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"Catedrático" Raul de Souza dá aula-show
CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Como outros músicos de sua
geração, ele não freqüentou
conservatórios para se tornar
profissional. Consagrado como
um dos melhores trombonistas
do mundo, Raul de Souza, 72,
assume enfim um merecido papel de catedrático: vai dar uma
aula informal, hoje à noite, no
Bourbon Street, com participação da banda Saxomania.
O show faz parte da série Sala
do Professor Buchanan's. Num
bate-papo conduzido pelo
apresentador Daniel Daibem,
Raul lembra passagens de sua
carreira e mostra por que sua
música brasileira com influências jazzísticas se tornou referência internacional.
Em entrevista à Folha, ele
avisa que, no show, pretende
falar mais sobre música do que
sobre fatos de vida. "Minha história é muito longa", justifica.
Filho de um pastor evangélico,
João José Pereira de Souza
cresceu no bairro carioca de
Bangu. Seu interesse pelo
trombone surgiu aos 16 anos,
quando já tocava tuba, na banda de uma fábrica de tecidos.
No início dos anos 50, ao participar do programa de calouros de Ary Barroso, ganhou a
nota máxima e o primeiro nome artístico: Raulito, que ele
trocou, anos depois, por Raulzinho, como é conhecido até
hoje nos círculos musicais.
"A gafieira foi uma grande
escola. Lá eu aprendi muito",
reconhece o trombonista, que
aprofundou a intimidade com
o samba e o choro, acompanhando dançarinos. Em 1957,
fez sua primeira gravação, tocando com o flautista Altamiro,
no grupo Turma da Gafieira, ao
lado do acordeonista Sivuca e
do violonista Baden Powell.
O interesse pelos improvisos
do jazz ampliou seus horizontes musicais e rendeu reconhecimento, mas lhe trouxe dificuldades. Ao ser eleito melhor
músico de 1957, no programa
de Paulo Santos, pela rádio
MEC do Rio, viu as chances de
trabalhar diminuírem.
"Ajudei a divulgar a imagem
do músico que improvisava.
Por isso, o pessoal tinha uma
certa pinimba comigo. Depois
de ganhar aquele prêmio fiquei
sem trabalho", recorda. O jeito
foi se mudar para Curitiba, onde integrou a banda da Aeronáutica, entre 1958 e 1963.
Consagração
De volta ao Rio, fez parte do
Bossa Rio, grupo do pianista
Sérgio Mendes. Chegou até a
acompanhar Roberto Carlos,
no final dos anos 60. A guinada
definitiva veio em 1973, quando
fez uma turnê com Airto Moreira e Flora Purim pelos EUA,
onde veio a se consagrar na cena do jazz.
"Lá eu sempre fui respeitado", diz o carioca, que gravou e
tocou com astros do gênero, como Sarah Vaughan, Ron Carter
e Stanley Clarke. Um deles, o
trombonista J.J. Johnson, será
homenageado no show de hoje
com a balada "Lament". No repertório de Raul também entram faixas do seu último CD,
"Jazzmim" (2006).
Casado com uma francesa,
nos últimos anos tem alternado
períodos na França e no Brasil.
"Não quero mais passar frio",
diz Raul, que também vai mostrar seu raro talento ao sax barítono e ao flugelhorn. "Eles
não são da mesma família do
trombone, mas sempre tive facilidade para tocar qualquer
instrumento".
RAUL DE SOUZA
Quando: hoje, às 22h
Onde: Bourbon Street (r. dos Chanés,
127, tel. 0/xx/11/5095-6100)
Quanto: R$ 25
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