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CINEMA
Diretor atua como produtor artístico do primeiro filme de Miguel Falabella e prepara longa baseado no caso do ônibus 174
Repatriado, Barreto assume múltiplas funções
PEDRO BUTCHER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"Agora sou um cidadão paulistano", diz Bruno Barreto, que, depois de 16 anos morando nos
EUA (sete em Los Angeles e nove
em Nova York), instalou-se na cidade onde filmou pela primeira
vez no ano retrasado ("O Casamento de Romeu e Julieta").
Separado da atriz Amy Irving,
Barreto escolheu viver a nova vida
de solteiro em uma cidade que
lembrasse o caldo cosmopolita
nova-iorquino. "Depois que você
se torna migrante, se sente estrangeiro em qualquer lugar do mundo. Por isso estou tão à vontade
em São Paulo, uma cidade de estrangeiros."
Na verdade, Barreto ainda passa
boa parte de seu tempo também
no Rio, onde nasceu e onde vivem
seus pais, Lucy e Luiz Carlos Barreto, e em Nova York, onde mora
seu filho com Amy Irving, Gabriel. Suas passagens pelo Rio,
desde o fim do ano passado, envolvem o trabalho como produtor
artístico de "Polaróides Urbanas", primeiro filme de Miguel
Falabella, produzido pela LC Barreto, agora entrando em sua última semana de filmagens.
"Polaróides" marcou o início de
um ano repleto de projetos. Em
julho, o cineasta roda "Infância
Roubada" (título provisório),
drama de fundo social inspirado
no documentário "Ônibus 174",
de José Padilha. Em agosto, estréia como diretor de teatro com a
montagem brasileira do texto
"Dúvida", de John Patrick Shanley, grande sensação não-musical da Broadway no ano passado,
vencedor do prêmio Pulitzer para
obra dramática de 2005.
Acompanhamento artístico
Barreto fala com o mesmo entusiasmo de todas essas funções.
Antes de "Polaróides", produziu
apenas três filmes: "Menino do
Rio" e "Garota Dourada", de Antonio Calmon, no início dos anos
80, e "O Caminho das Nuvens",
de Vicente Amorim, em 2003.
No caso de "Polaróides", porém, seu trabalho foi um pouco
diferente: "A convite de minha irmã Paula, que é a produtora de fato, fiz uma espécie de acompanhamento artístico da preparação. Como este é o primeiro filme
de Miguel, estive lá para orientá-lo dentro do que ele queria fazer,
dar conselhos em meio à loucura
que é preparar um longa e protegê-lo da própria LC Barreto, para
que pudesse ser o mais fiel possível à sua visão", diz Barreto.
"Polaróides Urbanas" (título
ainda provisório) é uma adaptação da peça "Como Encher Um
Biquíni Selvagem", em que Claudia Jimenez, sozinha no palco, vivia dezenas de personagens. Na
versão para o cinema, eles serão
interpretados por atrizes diferentes e, por isso, Claudia, com ciúmes, preferiu não fazer o filme.
Marilia Pêra será a única a dividir-se entre dois papéis (as gêmeas Magda e Magali), contracenando com um time de favoritas
de Falabella que inclui Arlette Salles (como a atriz Lisa Delamare,
que sofre de síndrome do pânico),
e ainda Natália do Valle, Stella Miranda e Neuza Borges.
Barreto aposta que Miguel conseguirá, com "Polaróides", repetir
o sucesso que encontrou no teatro. "Embora seja um diretor estreante, ele sabe muito bem o que
quer e tem uma cultura cinematográfica maior do que a de todos
nós juntos. Miguel está sintonizado com o inconsciente coletivo da
classe média e é verdadeiro no
que escreve, porque entende essas
pessoas como ninguém", diz. "O
sucesso comercial é uma conseqüência dessa visão de mundo."
A mudança será radical quando
Barreto voltar ao set como diretor: "Infância Roubada" é uma
versão ficcional do seqüestro do
ônibus 174 na zona sul do Rio de
Janeiro, ocorrido em 2000. "É o
melhor roteiro que passou pelas
minhas mãos", diz Barreto, que
encomendou o trabalho a Bráulio
Mantovani, de "Cidade de Deus".
"O episódio do ônibus, na verdade, representa os dez minutos
finais do filme. Vou me concentrar na história das pessoas, principalmente de Sandro Nascimento (o seqüestrador) e da mulher
que o adotou como filho. São histórias que não estão no "Ônibus
174" e surgiram exatamente das
perguntas não respondidas."
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