São Paulo, sexta-feira, 27 de abril de 2001

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ASIAN DUB FOUNDATION

Som explosivo faz platéia "viajar" a Calcutá

DA REPORTAGEM LOCAL

Se você é um dos 1.500 felizardos que esgotaram os ingressos e estarão hoje à noite no Sesc Belenzinho para ver o grupo anglo-indiano Asian Dub Foundation, faça uma experiência: feche os olhos durante qualquer uma das 14, 15 músicas que compõem a apresentação da banda.
Baseado em recente concerto do grupo, que a Folha acompanhou na última sexta-feira no Abril pro Rock pernambucano, a impressão que dá é a de estar em algum clube escuro de Calcutá, na Índia, rodeado por garotas punk praticando dança do ventre.
Quando Chandrasonic, um dos integrantes do ADF, anuncia no meio do show que a banda vai levar o público às alturas ("We're gonna take you high"), ele não está brincando.
O caldo sonoro do Asian Dub Foundation, tirado do liquidificador que mistura punk, dub, música indiana, rap e eletrônica, soa ao mesmo tempo violento e excitante, barulhento e inebriante.
São sete rapazes ingleses de feições hindus formado por três instrumentistas, dois vocalistas e dois DJs correndo de um lado para o outro do palco entregando ao público palavras de ordem (contra políticos, injustiças sociais etc.) embrulhadas em um som único de batidas rápidas, fórmula que parece situar a banda neste novo século mais do que qualquer outra do rock.
O Asian Dub Foundation chegou ao Brasil sem seu mestre-de-cerimônias titular, Máster D (licenciado do grupo). No lugar foram convidados os rappers Aktarvatta e Afjal Spex. A perda no ritmo de canções como "The Real Great Britain", "Riddim I Like", "Buzzin" e na maravilhosa "Free Satpal Ram" foi quase zero.
No caso do show de Recife, cerca de metade do público não aguentou esperar o Asian Dub Foundation já na avançada madrugada de sábado.
Quem foi embora depois das (boas) performances do grupo local Nação Zumbi e do carioca O Rappa perdeu o que se chama de troca de informação e experiências musicais, intuito norteador do projeto que trouxe a banda ao país.
A metade da platéia que resistiu ao horário, por exemplo na citada "Free Satpal Ram", conseguiu absorver toda a raiva do grupo ao gritar para libertarem um rapaz pobre injustamente (segundo a banda) preso pela vida toda e ao mesmo tempo se divertiu como nunca em uma imaginária viagem dançante à Índia. Isso é que é passar bem o recado.
O Asian Dub Foundation, de conhecimento restrito apenas no circuito alternativo daqui do Brasil, é uma banda difícil de explicar em disco.
Seu "Community Music", lançado no Brasil pela Warner no ano passado, chega a ser difícil de ouvir inteiro, tão explosivo e híbrido é seu som.
Mas há uma mágica em apresentações ao vivo.
A mistura étnica sócio-sonora do hoje septeto, quando em cima do palco, é um comício pacifista e ao mesmo tempo violento. Já foi dito aqui que o Asian Dub Foundation é um encontro de Clash, Sex Pistols, Beastie Boys e Aswad, tudo junto. E com um gosto danado de kebab.
Facilitei?
(LÚCIO RIBEIRO)


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