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LITERATURA
No Irã, escritor recusou-se a visitar o túmulo do aiatolá Khomeini e rezou junto ao túmulo de um antigo xá
Paulo Coelho mistura religião e política
LUIZ ANTÔNIO RYFF
ENVIADO ESPECIAL A TEERÃ
A mistura entre política e religião, tão presente no Irã, marcou,
na última quinta-feira, o segundo
dia do escritor Paulo Coelho em
Teerã. Mesmo que ele diga se esforçar para evitar essa mistura.
Anteontem, ele preferiu não posar em frente a muros com imagens do líder da Revolução Islâmica, o aiatolá Khomeini, e não
quis visitar seu túmulo. "Isso daria uma conotação muito política
à viagem", disse.
No entanto, ele tirou fotos em
frente à antiga embaixada norte-americana em Teerã. Hoje, o prédio foi transformado em uma escola, de muros pichados com vários slogans e imagens contra os
EUA -uma delas retrata a Estátua da Liberdade com uma caveira no lugar do rosto.
A ocupação da embaixada por
estudantes iranianos logo após a
revolução de 1979, que derrubou
o xá Reza Pahlevi, marcou o ponto de partida da crise com os EUA
-país que mais tarde seria apelidado de "grande Satã" por Khomeini.
Cerca de 90 pessoas foram feitas
reféns, dentre as quais cerca de 60
norte-americanos. Os demais estrangeiros foram rapidamente libertados. Já os cidadãos dos EUA
ficaram em cativeiro por mais de
um ano.
Mas esse não foi o único momento político do segundo dia da
visita do escritor. Coelho também
foi ao cemitério onde estão enterradas as vítimas da guerra com o
Iraque, cujos túmulos são decorados com flores de plástico e fotos
dos mortos.
"Você não pode conhecer o Irã
sem conhecer a dor do Irã", afirmou o escritor ao sair.
Os jornalistas, entretanto, não
puderam acompanhar a visita ao
cemitério.
Religião
A parte religiosa começou e encerrou o dia, um feriado no qual
se lembra o 40º dia do aniversário
do martírio de Hussein, terceiro
imã xiita -filho de Ali, um dos
principais profetas do islamismo.
Pela manhã, o escritor foi à cidade de Rey, um dos mais importantes lugares históricos do Irã.
Embora antiga capital regional,
foi destruída pelos mongóis e
transformada em um subúrbio de
Teerã. É lá que foi erigido o santuário do xá Abdel-Azim, local de
demonstração de fervor religioso.
Coelho, que disse ter ficado impressionado com a "visão de fé"
demonstrada pelos iranianos no
local, rezou junto ao túmulo. E explicou o gesto: "A fé transcende as
culturas", disse ele, que, à noite,
encerrou as atividades, indo a
uma cerimônia sufi.
Persépolis
Ontem, Coelho viajaria para
Shiraz, no sul do Irã. Na cidade,
onde ficará até a manhã de segunda, o escritor deve ter seu primeiro encontro com leitores e intelectuais.
Hoje está prevista uma visita às
ruínas de Persépolis, antiga capital do Império Persa, que teve sua
construção iniciada pelo rei Dario, por volta de 512 a.C., e foi destruída quando estava ocupada
por Alexandre, o Grande, em 331
a.C.
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