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ODISSÉIA TROPICALISTA
"Rei Brasil..." celebra 500 anos sem oba-oba
da enviada especial a Salvador
Para José Carlos Capinan, autor
do texto de "Rei Brasil...", a ópera
é uma celebração. "Você não precisa cair na discussão dos 500
anos sobre o bem e o mal, nós celebramos sem a visão maniqueísta em relação ao português, sem o
oba-oba do Brasil ufanista. Há
uma visão profética que está na
cultura brasileira, de que o Brasil é
um país do futuro. Nós trabalhamos com esses elementos, de Gregório de Matos a Chico Buarque."
Capinan, autor da canção "Soy
Loco por Ti América", em parceria com Gilberto Gil, e "Ponteio",
com Edu Lobo, participou do
Centro Popular de Cultura em
Salvador e criou "Bumba Meu
Boi" em parceira com Tom Zé,
que tem a ver com "Rei Brasil..."
do ponto de vista ideológico.
Por causa de "Bumba Meu Boi"
foi processado e viveu foragido
por São Paulo e pelo Rio de Janeiro. Para Tom Zé, "Capinan fez
uma leitura política da distribuição da carne entre a população. O
espetáculo foi levado a praças, escolas, fábricas. Outro dia fiquei
admirado como aquilo era equilibrado dentro de um eixo, a história ia no sentido de bem esclarecer, com humor, foi um sucesso".
Capinan é autor dos livros "Inquisitorial" (Civilização Brasileira, de 66 e reeditado em 95) e
"Poemas" (Fundação Casa de Jorge Amado/Copene, 1996). Editou
ainda a revista "Ânima", com
Abel Silva, nos anos 70, no Rio.
Hoje coordena o projeto Ecodramas, encontro de arte e ecologia que acontece de dois em dois
anos, com debates, mostras de
som, exposições de arte.
Apesar de se dizer afastado da
poesia, Capinan mostra uma trajetória poética coerente (e consistente), sem desistir de pensar nos
fatos sociais do homem e procurando responder a eles em todas
as dimensões, especialmente naquela que o coloca no centro de
suas inquietações existenciais. Ele
se volta agora para o meio ambiente: "Cortaram a erva que cura
a febre/ Cortaram a erva que cura
as cólicas/ Cortaram a murta, o
pau-d'arco, a peroba/ Foi coivarada a virtude das plantas, das ervas
e das folhas" (do poema "Uma
Canção de Amor das Árvores Desesperadas", de 1996).
Vindo do interior da Bahia, de
Pedras, o poeta diz ter uma relação premonitória com a palavra,
que está na cultura popular. "Por
exemplo, no interior, algumas palavras são interditos, você não pode pronunciar "cobra", pois é um
ente. Você o presentifica quando
fala. Essa é a relação que eu tenho
da poesia com as coisas, você só
pode fazer um verso novo se inventar uma coisa no mundo. Pode ser uma interpretação, mas
certamente só será uma poesia
válida na tradição poética se você
a conhece no momento em que
cria. Ela não existe antes nem você
conhecia aquilo antes."
(MRC)
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