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TEATRO
Atriz junta textos seus a obras de escritores consagrados em "Coração Bazar", em que vive sete mulheres
Regina Duarte busca traduções de si em monólogo
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Dona de sorriso popularizado
em quase 40 anos de interpretação assídua na televisão e bissexta
no teatro, é com ele que Regina
Duarte, 57, perpassa o seu primeiro espetáculo solo. Em nome de
almejada maturidade, ela busca
traduzir a si por meio da poesia e
da prosa de alguns escritores.
"Coração Bazar" teve apresentações no interior paulista desde
novembro de 2003, a partir de
Barretos. No início do ano, ficou
em cartaz cinco finais de semana
no Sesc Santo André e estréia hoje
para convidados em São Paulo,
no Cultura Artística.
Abre com uma velha feiticeira
em meio à fumaça, num vestido
colorido e esvoaçante. Ela sorri,
cantarola "Parabéns a Você" e logo critica a ditadura do tempo.
A personagem vai "trocar de pele" conforme o "jogo mágico" que
propõe. Sucedem-se mulheres como Marilin, que só conhece o estado da felicidade na paixão; Cética, uma outra, que não acredita
em relação e sucumbe ao individualismo; Deusinha, a rezadora
que pede seu homem aos céus; e
Adélia, mais vivida e serena, para
quem o amor não é somente um
sentimento forte.
São ao todo sete mulheres para
as quais Regina Duarte empresta
corpo e voz segundo a pena de escritores com os quais se identifica.
Entre eles, Fernando Pessoa, Cecília Meirelles, Carlos Drummond
de Andrade, Vinicius de Moraes.
"Não estamos falando de recital,
mas de teatro, de conflito de
idéias", diz Duarte. Ela costurou o
roteiro ao lado do diretor do monólogo, José Possi Neto.
A atriz se permite incluir três
textos de sua autoria. O principal
deles, simplesmente "Paixão",
junta as dissonâncias de Marilin,
Cética e Deusinha em versos/falas
que talvez mais deixem entrever a
atriz por trás das máscaras.
"É um caldeirão fascinante de
conceitos sobre a morte, a vida, o
tempo, a relação amorosa", afirma. Tudo sob a ótica pessoal, mas
apoiada nos escritores que escolheu para "contracenar".
Sua última atuação no teatro foi
em "Honra" (2000), da australiana Joanna Murray-Smith, sobre
as angústias de uma mulher traída após 32 anos de casamento. No
início dos anos 60, Regina Duarte
fez teatro amador em sua cidade,
Campinas (SP). Em 65, estreou
profissionalmente sob direção de
Antunes Filho em "A Megera Domada", de Shakespeare.
Não demorou muito, foi "absorvida" pelas telenovelas. Entre
as montagens pontuais, está "A
Vida É Sonho" (92), na qual interpretava o príncipe Segismundo
no clássico do espanhol Calderón
de la Barca, do século 17.
"Eu relutei em fazer um monólogo, não me sentia autorizada",
afirma Duarte, encorajada pela literatura e por Possi Neto.
A hesitação procede. São poucos os atores que vencem o desafio de defender sozinho um personagem (ou vários). O crítico Sábato Magaldi, 77, é implacável.
"Não gosto. O grande ator pode se
dar a esse luxo uma vez ou outra,
mas será mais importante sua
participação num conjunto. O
monólogo exige pouco dinheiro,
e as pessoas se escudam nisso para dar vazão ao estrelismo."
CORAÇÃO BAZAR. Direção: José Possi
Neto. Com: Regina Duarte. Onde: teatro
Cultura Artística - sala Rubens Sverner (r.
Nestor Pestana, 196, SP, tel. 0/xx/11/
3256-0223). Quando: estréia hoje
(convidados); de qui. a sáb., às 21h; dom.,
às 18h. Quanto: de R$ 40 a R$ 50.
Patrocinador: Bradesco.
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