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Idéia é despersonalizar escrita
especial para a Folha
"Obra em Obras: o Brasil", título provisório do romance em
andamento de Décio Pignatari, é,
nas palavras do próprio autor,
mais uma etapa na revolução já
desencadeada por sua obra anterior, sobretudo poética, nas letras
brasileiras -e internacionais.
"Esse romance, num certo sentido, segue a linha clássica de escritores que começam líricos e terminam políticos", diz.
Obra política, portanto, já que o
autor se apresenta como um homem ideológico: "Não consigo
pensar nem ler o mundo sem
ideologia. Seja no mundo erótico-amoroso, no artístico-estético
ou no sócio-econômico".
E como bom publicitário (trabalhou por 15 anos com isso), Pignatari sabe muito bem que a alma do
negócio está em vender bem o seu
peixe: "A idéia é despersonalizar
o romance e a escritura".
Ué? E Beckett já não tinha proposto algo parecido há 40 anos?
"Ele foi discípulo do Joyce. Todos
eles fizeram isso. Até gosto dos escritores que não fazem teoria. No
Brasil tivemos de ser didáticos, fazer a teoria e a prática", responde.
Então, de que se trata exatamente essa "revolução"? "Não escrevo por instinto. Esse projeto de
prosa envolve uma complexidade
crescente. Primeiro, é preciso
aprender a escrever uma nova
prosa. É inútil tentar imitar Joyce
ou fazer o que foi feito pelos grandes prosadores", explica o autor,
que depois de passar três anos enfurnado num sítio, sem grandes
resultados, resolveu "mergulhar
de volta no inferno da vida".
Muito bem, mas, na prática, em
que consiste afinal esse "grande
romance que pretende superar
problemas individuais"?
"Não há um herói, um personagem. Não há um herói simplesmente individuado. O herói, se
existe, ou anti-herói, se chama
Brasil. É um romance de natureza
épica, no sentido oswaldiano, rabelaisiano, uma leitura crítica,
épica, irônica, cômica, grotesca e
lírica do Brasil", esclarece.
No final das contas, Pignatari
também já não se importa se seu
grande romance brasileiro vier a
ser chamado de "mais clássico":
"Goethe também foi mais clássico
no final da vida e nem por isso o
que escreveu foi menor. Existe um
experimentalismo implícito que
diz respeito à estrutura. Não estou
preocupado em fazer jogos de palavras. Estou interessado na estrutura da obra, onde acho que posso
fazer melhor do que Cortázar e
Cabrera Infante", arremata.
(BC)
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