São Paulo, terça-feira, 27 de abril de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Arnaldo Antunes cria linguagem lúdica em livro

Décimo volume inédito do escritor, compositor e cantor, "n.d.a." traz poemas, cartões postais e fotos de exposições

Obra ressalta a ligação entre palavras e imagens na carreira do autor, que afirma não haver separação entre música e literatura


MARCO RODRIGO ALMEIDA
DA REPORTAGEM LOCAL

Quem acompanha o trabalho de Arnaldo Antunes não será surpreendido ao encontrar entre as páginas de "n.d.a.", novo livro que ele lança hoje, imagens de portas, pés, guarda-chuva, ovos e placas. A poesia que nasce do estranhamento e do inusitado é uma busca constante para ele, que trafega com igual naturalidade pela música, literatura e artes plásticas.
Em "n.d.a." esses talentos se misturam com espontaneidade. Arnaldo, como de costume, assina o projeto gráfico do livro, que parte de uma "viagem" que faz com a configuração gráfica das palavras, processo fundamental de sua criação.
A experiência lúdica já começa pela título. O autor propõe um diálogo entre "n.d.a." e "Nada de DNA", seção do novo livro que já constava na antologia "Como É que Chama o Nome Disso", de 2006, mas só agora foi publicada como parte de um volume inédito.
A escolha da foto da capa, um ovo com uma vírgula desenhada na superfície, também resultou de um longo processo de "gestação". A imagem já o perseguia desde "Ou e" (1983), seu primeiro livro de poesia. "Tem a ver com continuidade, dialoga com a ideia de nada, de DNA." E a misteriosa e solitária vírgula?
"É uma referência à linguagem. Tirada de seu lugar natural, a frase, a vírgula perde sua função e ganha outro sentido."

Musicalidade
Entre o que é racionalizado e o que escapa das explicações, não será difícil para o leitor "ouvir" em alguns dos poemas a voz metálica do autor, ao som de guitarras ao fundo.
A musicalidade é ressaltada em muitos deles, como "Ela e Você", que faz lembrar a canção "Essa Mulher", do CD "Paradeiro", e em "n.d.a." (trecho ao lado), que dá nome ao volume.
Coincidência ou não, o livro foi concebido durante as gravações de "Iê Iê Iê" , CD em que ele buscava a melodia perdida pelo rock nos últimos anos.
A interação é frequente na carreira de Arnaldo. Poemas já viraram faixas de CD ("As Coisas", "Dinheiro") e canções ("O Quê") foram publicadas como poesias.
"Uma coisa alimenta a outra. Desde o modernismo, passando pela bossa nova, pela poesia concreta, pelo tropicalismo, as fronteiras entre música e literatura já foram quebradas."

Cartões postais
Além de imagens de exposições realizadas por ele, "n.d.a." revela um hobby de Arnaldo: fotografar placas e escritos urbanos nas cidades que visita. Parte da coleção, iniciada há mais de dez anos,foi publicada em forma de cartões postais.
A palavra escrita mesclada à imagem rende flagrantes inusitados, como no cartão que mostra uma caçamba, repleta de lixo, onde está escrita a palavra "divino". "É um esboço de um projeto que quero desenvolver mais profundamente no futuro: fazer um livro só com esses cartões, como se fosse uma história em quadrinhos."


N.D.A.

Autor: Arnaldo Antunes
Editora: Iluminuras
Quanto: R$ 44 (208 págs.)
Lançamento: hoje, às 18h30 , na Livraria da Vila (r. Fradique Coutinho, 915, tel. 0/xx/11/3814-5811)




Texto Anterior: Documentário em NY usa jogador para retratar paixão do traficante por futebol
Próximo Texto: Trecho
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.