São Paulo, domingo, 27 de março de 2005

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MÚSICA

Lafayette Coelho Vargas volta aos palcos cultuado por bandas jovens; músico se apresenta amanhã em São Paulo

Indies adotam tecladista da jovem guarda

NINA LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA

O tecladista carioca Lafayette Coelho Vargas, 61, é um dos mitos da jovem guarda, mas andava sumido apesar de já ter lançado 28 discos no Brasil e outros muitos fora daqui. Lafa, para os fãs, é considerado um dos músicos mais importantes da época do trio "Rei-Ternurinha-Tremendão". É dele, por exemplo, o solo de "E que Tudo Mais Vá pro Inferno", na primeira versão de Roberto Carlos. Seus discos são disputados em sebos por jovens músicos. Só que quase ninguém sabia do paradeiro do tecladista. Na verdade, poucos sabiam que aquele som havia sido criado por ele.
As coisas mudaram. Amanhã, às 20h, Lafayette se apresenta com a banda Lafayette e os Tremendões no Vivo Open Air, no Jockey Clube (av. Lineu de Paula Machado, 1.263, tel. 0/xx/11/3031-2030; R$ 36). Está cercado de jovens de bandas indies do Rio, como Gabriel Thomás (Autoramas), Nervoso e Renato Martins, do Acabou la Tequila e Érica, do Penélope. Lafayette, que já era objeto de culto entre os músicos jovens, agora vira cult entre os indies.
A união improvável e a volta de Lafayette aos palcos badalados aconteceu quando Gabriel e Nervoso montaram a banda os Tremendões. Em uma noite do fim do ano passado, Lafayette se apresentava mais uma vez em um baile em Alcântara (subúrbio de Niterói) com a mulher, Dina. No meio do baile, o pianista foi abortado por Gabriel Thomás. Munido de 20 vinis de Lafayette, provou que era fã de verdade. E a união improvável aconteceu e lota espaços de shows no Rio.
"Eu não sabia que os jovens gostavam de mim. Achava que o meu público era só de pessoas de mais de 40 anos", diz Lafa. "As pessoas agora estão gostando daquilo que a gente fazia, acho surpreendente. Os jovens achavam que aquilo era muito água-com-açúcar."
Ele fala do tempo em que ficou afastado dos holofotes sem mágoas e com resignação. Não sabe quantos discos vendeu. "Foram muitos, naquela época a indústria não era organizada como hoje." Desde o meio dos anos 70, já havia se contentado com a vida de tocar em bailes. "Gosto de música, então não me importo de tocar forró. E estava dando para viver."
Rancor por não estar famoso como Erasmo e Roberto? Nenhum. "Aqui no Brasil o instrumentista nunca foi muito valorizado. As pessoas preferem quem está na frente do palco cantando."
Ele se adapta ao som dos jovens. "Eles tocam um rock mais pesado. Mas eu gosto disso, tem a ver com o meu início de carreira. Antes de tocar com Roberto e Erasmo eu fazia rock'n'roll." Depois de gravar com a dupla, passou a lançar anualmente, ou duas vezes por ano, a série de discos "Lafayette Apresenta Seus Sucessos". De 66 a 77 foram 20 discos da série, onde ele mostrava músicas da jovem guarda e hits internacionais. Lançou dois CDs na década de 90, ambos sem repercussão.
Agora, um novo mundo, onde existe mais dinheiro, se abre nos sonhos de Lafa. A banda já foi convidada para gravar uns CDs. "Vamos ver se agora as coisas melhoram nessa nova fase, se tudo dá certo. Vamos torcer", diz Lafa.
A empolgação de seus amigos de banda é menos contida. "É um sonho estar tocando com o Lafayette. É uma daquelas coisas que não dá para acreditar. Sabe quando uma loucura dá certo?", diz Nervoso, que guarda um de seus vinis autografados por Lafa e se emociona ao lembrar que deu um disco seu para Lafayette, que pediu um autógrafo. "Ele disse que era meu fã, não tem como esquecer uma coisa dessas."


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