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ASIAN DUB FOUNDATION
Som explosivo faz platéia "viajar" a Calcutá
DA REPORTAGEM LOCAL
Se você é um dos 1.500 felizardos que esgotaram os ingressos e estarão hoje à noite no Sesc
Belenzinho para ver o grupo anglo-indiano Asian Dub Foundation, faça uma experiência: feche
os olhos durante qualquer uma
das 14, 15 músicas que compõem
a apresentação da banda.
Baseado em recente concerto
do grupo, que a Folha acompanhou na última sexta-feira no
Abril pro Rock pernambucano, a
impressão que dá é a de estar em
algum clube escuro de Calcutá, na
Índia, rodeado por garotas punk
praticando dança do ventre.
Quando Chandrasonic, um dos
integrantes do ADF, anuncia no
meio do show que a banda vai levar o público às alturas ("We're
gonna take you high"), ele não está brincando.
O caldo sonoro do Asian Dub
Foundation, tirado do liquidificador que mistura punk, dub, música indiana, rap e eletrônica, soa ao
mesmo tempo violento e excitante, barulhento e inebriante.
São sete rapazes ingleses de feições hindus formado por três instrumentistas, dois vocalistas e
dois DJs correndo de um lado para o outro do palco entregando ao
público palavras de ordem (contra políticos, injustiças sociais
etc.) embrulhadas em um som
único de batidas rápidas, fórmula
que parece situar a banda neste
novo século mais do que qualquer
outra do rock.
O Asian Dub Foundation chegou ao Brasil sem seu mestre-de-cerimônias titular, Máster D (licenciado do grupo). No lugar foram convidados os rappers Aktarvatta e Afjal Spex. A perda no
ritmo de canções como "The Real
Great Britain", "Riddim I Like",
"Buzzin" e na maravilhosa "Free
Satpal Ram" foi quase zero.
No caso do show de Recife, cerca de metade do público não
aguentou esperar o Asian Dub
Foundation já na avançada madrugada de sábado.
Quem foi embora depois das
(boas) performances do grupo local Nação Zumbi e do carioca O
Rappa perdeu o que se chama de
troca de informação e experiências musicais, intuito norteador
do projeto que trouxe a banda ao
país.
A metade da platéia que resistiu
ao horário, por exemplo na citada
"Free Satpal Ram", conseguiu absorver toda a raiva do grupo ao
gritar para libertarem um rapaz
pobre injustamente (segundo a
banda) preso pela vida toda e ao
mesmo tempo se divertiu como
nunca em uma imaginária viagem dançante à Índia. Isso é que é
passar bem o recado.
O Asian Dub Foundation, de
conhecimento restrito apenas no
circuito alternativo daqui do Brasil, é uma banda difícil de explicar
em disco.
Seu "Community Music", lançado no Brasil pela Warner no
ano passado, chega a ser difícil de
ouvir inteiro, tão explosivo e híbrido é seu som.
Mas há uma mágica em apresentações ao vivo.
A mistura étnica sócio-sonora
do hoje septeto, quando em cima
do palco, é um comício pacifista e
ao mesmo tempo violento. Já foi
dito aqui que o Asian Dub Foundation é um encontro de Clash,
Sex Pistols, Beastie Boys e Aswad,
tudo junto. E com um gosto danado de kebab.
Facilitei?
(LÚCIO RIBEIRO)
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