São Paulo, Quinta-feira, 27 de Maio de 1999
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Ivo Mesquita quer novo perfil para a Bienal 2001


Novo curador diz que o núcleo histórico e o papel da instituição precisam ser repensados


CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local

O curador Ivo Mesquita é a bola da vez. Além de ser o responsável pela seleção de Nelson Leirner e Iran do Espírito Santo para a Bienal de Veneza, em junho; de curar com Adriano Pedrosa um segmento da megamostra de arte latino-americana prevista para 2000 no Centro Reina Sofia, em Madri; de ter ficado entre os cinco finalistas à curadoria da próxima Documenta de Kassel (venceu o nigeriano Okwui Enwezor); e de ser o único brasileiro entre os quatro curadores do projeto InSite 2000, na fronteira dos EUA com o México (nas cidades de San Diego e Tijuana), Ivo Mesquita foi apresentado na última sexta como o curador da 25ª edição da Bienal de São Paulo, em 2001. A anúncio aconteceu na casa do arquiteto Carlos Bratke, presidente da Fundação Bienal (leia texto abaixo).
Com tantos compromissos anteriores à Bienal de São Paulo, Mesquita ainda não tem decisões para o evento, mas sugere mudanças que darão um novo perfil para a Bienal. O curador questiona, por exemplo, o papel do núcleo histórico no evento (aquelas mostras de artistas consagrados que ficam no espaço climatizado, no terceiro andar do pavilhão).
"As exposições históricas precisam ser repensadas. Não faz mais sentido a Bienal fazer exposições históricas que não sejam sob um viés específico, como foi a antropofagia, no ano passado. Não faz sentido ficar trazendo grandes mostras. Isso quem deve fazer é Masp, MAC, MAM... As nossas instituições deveriam também produzir esse tipo de mostra para circular pelo mundo", disse o curador em entrevista à Folha.
Mesquita, que trabalhou na última edição da Bienal como curador do segmento dedicado aos EUA e Canadá na mostra "Roteiros", disse que pretende seguir o exemplo de Paulo Herkenhoff e trabalhar sobre um tema ou conceito que articule e dê coerência à mostra.
"Isso é fundamental ao se estabelecer um programa educativo para a mostra. A Bienal precisa repensar seus objetivos. É preciso pensar, por exemplo, em como integrar as representações nacionais dos países, que é um grande problema. Outro problema da Bienal é a falta de continuidade do ponto de vista do gerenciamento cultural, pois, a cada dois anos, troca-se o curador e se começa tudo de novo", disse.
Segundo o curador, a papel inicial da Bienal, quando foi criada, há 50 anos, era estabelecer um diálogo e um confronto entre a arte brasileira contemporânea e a produção mundial, mas isso já foi superado, pois a arte brasileira já conquistou seu espaço no mercado internacional. "Agora é o momento de pensar outras estratégias e programas para essa instituição. Ela promoveu esse confronto, mas ele já foi superado, ao ponto de termos um paradigma crítico produzido aqui, como é a antropofagia."
Mesquita acredita ainda que o "boom" da arte brasileira no exterior já passou, e que ela passa agora por um período de consolidação. "Agora é a vez da África", disse.


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