São Paulo, domingo, 27 de março de 2011

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Programa do Canal Brasil celebra teatro

A partir de entrevistas de José Wilker com diretores consagrados, nova atração traça memória do palco no país

Aderbal Freire-Filho estrela o primeiro episódio, que vai ao ar em 4 de abril; Antunes Filho fecha a série

Letícia Moreira/Folhapress
José Wilker e o diretor teatral Antunes Filho conversam durante a gravação do programa"Palco e Plateia", no Sesc Consolação, na última terça-feira

GABRIELA MELLÃO
DE SÃO PAULO

Bom dia é sinônimo de hierofania no CPT (Centro de Pesquisa Teatral) liderado por Antunes Filho. Como vai? Hierofania. Tudo bem? Hierofania.
A palavra que evoca uma manifestação reveladora do sagrado e sintetiza o pensamento artístico do mestre de teatro foi o fio condutor da entrevista feita por José Wilker com Antunes na última terça-feira, no sétimo andar do Sesc Consolação.
Acompanhada com exclusividade pela Folha, a entrevista vai ser exibida em um dos 13 episódios de "Palco e Plateia", novo programa do Canal Brasil, cuja estreia será no dia 4 de abril.
Cada episódio é dedicado ao trabalho de um diretor teatral. A edição intercala trechos da entrevistas com cenas de espetáculos relevantes na trajetória de cada encenador, além de depoimentos de artistas.
Aderbal Freire-Filho inaugura a programação. Wagner Moura, protagonista de "Hamlet", e Andréa Beltrão, atriz de "As Centenárias", montagens recentes do diretor, foram convocados para falar sobre o homenageado.
Também serão focados os trabalho de Bia Lessa, Rodolfo García Vázquez e Gabriel Villela, entre outros (leia abaixo). Por questões de agenda, José Celso Martinez Corrêa não entrou -deverá ficar para uma segunda leva.
"A memória do teatro brasileiro precisa ser preservada", diz Wilker. Ele sentiu na pele a falta de registro.
Ao entrevistar Marcio Meirelles, do Bando de Teatro Olodum, descobriu que tudo o que restava dos espetáculos que fez com o diretor, nos anos 70, eram algumas fotos.

GANA ESPIRITUAL
Wilker não conversava com Antunes havia 30 anos. Em clima bastante informal, a entrevista buscou traçar um panorama da trajetória do encenador.
Desde os tempos de sua formação, no TBC (Teatro Brasileiro de Comédia), entre 1940 e 1950, época em que foi discípulo de mestres estrangeiros radicados no Brasil como Ruggero Jacobbi e Zbigniew Ziembinski, até hoje.
Muito se falou sobre hierofania. "Poucos atores têm uma gana mais espiritual de, por meio da arte, se purificar como ser humano."
Antunes discursou sobre seu método: "Tento plantar uma semente no ator. Fazê-lo se enxergar não como criatura, mas como criador. Um ator não tem que representar, tem que se manifestar".
Insistiu sobretudo na força da educação cultural. "As pessoas hoje têm mais informação do que formação."
Contou como sua experiência de vida, dentro e fora do país, foi essencial para a criação de "Macunaíma", de Mário de Andrade, seu primeiro trabalho realmente autoral, de 1978 -considerado um dos marcos inaugurais do teatro moderno do país: "Não dá para criar sem substrato cultural".
Quando uma atriz da plateia pediu um conselho para os jovens artistas, Antunes silenciou-se por um momento, mordeu o dedo indicador e completou o pensamento.
"É preciso educar a cabeça. Quando estiver lendo um romance e surgir uma parte chata, não pule. No cinema de arte, a mesma coisa. É aí que você vai conseguir macerar sua sensibilidade."
Antunes deixou algumas respostas e muitas perguntas registradas no programa. "O que fazer daqui para frente? Por que fazer? Continuo me perguntando isso", disse, com sua inquietação latente. A resposta? Hierofania.

NA TV
Palco e Plateia
Estreia da atração
QUANDO 4 de abril, às 21h, no Canal Brasil
CLASSIFICAÇÃO livre



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