São Paulo, terça-feira, 27 de março de 2007

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"Catedrático" Raul de Souza dá aula-show

CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Como outros músicos de sua geração, ele não freqüentou conservatórios para se tornar profissional. Consagrado como um dos melhores trombonistas do mundo, Raul de Souza, 72, assume enfim um merecido papel de catedrático: vai dar uma aula informal, hoje à noite, no Bourbon Street, com participação da banda Saxomania.
O show faz parte da série Sala do Professor Buchanan's. Num bate-papo conduzido pelo apresentador Daniel Daibem, Raul lembra passagens de sua carreira e mostra por que sua música brasileira com influências jazzísticas se tornou referência internacional.
Em entrevista à Folha, ele avisa que, no show, pretende falar mais sobre música do que sobre fatos de vida. "Minha história é muito longa", justifica.
Filho de um pastor evangélico, João José Pereira de Souza cresceu no bairro carioca de Bangu. Seu interesse pelo trombone surgiu aos 16 anos, quando já tocava tuba, na banda de uma fábrica de tecidos.
No início dos anos 50, ao participar do programa de calouros de Ary Barroso, ganhou a nota máxima e o primeiro nome artístico: Raulito, que ele trocou, anos depois, por Raulzinho, como é conhecido até hoje nos círculos musicais.
"A gafieira foi uma grande escola. Lá eu aprendi muito", reconhece o trombonista, que aprofundou a intimidade com o samba e o choro, acompanhando dançarinos. Em 1957, fez sua primeira gravação, tocando com o flautista Altamiro, no grupo Turma da Gafieira, ao lado do acordeonista Sivuca e do violonista Baden Powell.
O interesse pelos improvisos do jazz ampliou seus horizontes musicais e rendeu reconhecimento, mas lhe trouxe dificuldades. Ao ser eleito melhor músico de 1957, no programa de Paulo Santos, pela rádio MEC do Rio, viu as chances de trabalhar diminuírem.
"Ajudei a divulgar a imagem do músico que improvisava. Por isso, o pessoal tinha uma certa pinimba comigo. Depois de ganhar aquele prêmio fiquei sem trabalho", recorda. O jeito foi se mudar para Curitiba, onde integrou a banda da Aeronáutica, entre 1958 e 1963.

Consagração
De volta ao Rio, fez parte do Bossa Rio, grupo do pianista Sérgio Mendes. Chegou até a acompanhar Roberto Carlos, no final dos anos 60. A guinada definitiva veio em 1973, quando fez uma turnê com Airto Moreira e Flora Purim pelos EUA, onde veio a se consagrar na cena do jazz.
"Lá eu sempre fui respeitado", diz o carioca, que gravou e tocou com astros do gênero, como Sarah Vaughan, Ron Carter e Stanley Clarke. Um deles, o trombonista J.J. Johnson, será homenageado no show de hoje com a balada "Lament". No repertório de Raul também entram faixas do seu último CD, "Jazzmim" (2006).
Casado com uma francesa, nos últimos anos tem alternado períodos na França e no Brasil.
"Não quero mais passar frio", diz Raul, que também vai mostrar seu raro talento ao sax barítono e ao flugelhorn. "Eles não são da mesma família do trombone, mas sempre tive facilidade para tocar qualquer instrumento".


RAUL DE SOUZA
Quando:
hoje, às 22h
Onde: Bourbon Street (r. dos Chanés, 127, tel. 0/xx/11/5095-6100)
Quanto: R$ 25


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