São Paulo, sexta-feira, 27 de maio de 2005

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Woody Allen duplica personagens e situações em "Melinda e Melinda", que estréia hoje nos cinemas brasileiros

A outra

Divulgação
Cena do filme "Melinda e Melinda", de Woody Allen


SHEILA JOHNSTON
DO "INDEPENDENT"

Radha Mitchell ainda se lembra de quando recebeu o telefonema. "Era Woody Allen perguntando se eu estava interessada em participar de seu filme", conta a atriz. "No começo, não soava como se fosse ele. Mas não se tratava de um trote, e fiquei animada."
Ela parece sincera. Mas seria possível presumir que uma ligação de Allen já não seja tão emocionante. O cineasta sempre foi famoso por conduzir seus elencos, especialmente as mulheres, rumo ao Oscar -como Diane Keaton, Mira Sorvino e Diane Wiest, que conquistou prêmios em "Hannah e Suas Irmãs" e "Tiros na Broadway". E seus atores ainda mantêm esperanças de atrair as atenções da Academia.
Mas seus filmes mais recentes -"O Escorpião de Jade", "Dirigindo no Escuro" e "Igual a Tudo na Vida"- não conseguiram cativar os críticos e a platéia. Portanto vem encontrando dificuldades para bancar suas produções.
"Faço filmes de pequeno orçamento e consigo as melhores pessoas que se disponham a trabalhar por pouco dinheiro", diz Allen. "Nunca tinha ouvido falar de Radha. Mas estava procurando uma atriz e, por acaso, assisti a um pequeno curta em preto-e-branco ["Four Reasons", escrito, dirigido e estrelado por Mitchell] e imediatamente a achei ótima."
Assim, uma atriz australiana não muito conhecida ficou com o papel. "Li o roteiro, e voltamos a conversar. Não nos encontramos pessoalmente até as provas de figurino. No primeiro dia de filmagem, eu tinha um monte de diálogos, e não houve discussão sobre o direcionamento do trabalho. Acabei imaginando que seria demitida", diz Mitchell.
Mas, pelo menos, ela recebeu um telefonema pessoal, ao contrário da co-estrela Amanda Peet, uma comediante em ascensão mais conhecida por ter vivido o par jovem de Jack Nicholson em "Alguém Tem que Ceder".
Ainda que Peet desempenhe um papel importante, falou com o diretor só no dia do teste de câmera, e seu único recurso foi pressionar Diane Keaton em busca de dicas sobre Woody Allen. Apesar de seus problemas recentes, o diretor aparentemente só precisa estalar os dedos para atrair talentos.
"Melinda e Melinda" começa como uma espécie de dueto, ou duelo, entre dois dramaturgos, um autor de comédias e o outro de tragédias. Eles adotam, para fim de discussão, a mesma premissa narrativa: uma mulher maluquinha vai como penetra ao jantar de um casal. A seguir cada um dos escritores desenvolve versão sobre o que acontecerá.
O filme intercala as duas narrativas, que compartilham locações, personagens e incidentes comuns, como alguém pulando da janela, um dueto de piano com um desconhecido sedutor e uma lâmpada de Aladim. Mas os elencos são totalmente diferentes.
Interpretando as duas Melindas, Mitchell foi a única presente ao longo de toda a filmagem. "Por mais que os outros se queixassem por não saberem do que o filme tratava, preferiram que eu não lhes contasse. No fundo, não queriam saber, porque é divertido, e também estranho, não saber."
Completamente idênticas, as Melindas se diferem pelos penteados. "Uma é mais dramática em sua forma de se expressar; a outra, mais brincalhona e terna", diz Mitchell. "Woody decidiu que aquilo que as diferenciaria não seria distinto demais, para facilitar a idéia de que elas poderiam ser a mesma mulher, com atitudes diferentes e fazendo escolhas opostas. Ambas foram interpretadas da mesma maneira, e precisei de tempo para digerir a idéia."
Allen tampouco se esforçou para distinguir visualmente as duas histórias. "Chegamos a pensar nisso, mas queria que fosse tudo igual, como as coisas são na vida. As mesmas circunstâncias podem ser hilariantes ou tristes, dependendo do ponto de vista", diz ele.
"George W. Bush, se você prestar atenção, é um homem muito divertido e oferece muitas risadas aos observadores. Mas, reeleito, serve como exemplo perfeito dessas ilhas de momentos cômicos dispostas contra um pano de fundo de muita, muita tragédia."
Pelo menos suas atrizes acreditam que ele tenha algo a dizer. Peet elogia: "Ele é adorável. Sempre fui obcecada por ele, e não me decepcionei. É um homem profundo, articulado e engraçado. E aparentemente ainda não compreendeu que também é sexy".
Tradução Paulo Migliacci

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