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NOVELA
Estrela do teatro brasileiro será uma das protagonistas da nova produção da Globo, como filha de Fernanda Montenegro
Bete Coelho acerta contas com a televisão
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Tão intensa na relação com o
teatro, a atriz Bete Coelho, 38, terá
a primeira grande experiência na
TV: será uma das protagonistas
da próxima novela das sete da
Globo, escrita por Silvio de Abreu
e dirigida por Jorge Fernando.
Bete estará no núcleo central de
"A Incrível Batalha das Filhas da
Mãe no Jardim do Éden", com estréia prevista para 27 de agosto.
Será Alessandra, uma das filhas
da mãe Lulu (Fernanda Montenegro). "É uma das personagens
mais malucas. Ela não tem limites", diz Silvio de Abreu.
Raul Cortez, Andréa Beltrão,
Cláudia Raia, Francisco Cuoco,
Tony Ramos e vários outros nomes do primeiro escalão da Globo
estão no elenco.
Há duas semanas, Bete esteve
em Roma para gravar na Fontana
de Trevi. Foi lá que teve certeza:
escolhera o melhor momento para acertar contas com a TV.
Folha - O que está achando da comédia "Filhas da Mãe"?
Bete Coelho - É uma comédia de
Silvio de Abreu e, portanto, inteligente. Existem personagens em
situações apropriadas à dramaturgia. É uma comédia com "C"
maiúsculo, não simples besteirol.
Folha - Como é sua relação com a
televisão?
Bete - Não tenho [risos". Sou
uma péssima telespectadora porque para mim televisão é um vício. Eu não tenho TV paga porque
senão fico a noite inteira assistindo, me vicio. Procuro evitar.
Folha - Mas o que acha da TV como veículo de comunicação?
Bete - A TV é substituta do fogo.
As pessoas ficam em torno do
aparelho conversando, comendo.
É popular e tem um poder genial.
O telespectador faz críticas na hora e desliga quando quiser. É muito democrática. No teatro as pessoas já são mais reprimidas.
Folha - Acha que a experiência
nesta nova novela será diferente
da que você teve em "Vamp"?
Bete - "Vamp" foi minha primeira novela. A personagem, Jezebel, era muito legal, mas eu não
estava preparada, não era uma
personagem adequada para eu fazer na primeira novela.
Folha - Mas foi um sucesso.
Bete - Mas o que é o sucesso? Eu
acredito no trabalho que a gente
faz de verdade. O que me interessa levar para a TV é uma mínima
faísca, que eu acho que o teatro
tem, que é o acesso ao inconsciente, a esse estado de loucura consciente. Acho muito possível que
de vez em quando a TV dê às pessoas essas faíscas. E tenho comigo
essa responsabilidade, a partir do
momento em que estou fazendo
um trabalho público. A TV tem
um poder absoluto, e hoje me
acho muito mais preparada para
isso. É algo que sempre evitei, de
que fugi de certa maneira.
Folha - Por que você fugia?
Bete - Hoje já tenho mais esclarecimentos em relação à minha
pessoa pública, à minha responsabilidade. Eu nunca achei que tinha muito o que dizer. Hoje acho
que o que tenho a dizer pode ser
interessante, comparando às coisas que são ditas e mostradas...
Folha - O que acha que levou a
Globo a escalar tantos figurões para esta novela?
Bete - Pelas conversas que tive
com Silvio de Abreu, Jorge Fernando, senti que o interesse é fazer uma novela de qualidade que
nos dê prazer, nos divirta.
Folha - Você não vê a iniciativa
como uma estratégia para alavancar a audiência no horário?
Bete - Ah, eu não quero pensar
nisso. Eu não estou indo por essa
estratégia, mas porque acho o
projeto legal, o elenco maravilhoso, minha personagem é o máximo. Se existe essa estratégia, isso é
problema da Globo.
Folha - Não gosta de pensar em
audiência?
Bete - Eu simplesmente não
penso, não é que eu não gosto. Se
for pensar em Ibope, fico louca,
não consigo trabalhar. Eu quero
não ter a obrigação de fazer bem,
mas quero fazer bem, estou me
preparando para isso. Espero que
dê certo. E em televisão isso significa audiência. Nesse sentido, o
Ibope é muito bem-vindo. Não
quero que dê traço [risos".
Folha - Tanto no SBT como na
Bandeirantes, você participou de
um momento de retomada da teledramaturgia, da tentativa de ampliar o mercado. Era esse o estímulo para que trabalhasse na TV?
Bete - Eu adoro novidades, riscos, novas experiências. A gente
tenta investir naquilo que acredita. E eu vivo de utopias. Essas iniciativas geraram movimento na
TV, melhoraram sua qualidade.
Folha - Você chegou a achar que
voltar para a Globo seria, de certa
forma, abrir mão dessas utopias?
Bete - Antes eu tinha um pouco
esse pensamento, essa idéia de
achar que eu poderia trair o meu
trabalho. Mas hoje penso o contrário, que eu estou somando. Temos que usar o poder da Globo,
porque é o que as pessoas vêem.
Então se tiver uma ceninha em
que possa mudar alguma coisa,
mesmo que seja só entretenimento, mas que seja construtivo, consistente, qualificado no sentido
artístico, isso já me satisfaz.
Folha - Você trabalharia com
mais frequência na televisão?
Bete - Acho que não. Sou uma
pessoa de teatro. O teatro me faz
viver. Não sou uma pessoa normal. Ninguém passa impunemente fazendo uma escolha dessas, achando que pode acordar,
viver, estudar, casar, ter filhos e
tudo certo. Na verdade dá tudo
errado [risos". Então como eu vou
abrir mão da única coisa que me
faz respirar e viver, que é o teatro?
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