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CLAUDE MONET
Movimento, nascido em 1874, com obra do pintor francês, provocou escândalo ao romper com o passado
Impressionismo iniciou arte moderna
MARIO CESAR CARVALHO
da Reportagem Local
Em 1874,
quando um grupo de pintores
organizou em
Paris a exposição que seria o
marco zero do
impressionismo, choveram ofensas e zombaria
nos jornais. "Papel de parede em
estado embrionário é mais bem-acabado do que esta marinha", escreveu o crítico Louis Leroy sobre
a tela "Impressões, Sol Nascente",
de Claude Monet.
"Não tem pé nem cabeça, nem
alto nem baixo, nem frente nem
trás", reclamou de outra tela.
Não é à toa que essas duas críticas viraram clichês quando se quer
atacar a arte moderna.
É que o impressionismo e Monet
inauguram procedimentos que seriam típicos do modernismo.
O primeiro desses procedimentos é o rompimento com o passado
-e o consequente escândalo.
A mais célebre instituição da arte
francesa na época eram os "salões", cujo júri tinha poderes de
formar e destruir reputações.
A mostra impressionista realizada em 1874 era independente do
salão. O rompimento não era só
político -era plástico, principalmente. Com os impressionistas, o
tema das telas e a moral que veiculam passam a ser questões secundárias.
O artista se volta para os componentes estruturais da pintura (luz,
transparência, composição), como se resolvesse examinar a obra
com um microscópio. O ápice dessa postura seria o cubismo.
É a fotografia, inventada na Europa em 1839, que leva o impressionismo a se afastar da suposta
representação da natureza e se voltar para a estrutura da pintura.
Com a invenção da câmera, retratar pessoas, paisagens urbanas
ou cerimônias torna-se um serviço
de fotógrafos. A pintura já não
precisa representar nada.
Como escreveu o crítico italiano
Giulio Carlo Argan, ela terá que
"mostrar como são obtidos, com
procedimentos pictóricos rigorosos, valores de outras maneiras irrealizáveis".
É a idéia de que a pintura é só
uma pintura, não precisa narrar
histórias (função do romance na
época) nem sugerir climas (função
da poesia).
Monet começou a se interessar
por arte em meio a esse impasse.
Ao chegar a Paris, em 1859, já havia um grupo de pintores que trocara o isolamento dos estúdios pela pintura ao ar livre.
Essa tentativa de captar a fugacidade de uma cena -seja uma onda quebrando ou um
pôr-do-sol- acabaria por determinar algumas das características
do impressionismo: a pincelada
rápida, sem qualquer retoque, o
uso das transparências e o abandono do claro-escuro (só em estúdio era possível perder dias fazendo a passagem de um claro no rosto para uma sombra no pescoço,
como faziam Rubens ou Tiziano).
A decomposição da cor
Esse culto à natureza, típico do
romantismo do século 19, seria seguido por uma dissecação da luz,
consequência das descobertas óticas do período.
Para Monet, a luz da Argélia, onde fez o serviço militar, faria as vezes da academia que ele nunca frequentou: "As impressões da luz e
da cor que ali recebi só viriam a
ordenar-se mais tarde, e nelas estava contido o germe de minhas
futuras pesquisas", disse.
Pesquisa, aí, não é uma palavra
acidental. Monet e os impressionistas viam a pintura como uma
coisa científica. Sabem que não
importa a cor que está na tela, mas
a que se forma no olho do espectador. Pintam uma paisagem com
borrões de azul e amarelo porque
conhecem o efeito das cores complementares: à distância, aquela
somatória resultará em verde.
O efeito da luz no decorrer de um
período sobre uma mesma paisagem seria o tema de várias séries de
Claude Monet.
O Masp expõe duas dessas séries:
quatro telas sobre uma ponte japonesa e 11 com as ninféias que o
pintor cultivava nos jardins de Giverny, cidade a 80 km de Paris.
Com as ninféias e seus reflexos
na água, é quase impossível enxergar um tema nas telas do pintor.
Ocorrem nessa série dois movimentos simultâneos que teriam
impacto sobre a arte do século 20:
Monet aproxima-se da abstração e
tira cada vez mais partido de uma
única cor.
A série das ninféias frisa também
a figura dúbia que Monet se tornaria no fim da vida: ela alia pesquisa
de luz e senso de mercado, já que
havia compradores ávidos por essas telas nos Estados Unidos.
Para o mercado, era a consagração do filho de um merceeiro de Le
Havre. Para Monet, a luz parece
ter cobrado um tributo de tragédia
grega: ele conviveu com uma catarata nos últimos anos de vida.
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