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Arnaldo Antunes cria linguagem lúdica em livro
Décimo volume inédito do escritor, compositor e cantor,
"n.d.a." traz poemas, cartões postais e fotos de exposições
Obra ressalta a ligação entre
palavras e imagens na
carreira do autor, que
afirma não haver separação
entre música e literatura
MARCO RODRIGO ALMEIDA
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem acompanha o trabalho
de Arnaldo Antunes não será
surpreendido ao encontrar entre as páginas de "n.d.a.", novo
livro que ele lança hoje, imagens de portas, pés, guarda-chuva, ovos e placas.
A poesia que nasce do estranhamento e do inusitado é uma
busca constante para ele, que
trafega com igual naturalidade
pela música, literatura e artes
plásticas.
Em "n.d.a." esses talentos se
misturam com espontaneidade. Arnaldo, como de costume,
assina o projeto gráfico do livro,
que parte de uma "viagem" que
faz com a configuração gráfica
das palavras, processo fundamental de sua criação.
A experiência lúdica já começa pela título. O autor propõe
um diálogo entre "n.d.a." e "Nada de DNA", seção do novo livro
que já constava na antologia
"Como É que Chama o Nome
Disso", de 2006, mas só agora
foi publicada como parte de um
volume inédito.
A escolha da foto da capa, um
ovo com uma vírgula desenhada na superfície, também resultou de um longo processo de
"gestação".
A imagem já o perseguia desde "Ou e" (1983), seu primeiro
livro de poesia. "Tem a ver com
continuidade, dialoga com a
ideia de nada, de DNA." E a
misteriosa e solitária vírgula?
"É uma referência à linguagem.
Tirada de seu lugar natural, a
frase, a vírgula perde sua função e ganha outro sentido."
Musicalidade
Entre o que é racionalizado e
o que escapa das explicações,
não será difícil para o leitor
"ouvir" em alguns dos poemas a
voz metálica do autor, ao som
de guitarras ao fundo.
A musicalidade é ressaltada
em muitos deles, como "Ela e
Você", que faz lembrar a canção
"Essa Mulher", do CD "Paradeiro", e em "n.d.a." (trecho ao
lado), que dá nome ao volume.
Coincidência ou não, o livro
foi concebido durante as gravações de "Iê Iê Iê" , CD em que
ele buscava a melodia perdida
pelo rock nos últimos anos.
A interação é frequente na
carreira de Arnaldo. Poemas já
viraram faixas de CD ("As Coisas", "Dinheiro") e canções ("O
Quê") foram publicadas como
poesias.
"Uma coisa alimenta a outra.
Desde o modernismo, passando pela bossa nova, pela poesia
concreta, pelo tropicalismo, as
fronteiras entre música e literatura já foram quebradas."
Cartões postais
Além de imagens de exposições realizadas por ele, "n.d.a."
revela um hobby de Arnaldo:
fotografar placas e escritos urbanos nas cidades que visita.
Parte da coleção, iniciada há
mais de dez anos,foi publicada
em forma de cartões postais.
A
palavra escrita mesclada à imagem rende flagrantes inusitados, como no cartão que mostra
uma caçamba, repleta de lixo,
onde está escrita a palavra "divino". "É um esboço de um projeto que quero desenvolver
mais profundamente no futuro: fazer um livro só com esses
cartões, como se fosse uma história em quadrinhos."
N.D.A.
Autor: Arnaldo Antunes
Editora: Iluminuras
Quanto: R$ 44 (208 págs.)
Lançamento: hoje, às 18h30 , na Livraria da Vila (r. Fradique Coutinho,
915, tel. 0/xx/11/3814-5811)
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