São Paulo, domingo, 27 de junho de 2004

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TELEVISÃO

Autor de "Senhora do Destino" compara o personagem Naldo a Garotinho "em seus momentos de megalomania"

Novela vai criticar políticos da Baixada

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Autor da novela "Senhora do Destino" -que estréia amanhã na Globo-, Aguinaldo Silva não segura comentários irônicos em relação ao ex-governador e atual secretário de Segurança do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho.
Conhecido por rechear suas histórias com críticas políticas, Silva mais uma vez cria um personagem para dar vazão a analogias com poderosos da vida real.
Em entrevista à Folha, criticou espontaneamente Garotinho ("se ele virar presidente, que Deus nos livre e guarde..."). Apesar disso, diz que Naldo (Eduardo Moscovis), um dos protagonistas de "Senhora do Destino", será um político "menor" que o ex-governador. "O que quero mesmo é, através dele, mostrar a praga do político clientelista, aquele que prolifera nas áreas menos favorecidas, principalmente no cinturão em torno de grandes metrópoles."
Mas afirma que, assim como Garotinho, Naldo, "em seus momentos de megalomania", também sonha com a possibilidade de chegar ao Planalto Central.
A assessoria de imprensa do ex-governador disse à Folha que ele não iria comentar as declarações de Silva. Segundo a assessoria, "Garotinho é totalmente a favor da liberdade de expressão e respeita a ficção". Na visão do ex-governador, de acordo com sua assessoria, as críticas do autor são fruto da democracia, e "a população se encarrega de julgar".
Aguinaldo Silva afirmou que seu "problema" com Garotinho "é porque ele tem um deus pessoal, que cismou de fazê-lo presidente da República". "Esse deus dele, que chamo de Deus Cobiça, não tem nada a ver com o Deus dos outros brasileiros. Mas reconheço que é um direito pessoal do deus de Garotinho querer elegê-lo. É para que esse milagre não se realize que todos devemos rezar."
O personagem Naldo, segundo Silva, é daquele tipo "que distribui benesses (pagas com o dinheiro dos outros, é claro) para posar de benfeitor do povo". "Na Baixada Fluminense, onde o núcleo central da trama está situado, existe um desses em cada esquina."
Em pleno ano de eleições municipais, Silva usará a novela para apontar técnicas eleitoreiras dos candidatos. "De repente, todos passaram a colocar outdoors nas ruas parabenizando mães no Dia das Mães, pais no Dia dos Pais. Claro que a troca das mensagens custa caro. Até que um deles mandou encher a Baixada de outdoors em que se lê: "Se hoje é o seu dia, receba os parabéns do seu amigo Fulano de Tal". Não é gênio?"
Com um roteiro que pretende "resgatar valores morais", "Senhora do Destino" reserva várias lições ao político do mal. "Ele vai levar muitas traulitadas [pauladas] por causa disso", diz Silva.

Lei eleitoral
Especialmente a partir do próximo semestre, o autor deverá ter cuidado com regras da lei eleitoral. Ele diz não ter recebido ainda recomendações da Globo, que elaborou um manual sobre o assunto em 2002. "Sei, por experiências anteriores, que uma novela que vai ao ar no período eleitoral tem de tratar o assunto de modo que não pareça favorecer este ou aquele candidato."
O autor diz que, "como cidadão", tem suas preferências políticas. "Mas não posso externá-las no trabalho. Como não consigo evitar a crítica aos políticos nas novelas, trato de fazê-la de modo geral e elejo como alvo essa figura nefanda que há em todo escaninho público do país: o demagogo, populista, falso amigo do povo."


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