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Antigo, "ER" é a maior surpresa de ranking da TV
Drama médico que está no ar nos EUA desde o ano de 1994 desbanca produções badaladas como "24 Horas" e "CSI"
TV paga evita divulgar audiência por causa da baixa penetração e do predomínio da TV aberta, mesmo entre assinantes
COLUNISTA DA FOLHA
O ranking das séries mais vistas da TV paga brasileira traz
algumas surpresas. A maior delas é a sexta posição ser ocupada por "ER", drama médico que
está no ar no Brasil desde 1995
e que já trocou de elenco algumas vezes. Foi "ER" que lançou
para o estrelato um George
Clooney ainda de cabelos pretos. O seriado é testemunha da
evolução da TV paga no país.
Apesar de antigo (o Warner
Channel atualmente exibe sua
13ª temporada), "ER" (ou
"Plantão Médico", como a Globo o batizou nos anos 90), teve
em abril mais público do que
séries badaladas, como "Desperate Housewives".
Os fãs de "24 Horas" e de
"CSI" provavelmente ficarão
frustrados com seus desempenhos. A primeira ocupa um modesto 18º lugar e fica atrás das
reprises de "The OC" e "House". Esperava-se mais de um
programa que foi saudado como revolucionário, por representar em cada temporada cada
minuto de um dia inteiro, como
se fosse em tempo real. Já
"CSI", o quinto programa mais
visto dos EUA, com mais de 20
milhões de telespectadores na
semana passada, aparece em
14º lugar no ranking do Brasil.
A terceira colocação para
"Criminal Minds", com 120.573
telespectadores em média por
episódio, não chega a ser surpreendente. A série, em que
agentes do FBI estudam a mente de criminosos, foi vista na semana passada por mais de 13
milhões de norte-americanos e
ficou em 17º lugar no ranking
de todos os programas mais assistidos dos EUA.
"Criminal Minds" foi a série
que, em março deste ano, desbancou a badalada "Lost". Até
então, ambas iam ao ar às quartas, às 21h. Para fugir da concorrência da série da CBS, a
ABC mudou "Lost" para as 22h.
Atual principal título do canal Sony, "Grey's Anatomy" é a
quinta série mais vista no Brasil, atrás de "Smallville". Nos
EUA, a produção é líder em seu
segmento e ocupa o segundo
lugar no ranking geral. Na semana passada, foi assistida por
22,572 milhões de norte-americanos, só perdendo para a edição das quartas-feiras de "American Idol". O programa é um
drama médico com cara de
"Friends", sobre um grupo de
amigos residentes de hospital.
"House", sétima série mais
vista no Brasil, foi o sexto da TV
americana na semana passada.
O ranking dos dez campeões de
audiência da TV paga tupiniquim se completa com "Desperate Housewives", "Cold Case"
e "Two and a Half Men", nesta
ordem.
TV envergonhada
A divulgação de audiência da
TV paga é uma questão dramática para o setor. A medição é
feita pelo Ibope desde 2001. Os
primeiros relatórios decepcionaram os canais, pois escancararam que o telespectador paga
por serviços de TV a cabo principalmente para ver emissoras
abertas. Mais de 70% da audiência dos assinantes vai para
a Globo, Record, SBT e Band.
No início, o Ibope divulgava o
alcance dos canais. Alcance é o
registro do total de telespectadores que sintoniza um determinado programa durante pelo
menos um minuto. É, portanto,
algumas vezes superior à média
de audiência do programa.
Com o tempo, o Ibope deixou
de divulgar à imprensa qualquer número de audiência de
TV paga. Hoje, só permite que
os canais divulguem os desempenhos de seus próprios programas, sem compará-los com
os da concorrência.
Mais recentemente, o instituto passou a recomendar aos
canais que só elaborem rankings trimestrais, e não mensais. Isso daria maior "consistência" aos números, pois é
grande a alternância de posições entre os programas mais
vistos. Por exemplo, um seriado que hoje é líder pode ser o
20º daqui a alguns meses,
quando passar a ser reprisado.
O grande problema da TV paga é a baixa penetração do setor
no Brasil, além do massacrante
domínio da TV aberta.
A TV paga está hoje em 4,54
milhões de domicílios no país
(menos de 10% do total).
A medição do Ibope é feita
apenas em São Paulo e no Rio.
Mas o mercado, para turbinar
os números, passou a projetar
esses dados para todo o país,
usando uma base bastante generosa, que considera que cada
domicílio tem 3,2 telespectadores. Assim, haveria 14.526.851
telespectadores no Brasil todo.
Se fossem considerados apenas
os telespectadores de São Paulo
e Rio, seriam 4,499 milhões de
pessoas. Isso faz muita diferença para um setor cuja série mais
vista tem apenas 1,5% da audiência.
A TV paga tem como características básicas a segmentação
e a fragmentação (um mesmo
programa é reprisado várias vezes, o que dispersa sua audiência). Alguns canais só trabalham os números do Ibope com
o recorte que os interessa. Ou
seja, só divulgam audiências
entre seus públicos-alvo (por
exemplo, de 18 a 34 anos).
O ranking obtido pela Folha
considera todos os públicos e
exclui todos os outros gêneros
de programas que não sejam
seriados -no geral, as maiores
audiências da TV paga costumam ser eventos esportivos,
estréias de filmes de sucesso e
programas infantis, sem contar
o imbatível "Big Brother Brasil".
(DANIEL CASTRO)
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