|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Curta resgata obra do diretor José Agrippino
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
"Passeios no Recanto Silvestre",
curta de Miriam Chnaiderman
que tem sessão hoje no festival É
Tudo Verdade, no Rio de Janeiro,
é um pequeno prodígio.
Documentário sobre um filme
que nunca foi feito, "Passeios..." é,
ao mesmo tempo, o seu contrário:
o registro de como fazer um filme.
"Foi sofrido. O tempo todo a
gente esperava que ele filmasse",
afirma Chnaiderman. "Ele" é o escritor e cineasta José Agrippino,
autor do seminal "PanAmérica".
Agrippino aceitara a proposta
de voltar a filmar, feita por Chnaiderman, a partir de uma idéia de
seu colega psicanalista David Calderoni. O retorno do cineasta à
velha câmera super-8 não seria
pouca coisa. Recolhido numa casa em Embu das Artes, diagnosticado como esquizofrênico desde
os anos 80, Agrippino suspendeu
há décadas sua produção de livros
e filmes. "Hitler Terceiro Mundo"
(1968), sua mais destacada obra,
está no É Tudo Verdade.
Chnaiderman diz que "não queria entrar na discussão da psicopatologia". Seu propósito era
"resgatá-lo como criador". "Passeios..." seria um filme de Agrippino, e não um filme sobre ele.
Depois de aceitar o convite de
Chnaiderman, no entanto, Agrippino vai progressivamente retardando seu retorno à direção. As
idas e vindas estão registradas no
curta, desde o momento em que
ele recebe os filmes virgens e deixa
claro que trataria aquela matéria-prima à sua maneira.
Diante da recomendação de que
os negativos devem ser conservados em baixa temperatura, o
"poeta do super-8" diz: "A geladeira é úmida. Eu não colocaria".
Ao final, quando se desculpa, cortesmente, por não haver filmado,
avisa: "Seus filmes estão bem conservados, numa caixa de isopor".
A documentarista abraça a senha de Agrippino e monta seu
curta de forma "a deixar a suspensão" -do tempo, na vida de
Agrippino e da possibilidade de
que, um dia, ele reabra a caixa.
Passeios no Recanto Silvestre
Quando: hoje, às 19h30, no Cine Odeon
BR (pça. Mahatma Gandhi, 2, Centro, tel:
0/xx/21/2240-1093)
Quanto: entrada franca
Texto Anterior: Crítica/'O poder do pesadelo: A ascenção da política do medo': Filme desmonta discurso americano Próximo Texto: O invasor: "Já deveria estar ultrapassado", diz Murphy Índice
|