Espada" narra os
primeiros anos da vida de Wart
-que, no futuro, e depois de conseguir arrancar a espada da pedra
em questão, se torna o lendário rei
Arthur-, além do seu encontro
com o mago Merlin. Magos, corujas, espadas, cavaleiros, enfim,
uma série de elementos que fazem
todo o sentido hoje dado o sucesso de franquias como "Senhor
dos Anéis" e "Harry Potter".
"O fato de serem recheadas de
feras estranhas e de personagens
semi-humanos só acrescenta
charme a essas histórias", opina
Lee, quando questionado sobre o
retorno da fantasia à sala de jantar. "O central nisso tudo são as
relações entre os personagens e o
seu crescimento ao longo de suas
jornadas. São um playground seguro, no qual todos os papéis que
tomamos como seriamente desafiadores na vida real podem ser
simbolicamente representados e
trabalhados. São menos uma fuga
da realidade e mais uma preparação para ela. Veja só: se esse fosse
o caso, eu deveria estar soberbamente preparado para a vida real,
mas definitivamente não estou!"
"Especialmente agora que comecei a pensar em mudar de volta
à Inglaterra, tendo de lidar com
toda a bagunça que se acumulou
nesses seis anos em que estive
nessa jornada mágica extraordinária... Bem, depois de um feriado
e de uma boa limpeza na casa, certamente voltarei para os meus livros. Pelo menos até a chegada o
próximo pacote misterioso", diz.
A ESPADA NA PEDRA. De: T.H. White.
Arte: Alan Lee. Lançamento: W11
Editores. Quanto: R$ 37,80 (312 págs.).
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