São Paulo, sábado, 27 de junho de 1998

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CINEMA
Produção retrata vida do industrial brasileiro do século 19
Sérgio Rezende leva filmagens de "Mauá" ao Rio de Janeiro

MARIANE COMPARATO
enviada especial ao Rio de Janeiro

Quem passasse no sábado passado pela praça Floriano, na região central do Rio de Janeiro, não notaria nada de novo. O movimento de sempre, mais algumas reformas na Câmara dos Vereadores e o Teatro Municipal se preparando para outro espetáculo. Ninguém diria, se não cruzasse a porta de entrada da Câmara, que ali está sendo filmado o mais novo longa-metragem de Sérgio Rezende: "Mauá, o Imperador e o Rei". É a quarta empreitada do diretor em filmes sobre períodos da história do Brasil -os outros três foram "O Homem da Capa Preta", "Lamarca" e "Guerra de Canudos"- e quarta parceria com o ator Paulo Betti. "Tenho me interessado por personagens da história brasileira, pessoas que tiveram trajetórias extraordinárias", diz Rezende. Irineu Evangelista de Souza, o Visconde de Mauá, viveu no século 19 e foi a maior fortuna do Império. Empresário e industrial, fundou o Banco do Brasil e permitiu a construção da primeira ferrovia do país, ligando a cidade do Rio de Janeiro a Petrópolis. Segundo Betti, o roteiro não se inspirou de nenhuma biografia em especial sobre Mauá, como a de Jorge Caldeira ("Mauá, Empresário do Império"). "É mais um apanhado de tudo o que se escreveu sobre ele", diz. O roteiro punha em cena o Visconde de Mauá (Paulo Betti) e o Visconde de Feitosa (Othon Bastos). Mauá entra precipitadamente na sala de Feitosa para protestar contra a quebradeira dos bancos brasileiros causada pelo anúncio do governo de que abrirá um banco estatal, questionando a credibilidade dos demais bancos. Feitosa seria uma personificação do Visconde de Itaboraí, ministro da Fazenda na época de Dom Pedro 2

o, que era movido pela idéia de que a atividade bancária deveria ser monopólio do Estado.
"Nós resolvemos concentrar os opositores de Mauá no Visconde de Feitosa", diz Joaquim Vaz de Carvalho, produtor do filme. "O governo tem uma atitude claramente contra o Visconde de Mauá, e Feitosa tem uma influência muito grande sobre Dom Pedro 2o", explica Paulo Betti.
Orçado em R$ 6 milhões, o filme tem cara de superprodução -a começar pela variedade dos locais de filmagem: Liverpool, na Inglaterra, Vassouras e Arroio Grande, no Rio Grande do Sul, Petrópolis e Rio de Janeiro.
Na sala da Câmara dos Vereadores, no bairro da Cinelândia, que só pode ser usada pela produção durante o fim-de-semana, havia móveis da época de Dom Pedro 2o e Dom João 6o e até um retrato do imperador. Vinte técnicos, além dos atores e do diretor, transitavam pelo set de filmagem.
Mais uma vez interpretando um personagem histórico em um filme de Rezende, Betti diz que é apenas coincidência. Segundo ele, a diferença é que em "Guerra de Canudos" era um personagem de ficção num contexto real, o universo de Antônio Conselheiro, e em "Mauá..." é um personagem histórico numa história de ficção, já que diversos aspectos desconhecidos de sua vida, como as relações com sua mulher, May (interpretada por Malu Mader), foram introduzidos.
"O interessante é estar vivendo personagens que são da mesma época, mas de dois extremos: um pobre, no sertão, e o outro rico, em Liverpool", completa.
Betti tem atuado bastante em cinema ultimamente. Depois de Mauá, o ator irá encontrar Anthony Quinn em Curitiba para filmar "Oriundi", de Ricardo Bravo.
"Espero poder fazer cada vez mais cinema, para equilibrar com minhas atuações para a televisão."



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