São Paulo, quinta-feira, 27 de abril de 2000


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ODISSÉIA TROPICALISTA

"Rei Brasil..." celebra 500 anos sem oba-oba

da enviada especial a Salvador

Para José Carlos Capinan, autor do texto de "Rei Brasil...", a ópera é uma celebração. "Você não precisa cair na discussão dos 500 anos sobre o bem e o mal, nós celebramos sem a visão maniqueísta em relação ao português, sem o oba-oba do Brasil ufanista. Há uma visão profética que está na cultura brasileira, de que o Brasil é um país do futuro. Nós trabalhamos com esses elementos, de Gregório de Matos a Chico Buarque."
Capinan, autor da canção "Soy Loco por Ti América", em parceria com Gilberto Gil, e "Ponteio", com Edu Lobo, participou do Centro Popular de Cultura em Salvador e criou "Bumba Meu Boi" em parceira com Tom Zé, que tem a ver com "Rei Brasil..." do ponto de vista ideológico.
Por causa de "Bumba Meu Boi" foi processado e viveu foragido por São Paulo e pelo Rio de Janeiro. Para Tom Zé, "Capinan fez uma leitura política da distribuição da carne entre a população. O espetáculo foi levado a praças, escolas, fábricas. Outro dia fiquei admirado como aquilo era equilibrado dentro de um eixo, a história ia no sentido de bem esclarecer, com humor, foi um sucesso".
Capinan é autor dos livros "Inquisitorial" (Civilização Brasileira, de 66 e reeditado em 95) e "Poemas" (Fundação Casa de Jorge Amado/Copene, 1996). Editou ainda a revista "Ânima", com Abel Silva, nos anos 70, no Rio.
Hoje coordena o projeto Ecodramas, encontro de arte e ecologia que acontece de dois em dois anos, com debates, mostras de som, exposições de arte.
Apesar de se dizer afastado da poesia, Capinan mostra uma trajetória poética coerente (e consistente), sem desistir de pensar nos fatos sociais do homem e procurando responder a eles em todas as dimensões, especialmente naquela que o coloca no centro de suas inquietações existenciais. Ele se volta agora para o meio ambiente: "Cortaram a erva que cura a febre/ Cortaram a erva que cura as cólicas/ Cortaram a murta, o pau-d'arco, a peroba/ Foi coivarada a virtude das plantas, das ervas e das folhas" (do poema "Uma Canção de Amor das Árvores Desesperadas", de 1996).
Vindo do interior da Bahia, de Pedras, o poeta diz ter uma relação premonitória com a palavra, que está na cultura popular. "Por exemplo, no interior, algumas palavras são interditos, você não pode pronunciar "cobra", pois é um ente. Você o presentifica quando fala. Essa é a relação que eu tenho da poesia com as coisas, você só pode fazer um verso novo se inventar uma coisa no mundo. Pode ser uma interpretação, mas certamente só será uma poesia válida na tradição poética se você a conhece no momento em que cria. Ela não existe antes nem você conhecia aquilo antes." (MRC)


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