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César Charlone estréia na direção com o longa "El Baño del Papa"
DENISE MOTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE MONTEVIDÉU
Da explosão da violência à implosão de um sonho. Indicado ao
Oscar pela fotografia de "Cidade
de Deus" (2002), César Charlone
estréia como diretor de longa-metragem com "El Baño del Papa" (o
banheiro do papa), narrativa que
está filmando na fronteira entre o
Brasil e o Uruguai e que retrata a
frustração de toda uma cidade ao
ver-se tão pobre como sempre e
mais desesperançada do que nunca, após receber a visita de João
Paulo 2º.
Além de estar no comando das
câmeras, ao lado do roteirista
Enrique Fernández, Charlone
volta ao seu país natal para construir uma ficção elaborada a partir de histórias que de fato se verificaram em 1988, quando os habitantes de Melo, capital da Província fronteiriça de Cerro Largo, entram em polvorosa com a iminência da chegada do papa à cidade
uruguaia.
Acreditando que muitos não
hesitarão em cruzar a fronteira
para ver o sumo pontífice, preparam-se para receber 200 mil pessoas e sair da pobreza em que vivem. É assim que um silencioso
exército de visionários -entre
comerciantes, sacoleiros, operários, donas-de-casa e prostitutas,
os chamados "quileiros", que vão
até o Brasil para adquirir quilos de
produtos mais baratos- investe
o total de suas poucas economias
na compra de artigos a serem oferecidos às centenas de milhares de
turistas que, ao fim, nunca chegaram: apenas 8.000 fiéis apareceram.
"Achavam que a cidade ia se encher de gente, vinda de Bagé, de
Pelotas. Vamos falar da psicose
que toma conta desse lugar. Teve
um cara que vendeu a casa para
comprar mortadela", exemplifica
Charlone.
Foi a partir dessa galeria de intentos fracassados que Enrique
Fernández criou a figura central
do filme, um homem que planeja
algo diferente: construir um banheiro para atender à multidão
que lhe daria fortuna.
Os "quileiros" são personagens
que continuam a habitar a vida
real de Cerro Largo. Concentrados na localidade de Aceguá, onde apenas uma rua divide o Brasil
do Uruguai, vivem da venda de
lingüiças a botijões de gás e seguem transportando, de moto, o
que antes era carregado em bicicletas.
Apesar de o papa estar no título
do filme, Charlone faz questão de
enfatizar que o projeto é muito
anterior à morte de João Paulo 2º
e que sua participação na história,
além de secundária, não contará
com a interpretação de nenhum
ator. "Para recriar a presença do
papa, vamos usar imagens de arquivo. Ele marca apenas um
acontecimento. Depois que passou pela cidade, as pessoas diziam
que o único milagre que havia feito tinha sido transformar lingüiça
em prejuízo. Do que o filme trata
é de pessoas que estão desesperadas, que são muito pobres e que
vivem desse sonho que vai mudar
suas vidas", afirma.
Co-produção entre Brasil, Uruguai, Peru e França, "El Baño del
Papa" está orçado em US$ 600 mil
(cerca de R$ 1,8 milhão) e tem
previsão de estréia para o início
do próximo ano. O longa -que
conta com a brasileira O2 (de "Cidade de Deus") como co-produtora- recebeu recursos dos fundos internacionais Ibermedia e do
francês Fonds Sud, voltado para
filmes realizados por países em
desenvolvimento.
Da equipe do drama dirigido
por Fernando Meirelles, Charlone
levou ao Uruguai Chris Duurvoort, que está preparando os atores não acostumados com a linguagem cinematográfica e os
muitos que foram selecionados
entre a população local. Para filmar o dia da visita do papa, por
exemplo, o cineasta calcula que
serão utilizados 200 extras.
"Esse é um filme pauleira, ao
contrário do que se tem feito no
Uruguai. Estamos rodando aqui,
em Cerro Largo, e vamos filmar
em Montevidéu por seis semanas,
até o meio de junho."
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