São Paulo, sábado, 27 de maio de 2000


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LITERATURA
No Irã, escritor recusou-se a visitar o túmulo do aiatolá Khomeini e rezou junto ao túmulo de um antigo xá
Paulo Coelho mistura religião e política

LUIZ ANTÔNIO RYFF
ENVIADO ESPECIAL A TEERÃ

A mistura entre política e religião, tão presente no Irã, marcou, na última quinta-feira, o segundo dia do escritor Paulo Coelho em Teerã. Mesmo que ele diga se esforçar para evitar essa mistura.
Anteontem, ele preferiu não posar em frente a muros com imagens do líder da Revolução Islâmica, o aiatolá Khomeini, e não quis visitar seu túmulo. "Isso daria uma conotação muito política à viagem", disse.
No entanto, ele tirou fotos em frente à antiga embaixada norte-americana em Teerã. Hoje, o prédio foi transformado em uma escola, de muros pichados com vários slogans e imagens contra os EUA -uma delas retrata a Estátua da Liberdade com uma caveira no lugar do rosto.
A ocupação da embaixada por estudantes iranianos logo após a revolução de 1979, que derrubou o xá Reza Pahlevi, marcou o ponto de partida da crise com os EUA -país que mais tarde seria apelidado de "grande Satã" por Khomeini.
Cerca de 90 pessoas foram feitas reféns, dentre as quais cerca de 60 norte-americanos. Os demais estrangeiros foram rapidamente libertados. Já os cidadãos dos EUA ficaram em cativeiro por mais de um ano.
Mas esse não foi o único momento político do segundo dia da visita do escritor. Coelho também foi ao cemitério onde estão enterradas as vítimas da guerra com o Iraque, cujos túmulos são decorados com flores de plástico e fotos dos mortos.
"Você não pode conhecer o Irã sem conhecer a dor do Irã", afirmou o escritor ao sair.
Os jornalistas, entretanto, não puderam acompanhar a visita ao cemitério.

Religião
A parte religiosa começou e encerrou o dia, um feriado no qual se lembra o 40º dia do aniversário do martírio de Hussein, terceiro imã xiita -filho de Ali, um dos principais profetas do islamismo.
Pela manhã, o escritor foi à cidade de Rey, um dos mais importantes lugares históricos do Irã. Embora antiga capital regional, foi destruída pelos mongóis e transformada em um subúrbio de Teerã. É lá que foi erigido o santuário do xá Abdel-Azim, local de demonstração de fervor religioso.
Coelho, que disse ter ficado impressionado com a "visão de fé" demonstrada pelos iranianos no local, rezou junto ao túmulo. E explicou o gesto: "A fé transcende as culturas", disse ele, que, à noite, encerrou as atividades, indo a uma cerimônia sufi.

Persépolis
Ontem, Coelho viajaria para Shiraz, no sul do Irã. Na cidade, onde ficará até a manhã de segunda, o escritor deve ter seu primeiro encontro com leitores e intelectuais.
Hoje está prevista uma visita às ruínas de Persépolis, antiga capital do Império Persa, que teve sua construção iniciada pelo rei Dario, por volta de 512 a.C., e foi destruída quando estava ocupada por Alexandre, o Grande, em 331 a.C.



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