|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MÚSICA
Show do grupo no Royal Festival Hall revela novo comportamento inglês
Public Enemy coloca em questão tradição britânica
MARK STEEL
DO "INDEPENDENT"
Fui ao mais estranho e perturbador show do ano, do magnificamente militante e explosivo grupo de hip hop Public Enemy.
São rappers que causaram indignação há 15 anos e que foram
proibidos em metade das cidades
dos EUA pois conclamavam a juventude do mundo a "lutar contra
o poder". Mas a coisa mais estranha sobre o show era o seu local, o
Royal Festival Hall, em Londres.
Era o verdadeiro Royal Festival
Hall, aquele mesmo onde eu, aos
dez anos, vi a orquestra da BBC
tocando "Pedro e o Lobo". Na
porta, e se oferecendo para me
acompanhar ao meu lugar, estava
uma senhora de uns 80 anos. A essa altura, me sentia parte de um
sonho e imaginei se ela diria algo
como "enfim você chegou, meu
caro, K32. Espero que toquem
aquela sobre lutar contra o poder
daquela porcaria dos EUA. É uma
noite ótima para essa".
Ao final de uma apresentação
com sirenes uivando e braços
voando em todas as direções, em
que o Public Enemy transpirou
ameaça, nós caminhamos para a
saída e passamos por aquela senhora, e ela sorriu uma comissária de bordo. A estranheza da situação tem algo a dizer sobre o
moderno Reino Unido. É semelhante ao que percebi quando servi em um júri, e saímos do tribunal para considerar nosso veredicto em um caso sobre tóxicos.
Um dos jurados mais velhos
apanhou a prova que estava sobre
a mesa e disse "acho que poderíamos dar um "pega" nisso antes de
começarmos". Logo ficou claro
que estávamos familiarizados
com a cultura dos tóxicos, e ninguém se horrorizou com a palavra
"drogas", como acontecia no passado. O Reino Unido a que os tradicionalistas sonham se apegar
está desaparecendo da memória
das pessoas, a um ponto que nos
permite ouvir rap em alto volume
no Royal Festival Hall. Não é porque as pessoas perderam a capacidade de se chocar, mas porque
muito do que parecia certo 15
anos atrás agora está em questão,
especialmente o direito dos poderosos de continuarem no poder.
Texto Anterior: Crítica: Comediante conduz subproduto da relação entre TV e cinema Próximo Texto: "It Ain't Safe No More"/I Wanna Go There: Busta Rhymes e Tyrese puxam o freio Índice
|