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Sangria para o exterior dizima acervo
DA REPORTAGEM LOCAL
Em trabalho contínuo de pesquisa, Caetano Rodrigues aborda
questão que vem passando despercebida pelos narizes brasileiros: acervos importantíssimos da
música popular brasileira, de bossa nova ou outros gêneros, estão
sendo perdidos não só por não serem relançados em CD, mas pela
forte sangria de discos de vinil para Japão, Europa e EUA.
"O que restou desses discos está
indo para fora em LP. No exterior
pirateiam esse negócio, tenho piratas editados na Inglaterra e no
Japão. Os vinis são recolhidos pelos gringos em carrinhos de feira.
Eles saem com malas de cem, 200
discos", denuncia Rodrigues.
Segundo Charles Gavin, o fenômeno é geral: "O disco do (grupo
roqueiro dos 80) Nau é pirateado
em CD em Tóquio. Isso passa batido pela indústria".
Rodrigues aponta exemplo a
mais: "Outro dia circulou na internet que a música "Zozói", com
Célia, estava sendo tocada por um
DJ de Tóquio. No sábado não deu
outra, várias pessoas estavam
procurando o LP na feirinha da
praça Benedito Calixto (SP)".
Gavin complementa: "Os grandes sebos de vinil de São Paulo já
não colocam mais nas prateleiras
os discos mais difíceis da bossa
nova. Deixam escondidos, para os
gringos comprarem de quilo".
Diz Rodrigues: "Esse mercado
se intensificou de uns cinco anos
para cá, com o crescimento do interesse de ingleses e japoneses. Fica cada vez mais difícil achar aqui.
Os LPs do selo Forma tinham tiragens de 3.000 cópias, imagine o
que sobrou em termos de Brasil.
Mesmo os CDs que Charles está
reeditando têm tiragens pequenas, acabam logo. Quem comprou comprou, não vão editar outra vez. As gravadoras só estão interessadas em vender o Tchan".
Gavin socorre a indústria: "Mas
o Brasil é assim, é pobre. Acho
que nesse cenário esses disquinhos terem saído por grandes
gravadoras já é um lucro".
Ele martela a tecla da memória:
"Para que um novo Tom Jobim e
um novo João Gilberto nasçam e
apareçam, as obras do passado
precisam fazer parte de sua formação artística. O único legado
musical no mundo que se compara ao brasileiro é o americano.
Não pode tudo ir embora, simplesmente". Está indo.
(PAS)
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