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Desastres nos libertam de pavor
DO "INDEPENDENT"
Se são homens que causam danos a outros homens, o resultado
pode ser qualificado como tragédia; mas se os danos são provocados por natureza, azar ou falhas
mecânicas, vemos um filme-catástrofe. E, nesse caso, temos autorização para nos divertir.
Nos primórdios do cinema,
quando os filmes eram impressos
sobre material altamente inflamável, à base de nitrato, o medo de
incêndios nos cinemas era legítimo e fundamentado. Mas os filmes dessa época se compraziam
em mostrar destruição, acidentes,
colisões -em outras palavras, os
ingredientes do desastre.
Uma razão subconsciente disso
era que essas cenas libertavam
nosso pavor paralisante de termos nossos carros riscados ou algum risco ou "batida" em nossas
consciências. No mundo cada vez
mais congestionado em que vivemos, nos tornamos cada vez mais
neuróticos quanto ao contato, os
danos e a imperfeição.
Sim, todos temos pavor das
grandes calamidades naturais.
Mas, como criminosos mirins e
muito seguros de nós mesmos,
zombamos também desses riscos
e pedimos ao cinema que nos
mostre tudo -e mais um pouco.
Assim como existe um encanto
grande nos filmes que mostram a
cidade moderna esvaziada ("Vanilla Sky" ou "Extermínio"), o
abandono da ordem também
contém grande beleza. E essa radiância está nos filmes-catástrofe.
Desde o final dos anos 90 assistimos à alta dos filmes-catástrofe
(pode ter superado até a onda dos
anos 70, quando tivemos "Inferno na Torre" e "Tubarão"). E pode ocorrer de uma concorrência
feroz surgir entre os desastres da
ficção e os desastres da vida real
que chegam até nós pela TV.
Tradução Clara Allain
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