São Paulo, quinta-feira, 27 de julho de 2000


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Grupo recifense lança "Por Pouco", quarto álbum
Mundo Livre S/A?

Divulgação
Banda clone, de atores, criada para dar cara mais vendável ao antimercadológico Mundo Livre S/A



Banda clone substitui, em clipes e na TV, grupo "sem saco de posar de pop star': vocalista black power, loiras e galãs


PEDRO ALEXANDRE SANCHES
ENVIADO ESPECIAL A RECIFE

Sai de cena a banda recifense Mundo Livre S/A. O grupo que buscou renovar o pop brasileiro nos 90 com o mangue beat lança seu quarto álbum, "Por Pouco", querendo sumir.
Para fazê-lo sem se extinguir, criaram andróides da espécie Silichomo Digital Sapiens -em linguagem mais realista, cinco atores que farão as vezes da banda em videoclipes e programas de TV.
Mero golpe de (anti)marketing? Eles têm lá suas explicações. Certa vez, em São Paulo, foram a um boteco comprar almoço a R$ 2,50 o prato. "Vocês estão em que obra?", confundiu-se o atendente.
"Isso fez a gente refletir", diz o cabeça da banda, Fred Zero Quatro, 38. "Não há banda com menos saco de posar de pop star que nós. Já conhecemos a indústria. Os departamentos de moda das gravadoras parecem mais ativos do que os artísticos."
Aí surgiu a banda clone. "A gente vai continuar aparecendo, mas como o motorista, o segurança, o roadie, sem fazer pose. Foi uma surpresa o departamento de marketing da gravadora aceitar."
Fora isso, a banda mantém a relação de descaminhos com o mercado. "A música de trabalho seria "Mexe Mexe", inédita de Ben Jor, mas a escolhida pela gravadora acabou sendo "Melô das Musas". Mas é um medley de duas músicas do nosso primeiro disco, há seis anos. Antes diziam que não eram comerciais...", diz Fred.
E como se explica a releitura, por uma banda "rebelde", do standard "Garota de Ipanema"? "Gravamos para um projeto especial da gravadora, e eles gostaram. Foi um crédito para que o mesmo produtor da faixa, Bid, produzisse o nosso disco", justifica o baterista Tony Regalia, 28.
"De início Bid havia sido descartado", lembra Fred. "Diziam que "brodagem" não funciona." Manuel Barenbein, produtor dos discos tropicalistas, foi cogitado, mas "teve rejeição absoluta da gravadora, por seu afastamento grande, de 20 anos sem produzir".
Aí houve "Garota de Ipanema". "Nunca fomos ligados a esse tipo de bossa nova, foi mais um balão de ensaio mesmo", diz Fred. Por que ficou no disco então? Bem...
É assim que sua banda, em atividade desde 84, mas só surgida para a mídia dez anos depois, hoje equilibra doses da rebeldia de sempre e sinais de domesticação.
Se inclui manifesto meio guerrilheiro no encarte, exclui efeitos eletrônicos testados no álbum anterior, "Carnaval na Obra" (98). "Hoje em dia até Sandy & Júnior e Daniela Mercury gravam música eletrônica", defende-se Fred.
Se ataca o capitalismo em "Batedores", Fred aceita, pela primeira vez, subir seus vocais em relação ao instrumental. "Não sou um intérprete, minha voz é ridícula." E o Homo sapiens e seu replicante Silichomo Digital Sapiens se confrontam sob a mesma carcaça.


O jornalista Pedro Alexandre Sanches viajou a convite da Abril Music


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