São Paulo, sábado, 27 de maio de 2000


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Geração abarca 30 anos de Angola

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A "geração" do título do livro é a do próprio Pepetela e percorre 30 anos de história de Angola. Os personagens surgem jovens no primeiro capítulo, em Lisboa, no início dos anos 60. São estudantes universitários misturados a imigrados atrás de uma oportunidade. Crescem politicamente com a mobilização nas colônias dos movimentos de libertação.
Assumem a utopia disponível na época -a independência e a criação de nações socialistas-, aparecem a cair na clandestinidade e, depois, na guerrilha pelas florestas e savanas angolanas.
Nos dois capítulos finais, o desenlace: o desiludido Aníbal, um ermitão refugiado em Benguela que quer ficar longe do poder atual, o cadáver da utopia, à beira de uma praia. E o personagem Elias, um extremista de esquerda na juventude, que volta a Angola para liderar uma seita-negócio.
Aliado dos neoburgueses do país independente, Elias cobra dízimos dos fiéis em nome da libertação pelo prazer, prega o fim da religião careta, proibitiva, reforçadora da culpa da tradição judaico-cristã. Antes de fundar a Igreja da Esperança e da Alegria do Dominus para arrebanhar os descrentes da revolução angolana, Elias era um militante que advogava a violência necessária à constituição do poder, pelo menos em um dado momento.
Como no Leste Europeu, onde igrejas e máfias investem na promessa de fornecer (in)segurança ao povo, Angola também dá o seu contributo à desilusão política. (RN)


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