São Paulo, quinta-feira, 27 de maio de 2004

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TEATRO

Atriz junta textos seus a obras de escritores consagrados em "Coração Bazar", em que vive sete mulheres

Regina Duarte busca traduções de si em monólogo

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Dona de sorriso popularizado em quase 40 anos de interpretação assídua na televisão e bissexta no teatro, é com ele que Regina Duarte, 57, perpassa o seu primeiro espetáculo solo. Em nome de almejada maturidade, ela busca traduzir a si por meio da poesia e da prosa de alguns escritores.
"Coração Bazar" teve apresentações no interior paulista desde novembro de 2003, a partir de Barretos. No início do ano, ficou em cartaz cinco finais de semana no Sesc Santo André e estréia hoje para convidados em São Paulo, no Cultura Artística.
Abre com uma velha feiticeira em meio à fumaça, num vestido colorido e esvoaçante. Ela sorri, cantarola "Parabéns a Você" e logo critica a ditadura do tempo.
A personagem vai "trocar de pele" conforme o "jogo mágico" que propõe. Sucedem-se mulheres como Marilin, que só conhece o estado da felicidade na paixão; Cética, uma outra, que não acredita em relação e sucumbe ao individualismo; Deusinha, a rezadora que pede seu homem aos céus; e Adélia, mais vivida e serena, para quem o amor não é somente um sentimento forte.
São ao todo sete mulheres para as quais Regina Duarte empresta corpo e voz segundo a pena de escritores com os quais se identifica. Entre eles, Fernando Pessoa, Cecília Meirelles, Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes.
"Não estamos falando de recital, mas de teatro, de conflito de idéias", diz Duarte. Ela costurou o roteiro ao lado do diretor do monólogo, José Possi Neto.
A atriz se permite incluir três textos de sua autoria. O principal deles, simplesmente "Paixão", junta as dissonâncias de Marilin, Cética e Deusinha em versos/falas que talvez mais deixem entrever a atriz por trás das máscaras.
"É um caldeirão fascinante de conceitos sobre a morte, a vida, o tempo, a relação amorosa", afirma. Tudo sob a ótica pessoal, mas apoiada nos escritores que escolheu para "contracenar".
Sua última atuação no teatro foi em "Honra" (2000), da australiana Joanna Murray-Smith, sobre as angústias de uma mulher traída após 32 anos de casamento. No início dos anos 60, Regina Duarte fez teatro amador em sua cidade, Campinas (SP). Em 65, estreou profissionalmente sob direção de Antunes Filho em "A Megera Domada", de Shakespeare.
Não demorou muito, foi "absorvida" pelas telenovelas. Entre as montagens pontuais, está "A Vida É Sonho" (92), na qual interpretava o príncipe Segismundo no clássico do espanhol Calderón de la Barca, do século 17.
"Eu relutei em fazer um monólogo, não me sentia autorizada", afirma Duarte, encorajada pela literatura e por Possi Neto.
A hesitação procede. São poucos os atores que vencem o desafio de defender sozinho um personagem (ou vários). O crítico Sábato Magaldi, 77, é implacável. "Não gosto. O grande ator pode se dar a esse luxo uma vez ou outra, mas será mais importante sua participação num conjunto. O monólogo exige pouco dinheiro, e as pessoas se escudam nisso para dar vazão ao estrelismo."


CORAÇÃO BAZAR. Direção: José Possi Neto. Com: Regina Duarte. Onde: teatro Cultura Artística - sala Rubens Sverner (r. Nestor Pestana, 196, SP, tel. 0/xx/11/ 3256-0223). Quando: estréia hoje (convidados); de qui. a sáb., às 21h; dom., às 18h. Quanto: de R$ 40 a R$ 50. Patrocinador: Bradesco.


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