São Paulo, sábado, 27 de junho de 1998

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"O Ébrio" ganha novas cenas em versão restaurada


Filme de 1946 estrelado pelo cantor Vicente Celestino retorna aos cinemas com trechos inéditos e recuperado, após dois anos de trabalho; produção ficou em cartaz sem interrupções até 1983, atraindo 8 milhões de pessoas


CRISTINA GRILLO
da Sucursal do Rio

"O Ébrio" está de volta. Depois de quase dois anos de um meticuloso trabalho de reconstituição, uma versão com trechos inéditos do filme estrelado pelo cantor Vicente Celestino chega aos cinemas do Rio no final de julho.
A nova versão de "O Ébrio" começou a tomar forma quando o pesquisador de cinema Hernani Heffner decidiu remexer os arquivos da Cinédia, produtora cinematográfica fundada nos anos 30 por Adhemar Gonzaga.
Lá estava o tesouro: fotogramas que mostravam cerca de 20 minutos de cenas inéditas de "O Ébrio", o primeiro megassucesso da indústria cinematográfica nacional.
Com a descoberta dos fotogramas arquivados, Heffner levantou a ponta de uma história pouco conhecida do cinema brasileiro. Lançado em 1946, o filme dirigido por Gilda de Abreu jamais havia sido exibido em sua versão original.
O motivo: por pressão dos produtores e exibidores, a diretora reduziu a duração de seu filme em pouco mais de meia hora. Da versão original, com duas horas e cinco minutos de duração, restaram 87 minutos.
Foi esta a versão que estreou nos cinemas e que, com algumas poucas variações, permaneceu em cartaz sem interrupções até 1983, sendo vista por 8 milhões de pessoas.
"Nos anos 40, as sessões de cinema não podiam ultrapassar uma hora e meia de duração. "O Ébrio' fugia dos padrões comerciais, e os exibidores e produtores não concordaram em exibi-lo em sua versão integral. Gilda teve que cortá-lo", conta Heffner.
Ao longo dos anos, várias remontagens foram feitas. As cópias pesquisadas por Heffner e utilizadas para auxiliar no trabalho de remontagem mostram "O Ébrio" com durações variando entre 83 e 87 minutos.
A versão que será lançada no final de julho deverá ser, de acordo com o pesquisador, a mais próxima possível da original, já que os cerca de cinco minutos que faltam são considerados perdidos.
"O filme foi muito exibido em cinemas com equipamentos precários pelo interior do Brasil. Muitas vezes a cópia arrebentava e era remendada de qualquer jeito, com perda de fotogramas", explica Alice Gonzaga, filha do produtor Adhemar Gonzaga e diretora da Cinédia.
Para recuperar "O Ébrio", foram gastos cerca de R$ 300 mil.
Parte dos recursos veio da Riofilme, empresa municipal de fomento à produção e distribuição de filmes. O restante, da própria Cinédia.
Popular
Para recuperar o investimento, Alice Gonzaga pretende exibir o filme em todo o país.
"O Ébrio' não é um filme cult. É um filme popular, que durante anos manteve o recorde de público no Brasil e que por isso deve ser relançado em todo o país", diz a produtora.
A experiência de restauração do filme de Gilda de Abreu pode ajudar na recuperação de outros filmes representativos da indústria cinematográfica nacional.
Alice Gonzaga afirma que existem nos arquivos da Cinédia cerca de 20 filmes que podem ser restaurados nos moldes do que foi feito com "O Ébrio".
Um deles é "Alô, Alô, Carnaval" (1936), dirigido por Adhemar Gonzaga.
Heffner encontrou nos arquivos da Cinemateca do MAM (Museu de Arte Moderna) sete minutos de fotogramas que foram cortados da versão final.
"O difícil é convencer os investidores de que compensa investir na remontagem de filmes clássicos. Nos EUA isso já é moda. Os empresários daqui poderiam copiar essa moda", diz Alice Gonzaga.



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