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crítica
Peça co-dirigida por Corveloni desafia elenco
SERGIO SÁLVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
A consagração internacional do cinema brasileiro já
não surpreende ninguém.
Para a ávida torcida local,
parece conseqüência inevitável do fortalecimento
de uma indústria que passa pelo aprimoramento
técnico e por um crescente
investimento, que, espera-se, acabe virando uma efetiva política cultural.
No entanto, quando se
consagra uma atriz como
Sandra Corveloni, que
nunca se destacou na mídia, parece haver um milagre de geração espontânea. "Que novela essa moça já fez?", deve estar se
perguntando muita gente.
Grandes atores, no entanto, não se fazem por
promoções de TV. Para
entender a arte de Corveloni, basta dar um pulo ao
Viga, teatro de bairro que
teimosamente aposta no
experimental, e ver
"Amargo Siciliano", co-direção dela com Eduardo
Tolentino, do grupo Tapa.
É um produto típico da
segunda geração do Tapa,
que sempre primou pela
lenta e sólida formação de
seus membros. Assim como em "As Viúvas", de
2000, primeira direção de
Corveloni a partir de três
peças de juventude de Arthur de Azevedo, "Amargo
Siciliano" se apóia em três
obras iniciais de Pirandello para constituir um
exercício para atores.
Não há nada de facilitador nem de hermético na
proposta. Ainda próxima
do melodrama, "Limões
da Sicília", a primeira peça, gira em torno de um
homem simples que investiu na carreira de cantora
de uma moça; quando ela
se consagra, ele ingenuamente vem para se casar
com ela. "Andorinho e Andorinha", uma história de
amores clandestinos, é
mantida em sua forma original de conto, com atores-narradores que desenham em aquarela os personagens.
"O Dever do Médico", mais elaborada,
aproxima-se da ironia
amarga do autor maduro.
Matéria-prima
Mais matéria-prima que
obra-prima, as narrativas
desafiam os atores a se
manterem simples, deixando entrever nas minúcias dos gestos e nos meio
tons a profundidade da angústia pirandelliana. Embora repita o par romântico que funcionou bem em
"Camaradagem", Patrícia
Pichamone e Tony Giusti,
e apesar de emoldurada
pelas vigas triangulares
que dão nome ao teatro, a
montagem atual não inova
cenicamente como a anterior -sobretudo porque o
texto não o exige.
Pode soar, portanto, como uma peça para especialistas, concebida para
uma platéia de atores que
vêm se aprimorar ao assisti-la. Não deixa de ser isso,
sem nenhum esnobismo.
Mas, aproveitando a
coincidência que faz ficção
e realidade ecoarem, tão
ao gosto da ironia de Pirandello, seria bom que a
generosidade do protagonista de "Limões...", marca
do Tapa, contagiasse também o grande público, e
ele viesse pressentir ainda
no anonimato estes atores
que, sem política cultural
consistente nem patrocínio, vão virar um dia os
melhores do mundo, como
Sandra Corveloni.
AMARGO SICILIANO
Quando: qui. a sáb., às 21h;
dom., às 19h; até 29/6
Onde: Viga Espaço Cênico (r. Capote Valente, 1.323, tel. 0/xx/
11/3801-1843; 14 anos)
Quanto: R$ 20 (qui., sex. e
dom.) e R$ 30 (sáb.)
Avaliação: bom
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