São Paulo, quinta-feira, 27 de maio de 2004

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Desastres nos libertam de pavor

DO "INDEPENDENT"

Se são homens que causam danos a outros homens, o resultado pode ser qualificado como tragédia; mas se os danos são provocados por natureza, azar ou falhas mecânicas, vemos um filme-catástrofe. E, nesse caso, temos autorização para nos divertir.
Nos primórdios do cinema, quando os filmes eram impressos sobre material altamente inflamável, à base de nitrato, o medo de incêndios nos cinemas era legítimo e fundamentado. Mas os filmes dessa época se compraziam em mostrar destruição, acidentes, colisões -em outras palavras, os ingredientes do desastre.
Uma razão subconsciente disso era que essas cenas libertavam nosso pavor paralisante de termos nossos carros riscados ou algum risco ou "batida" em nossas consciências. No mundo cada vez mais congestionado em que vivemos, nos tornamos cada vez mais neuróticos quanto ao contato, os danos e a imperfeição.
Sim, todos temos pavor das grandes calamidades naturais. Mas, como criminosos mirins e muito seguros de nós mesmos, zombamos também desses riscos e pedimos ao cinema que nos mostre tudo -e mais um pouco. Assim como existe um encanto grande nos filmes que mostram a cidade moderna esvaziada ("Vanilla Sky" ou "Extermínio"), o abandono da ordem também contém grande beleza. E essa radiância está nos filmes-catástrofe.
Desde o final dos anos 90 assistimos à alta dos filmes-catástrofe (pode ter superado até a onda dos anos 70, quando tivemos "Inferno na Torre" e "Tubarão"). E pode ocorrer de uma concorrência feroz surgir entre os desastres da ficção e os desastres da vida real que chegam até nós pela TV.


Tradução Clara Allain


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